Com Bolsonaro no PL, futuro dos governadores da Amazônia para 2022 é incerto, afirmam especialistas

Com a ida de Bolsonaro ao PL, nasce uma incógnita sobre o futuro de governadores aliados do presidente, visando às eleições. (Ygor Fábio Barbosa/Revista Cenarium)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Com a iminente filiação do presidente Jair Messias Bolsonaro (Sem partido) ao Partido Liberal (PL), em uma cerimônia programada para acontecer no dia 22 deste mês, em Brasília, nasce uma incógnita sobre o futuro dos apoiadores do chefe do Executivo, visando às eleições de 2022, segundo especialistas consultados pela CENARIUM. Na Amazônia, nenhum dos nove governadores é da mesma sigla do mandatário do País, mas seis deles são considerados aliados e dois são do ex-partido de Bolsonaro, o PSL.

Entre os governadores da Amazônia que apoiam o presidente estão Wilson Lima (PSC-AM), Gladson Cameli (Progressistas-AC), Antonio Denarium (PSL-RR), Marcos Rocha (PSL-RO), Mauro Mendes (DEM-MT) e o governador em exercício do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Sem partido e ex-PSL). Entre os opositores estão: Helder Barbalho (MDB-PA), Waldez Góes (PDT-AP) e Flávio Dino (PSB-MA).

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Da esquerda para a direita: os governadores Wanderlei Barbosa, Mauro Mendes, Gladson Cameli, Antonio Denarium, Wilson Lima, Helder Barbalho, Marcos Rocha, Flávio Dino e Waldez Góes. (Ygor Fábio Barbosa/Revista Cenarium)

Para o advogado, professor e cientista político Helso Ribeiro, os governadores não precisarão estar no mesmo partido do presidente para receber apoio de Bolsonaro. Diferente do sistema proporcional do processo eleitoral brasileiro, em que para ser eleito os candidatos dependem dos quocientes eleitoral e partidário, no majoritário é eleito aquele que obtiver o maior número dos votos apurados.

Veja também: Aliados de Bolsonaro no AM aguardam filiação para definir futuro nas eleições de 2022

“Entendo que como a eleição para governo adota o sistema majoritário, não necessariamente os governadores que querem trazer na sua candidatura a ‘etiqueta Bolsonaro’ precisarão estar no mesmo partido do presidente. Acredito até que eles possam mudar, até apostaria, que eles mudariam de partido, mas visando a ter mais tempo de televisão e à possibilidade de recursos eleitorais”, destacou.

Cientista político, Helso Ribeiro é professor e advogado. (Arquivo pessoal/Reprodução)

À CENARIUM, Ribeiro salientou, nesta sexta-feira, 12, que uma das características da democracia representativa do Brasil é a fragilidade da fidelidade a partidos políticos, visto que os candidatos costumam “trocar de casa” em busca de benefícios que lhes convêm. Para o cientista político, um candidato a presidente com forte influência eleitoral, como Bolsonaro, tende a atrair para o seu partido, naturalmente, pessoas que não têm essa fidelidade partidária.

“Um exemplo foi o PSL, na eleição de 2018, em que era um partido nanico e acabou atraindo para si muitos nomes, elegendo também muitos nomes, entre senadores e governadores. Acredito que, agora, a situação é um pouco distinta. Vai ser o nono partido do presidente [o PL], e eu não sei se ele está com essa popularidade toda, nesse momento. Mas, um candidato a presidente sempre traz consigo um séquito de pessoas que tentam pegar carona na sua popularidade”, frisou.

Boa aposta?

Mas, até quando mudar de partido visando às eleições é uma boa estratégia? Na avaliação de Helso Ribeiro, existem casos em que a migração partidária ajuda determinado candidato, mas, em outras ocasiões, isso não acontece, justamente, por conta do quociente eleitoral.

“Nós sabemos que existe, principalmente para as candidaturas proporcionais (deputado federal e estadual), o quociente eleitoral. Então, dois candidatos fortes em um partido fraco é quase certo que somente um vai ser eleito. Há estudos que mostram que, caso você fosse para um determinado partido, seria mais fácil de você ser o primeiro da lista para atingir o quociente eleitoral, só que isso não é tão exato. Para alguns, às vezes, isso cai bem”, enfatizou.

O cientista político acredita que a incógnita com a migração de políticos surge com a existência das federações partidárias, nova medida que passa a valer a partir das Eleições 2022, permitindo que partidos se organizem em uma federação e atuem em uma só legenda. Esse mecanismo, cuja Lei 14.208/21 foi publicada no Diário Oficial da União em 29 de setembro deste ano, ocorre de forma similar como nas coligações partidárias, somando tempo de TV e se unindo na hora do cálculo do quociente eleitoral.

“A gente ainda não sabe quais partidos vão se federar, mas eu acredito que teremos algumas federações e, mais uma vez, vai ser uma grande incógnita, porque você pode mudar de partido e aquele partido ir para uma federação”, refletiu Ribeiro.

Estratégia

Na avaliação do também cientista político Márcio Araújo, a filiação do presidente ao PL é estratégica, mesmo que distorcida do seu discurso de combate à corrupção e de ser contrário ao sistema. O especialista lembra, contudo, que o PL sempre foi um forte partido e organizador do “sistema”.

“O cálculo político é o da probabilidade do que resultará a disputa provável entre Moro e Bolsonaro. Destaco a disputa no âmbito da direita. O conforto do presidente é estar com a ‘mão na máquina’ e, agora, não aventurar com um partido inexpressivo, como se lançou no último pleito”, pontuou Araújo à CENARIUM, referindo-se ao ex-partido do presidente, o PSL.

O cientista político Márcio Araújo afirma que a filiação do presidente ao PL é estratégica (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Márcio Araújo ressalta que, se o ex-juiz Sergio Moro abraçar esse mesmo discurso, atrairá os votos dos eleitores insatisfeitos com Bolsonaro. O cientista político reforça ainda que a relação próxima e o apoio dado pelo presidente Bolsonaro, possível candidato pelo PL em 2022, se dará menos com olhos no sistema de aliança partidária nacional e muito mais nos acordos de contexto local.

“No Amazonas, o Coronel Menezes tende a acompanhar o capitão. Mas, em nível nacional, o próprio PSL está numa aliança com os Democratas (DEM) formando uma nova sigla, a ‘União Brasil’. O PSL fez um deputado federal, delegado Pablo, que terá que mudar de partido também para andar na campanha com o presidente. O deputado Marcelo Ramos, que é do PL, deixará o seu atual partido? As questões sem respostas se acumulam”, comenta o especialista.

Para Araújo, fazer o cálculo de continuar buscando apoio junto ao presidente e ao seu novo partido será um diferencial para os governadores, como o do Amazonas. “No entanto, deve-se ter em mente que o cenário atual econômico, o índice de rejeição e a mudança de partido são pontos que assumem uma alta probabilidade de afetar negativamente o início da corrida ao segundo mandato do Executivo federal”, concluiu.

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