Início » Central da Política » Com experimentos científicos na Amazônia, relatório da CPI atribui responsabilidades sobre ‘Kit Covid’
Com experimentos científicos na Amazônia, relatório da CPI atribui responsabilidades sobre ‘Kit Covid’
Presidente da CPI, Omar Aziz, e o relator, Renan Calheiros. (Divulgação/Agência Senado)
Compartilhe:
20 de outubro de 2021
Marcela Leiros – Da Cenarium
MANAUS – O relatório final da CPI da Covid, apresentado pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL), na manhã desta quarta-feira, 20, pontua, especificamente, a responsabilidade do governo federal na propagação do “Kit Covid” na Amazônia, destacando, principalmente, o uso de Manaus como “experimento” na tentativa de transformar medicamentos, como cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina, em política pública eficaz no combate à Covid-19. Nenhuma outra autoridade, estadual ou municipal, foi responsabilizada.
O relatório conclui que uma das bandeiras do governo federal “foi a defesa incondicional e reiterada do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, bem como de outros fármacos, como a ivermectina e a azitromicina, mesmo após estudos científicos, a OMS e outras autoridades sanitárias em todo o mundo demonstrarem a ineficácia desse tratamento”.
O documento relembra que Manaus foi palco, no dia 11 de janeiro de 2021, do lançamento do aplicativo TrateCov pelo Ministério da Saúde. O evento teve a presença do então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”. Porém, dez dias depois do lançamento, em 21 de janeiro de 2021, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou uma nota na qual recomendava a “retirada imediata do ar do aplicativo TrateCov” e pontuava que, entre outras coisas, “assegurava a validação científica a drogas que não contam com esse reconhecimento internacional”.
Após o lançamento do aplicativo – originalmente destinado a orientar pacientes com sintomas da Covid-19, foi constatado que todas as combinações de sintomas levavam à prescrição de antibióticos e cloroquina, ivermectina e outros fármacos para náusea e diarreia ou para sintomas de uma ressaca, como fadiga e dor de cabeça.
Ainda no tocante à insistência do governo federal referente aos remédios sem eficácia comprovada no Amazonas, o relatório também relembrou que, quando depôs na CPI nos dias 19 e 20 de maio, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello foi indagado, ainda, sobre o envio de 120 mil unidades de hidroxicloroquina ao Estado do Amazonas e sobre um ofício, datado de 7 de janeiro de 2021, e encaminhado à Secretaria de Saúde do referido Estado, determinando a difusão e adoção do tratamento precoce como forma de diminuir o número de internações e óbitos decorrentes da Covid-19. À época, o Estado estava às vésperas de enfrentar a “Crise do Oxigênio”.
O relatório pede também o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), outras 65 pessoas e duas empresas por diversos crimes, principalmente, por “crimes contra a humanidade”. Como constatação desses crimes é citado o “experimento científico que desobeceu os limites determinados pela Conep [Comissão Nacional de Ética em Pesquisa]”, ocorrido na cidade de Manaus, “quando houve a utilização indevida de proxalutamida pelo médico Flávio Adsuara Cadegiani para o tratamento da Covid-19”.
Segundo o relatório, o médico alterou o local do estudo e o número de participantes autorizados pela Conep, bem como não apresentou os termos de consentimento livre e esclarecido dos pacientes e incluiu pacientes graves no estudo, o que não fazia parte do pedido de autorização original, entre outras irregularidades”. O documento afirma ainda que “seres humanos foram utilizados como cobaias”.
O “Kit Covid” também foi extremamente difundido entre os indígenas, não apenas na Amazônia. O relatório pontua que a documentação analisada pela CPI demonstra que o governo estaria disposto a oferecer alguma assistência, como cestas de alimentos e a “proteção ilusória do Kit Covid”, no lugar de cumprir o dever de garantir aspectos fundamentais e realmente eficazes para prevenir a Covid-19 entre os povos tradicionais. “Esse conjunto de atitudes indica que, com relação aos indígenas, o governo tratou o vírus não como um risco, mas como uma oportunidade”.
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.