Com apoio de Alckmin, Daniel Santos tenta romper hegemonia Barbalho no Pará


Por: Fabyo Cruz

30 de outubro de 2025
Com apoio de Alckmin, Daniel Santos tenta romper hegemonia Barbalho no Pará
O pré-candidato ao Governo do Pará Daniel Santos e o vice-presidente Geraldo Alckmin (Reprodução Flickr Vice-presidência e Arquivo pessoal | Composição: Paulo Dutra/CENARIUM)

BELÉM (PA) – À medida que a disputa eleitoral de 2026 se aproxima, o prefeito de Ananindeua (PA), Daniel Santos (PSB), intensifica a articulação política com um objetivo considerado ambicioso: quebrar a hegemonia da Família Barbalho no Pará. Apostando na força institucional do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), que é do mesmo partido de Daniel, o pré-candidato ao Governo do Estado tenta se consolidar como o principal nome de oposição ao governador Helder Barbalho (MDB), que mantém uma ampla rede de influência política e econômica no Pará.

A CENARIUM apurou que Daniel busca equilibrar a batalha que trava para romper a hegemonia dos Barbalho em duas frentes: fortalecer sua imagem administrativa – marcada por obras e programas em Ananindeua, segunda cidade mais populosa do Pará – e garantir sustentação institucional em Brasília, por meio da relação com Alckmin e com a deputada federal Alessandra Haber (MDB), que é também sua esposa e primeira-dama do município.

Um levantamento realizado pelo Instituto Doxa, entre os dias 21 e 24 de outubro, mostra Daniel Santos na liderança da corrida pelo Governo do Pará, com 32,6% das intenções de voto. Em segundo lugar aparece a vice-governadora Hana Ghassan (MDB), com 18,8%, seguida de perto pelo deputado federal Éder Mauro (PL), com 17,3%. O ex-senador Paulo Rocha (PT) soma 5,4%, enquanto Araceli Lemos (Psol) tem 1,6%.

Pesquisa Doxa sobre intenção de votos (estimulada) para o Governo do Pará (Foto: Reprodução)

No cenário sem Éder Mauro, Daniel amplia a vantagem e chega a 39,3%, contra 21,3% de Hana. Paulo Rocha sobe para 6,5% e Araceli chega a 2,4%. A pesquisa ouviu dois mil eleitores nas seis mesorregiões do Pará – Metropolitana, Nordeste, Sudeste, Sudoeste, Baixo Amazonas e Marajó – e tem margem de erro de 3,5 pontos percentuais.

O levantamento também avaliou a gestão de Helder Barbalho, que mantém 65% de aprovação e 28% de desaprovação. Os números indicam que, embora o governador ainda detenha alto capital político, Daniel Santos surge como o principal adversário do grupo Barbalho para 2026.

Para o cientista político e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Edir Veiga, as atuais pesquisas eleitorais devem ser interpretadas com cautela. Segundo ele, neste primeiro momento, tratam-se de levantamentos iniciais, financiados por diferentes grupos e ainda fora do controle do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“O TSE só passa a controlar as pesquisas a partir de janeiro de 2026. Nenhuma pesquisa estadual é bancada apenas por um instituto, porque elas têm um custo muito alto – sempre há um financiador. Por isso, todas as pesquisas divulgadas agora servem apenas como referência. Há números para todos os gostos”, afirmou.

Polarização

A disputa de 2026 tende a ser marcada por uma forte polarização entre Hana Ghassan Tuma, atual vice-governadora e candidata apoiada por Helder Barbalho, e Daniel Santos, que tenta se apresentar como uma alternativa ao domínio do MDB no Estado.

Hana Ghassan Tuma é atual vice-governadora e candidata apoiada por Helder Barbalho (Bruno Cecim/Agência Pará)

“É inegável que o governador controla uma estrutura política e administrativa muito ampla – cerca de 100 prefeituras, dois terços da Assembleia Legislativa e boa parte das alianças com o agronegócio e o setor minerário. O poder político e econômico do governo é enorme, especialmente em um Estado pobre, onde a máquina clientelista tem grande força”, avaliou Veiga, ressaltando que o Pará vive um momento de alta arrecadação e investimentos em função da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em novembro na capital paraense.

Segundo o analista, Daniel deve encontrar dificuldades para expandir a influência para o interior, onde o MDB mantém capilaridade histórica. Ainda assim, ele deve ter bom desempenho na Região Metropolitana, área onde sua gestão em Ananindeua é mais visível e seu nome é mais reconhecido.

Alckmin como escudo político

Embora o apoio de Geraldo Alckmin seja considerado relevante para a campanha, a avaliação é que o vice-presidente não tem peso eleitoral direto no Pará. Edir Veiga aponta que a presença de Alckmin serve principalmente como um “escudo administrativo e jurídico” para o prefeito. “Ele [Alckmin] não tem votos no Pará, diferente do presidente Lula (PT), mas sua relação com Daniel funciona como uma proteção em Brasília, ajudando o prefeito a lidar com processos e questões administrativas”, analisou o professor.

Edir Veiga é cientista político e professor da Universidade Federal do Pará (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)

Um aliado do grupo político de Daniel Santos, ouvido pela CENARIUM, confirmou que boa parte da articulação em Brasília passa pela deputada federal Alessandra Haber (MDB), esposa de Daniel e primeira-dama de Ananindeua.

Segundo o relato, ela atua como ponte entre o município e o governo federal, garantindo repasses de emendas e acesso a editais e fundos. Em visita recente a Brasília, ao lado de Alessandra Haber, Daniel Santos convidou Geraldo Alckmin para visitar Ananindeua, o que pode acontecer durante a COP30, entre os dias 10 e 21 de novembro deste ano.

O gabinete de Alessandra Haber é apontado como responsável por viabilizar obras com recursos federais, como a Escola do Futuro, a biblioteca digital do Ginásio de Esporte Dr. Almir Gabriel, o “Abacatão”, e parte da estrutura do Parque Cultural Vila Maguary, além de ações sociais voltadas a mães de crianças autistas e famílias em vulnerabilidade. Alessandra divide a rotina entre Brasília e o município, com atendimentos institucionais às quintas-feiras e visitas frequentes ao interior do Estado.

Daniel Santos, Alessandra Haber e Geraldo Alckimin, em Brasília (Reprodução/Redes sociais)
Rompimento com Helder Barbalho

O relacionamento entre Daniel Santos e Helder Barbalho, que já foram aliados, se rompeu após as eleições de 2022, quando o prefeito de Ananindeua foi criticado por apoiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O episódio resultou em um afastamento político que ainda ecoa.

Helder Barbalho ao lado de Daniel Santos (Reprodução/Redes sociais)

Desde então, Daniel Santos tenta equilibrar sua imagem entre o eleitorado conservador e o centro político representado por Geraldo Alckmin. Para Veiga, essa “ambiguidade ideológica” pode ser um dos maiores desafios do pré-candidato.

“Ele precisa atrair a base bolsonarista no segundo turno, mas sem perder o apoio institucional do PSB e de setores moderados. Essa estratégia é arriscada e pode gerar resistência tanto na esquerda quanto na direita”, afirmou.

Denúncias e ações judiciais

Daniel Santos também enfrenta denúncias e ações judiciais que, segundo aliados, ele tem conseguido neutralizar ao se apresentar como vítima de perseguição política. “Ele conseguiu transformar essas acusações em narrativa de resistência, especialmente entre sua base orgânica e em parte do eleitorado progressista”, observou o cientista político. O político é alvo de investigações por suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro e fraudes em licitações.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu seu afastamento em processo no Superior Tribunal de Justiça (STJ), enquanto o Ministério Público do Pará (MP-PA) realizou operações em endereços ligados a ele, apurando irregularidades que somariam milhões de reais. Entre os casos investigados estão a compra de uma casa de praia em Fortaleza por R$ 4,1 milhões, suspeita de ter sido paga com depósitos de empresas contratadas, e o uso de um jatinho pertencente a uma empresa que presta serviços à prefeitura.

O Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJ-PA) chegou a afastá-lo do cargo, mas ele retornou por liminar do STJ. Também há apurações sobre o crescimento de seu patrimônio e possível desvio de recursos na área da saúde. Daniel Santos tem alegado ser vítima de perseguição política em resposta às denúncias e à decisão de afastamento cautelar do cargo.

Em publicações nas redes sociais e notas oficiais, ele e a comunicação da prefeitura classificam as investigações como ações de cunho político, menciona que luta para “derrotar essa ditadura” no Estado e que o afastamento foi baseado em uma “história mentirosa”, sem que tivesse oportunidade de se defender.

Daniel Santos chegou a afirmar que pretende “libertar o Pará de uma ditadura que engana o povo e persegue quem não se ajoelha aos seus desmandos”. O Ministério Público do Pará, responsável pela Operação Hades, rebateu as declarações, afirmando que as investigações se baseiam em indícios consistentes de crimes como fraude em licitações e lavagem de dinheiro.

Cenário ainda indefinido

Embora a vantagem na última pesquisa Doxa e a proximidade com Geraldo Alckmin fortaleçam a pré-candidatura de Daniel Santos, o grupo Barbalho ainda detém o maior aparato político e financeiro do Estado. Para o cientista político, Helder Barbalho deve usar a máquina estadual e a aliança com o governo federal para impulsionar sua candidata, Hana Ghassan Tuma.

Edir Veiga diz que a tendência é que a disputa se mantenha polarizada, com Daniel e Hana avançando para um possível segundo turno. “A eleição de 2026 no Pará será um dos confrontos mais relevantes da região Norte. Helder tem resultados e estrutura, mas Daniel é o único nome capaz de desafiar seu domínio”, finalizou.

Leia mais: Eleições 2026: pesquisa mostra embate entre bolsonarismo e barbalhismo no Pará
Editado por Jadson Lima

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