Com fechamento do Cinemark, Manaus perde 18 salas de cinema em três meses

Cinemark não é o primeiro a deixar a capital amazonense (Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Ívina Garcia — Da Revista Cenarium

MANAUS — Os cinemas enfrentam um período difícil desde o início da pandemia, em março de 2020. Após meses com as salas fechadas por conta dos decretos de distanciamento social e as plataformas de streaming ganhando força, as empresas de cinema vêm anunciando o fechamento de suas salas no Amazonas.

O Cinemark, um dos pioneiros no Estado, comunicou o encerramento das atividades no dia 31 de janeiro. O cinema funcionou no Centro de Convenções Studio 5 ao longo de 20 anos e foi palco de projetos que traziam grandes lançamentos das telonas, mas que também davam foco para produções nacionais, cinema cult e exibição de clássicos.

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Esse não é o primeiro a deixar a capital amazonense. Em outubro do ano passado, o Playarte deu o primeiro passo encerrando as atividades em Manaus e fechando as dez salas de cinema que funcionavam no Shopping Manauara desde 2010. Ao longo de dez anos, o Playarte foi o único complexo da marca na Região Norte. Agora, a rede segue atuando apenas em Roraima, onde abriu salas, em 2020, e em São Paulo.

Apesar de ainda existirem outras opções na cidade, espalhadas pelos principais shoppings, esse movimento de encerrar atividades pode se estender a outras salas. É o que Lucas Lopes, filmmaker e cinéfilo, acredita.

“Eu sinto que os cinemas vão ter cada vez menos público, até se tornar algo como o teatro. As plataformas de streaming estão dominando cada vez mais o mercado de filmes, alguns nem sequer passam mais por salas de cinema. Então, parece que a tendência é realmente o cinema se tornar uma experiência só para quem é muito fã”, diz.

Além disso, ele conta que apesar da facilidade do streaming, ainda prefere assistir filmes na telona. “Ontem, fui assistir ao novo filme do Guillermo del Toro, que já tinha disponível em streaming, para ver em casa. Mesmo assim preferi pagar, porque o cinema não é “só o filme”, tem toda a experiência, a pipoca, a tela grande, o áudio bom, a falta de distrações no local etc”, relata.

Impacto econômico

O fechamento das salas não representa necessariamente o fechamento da empresa, um exemplo é a própria Playarte, que mantém as salas em outros dois Estados e fechou apenas a praça manauara. É fato que, no Brasil, assim como no mundo, onde se abria um shopping era comum abrir um cinema junto, como um complemento do empreendimento. O cinema funciona como um fator de atração a mais, uma opção para quem não quer apenas fazer compras no shopping.

De acordo com o economista Inaldo Seixas, a extinção dessas praças em Manaus faz com que mais pessoas fiquem desempregadas. “Um dos elementos mais conhecidos de lazer do mundo é o cinema. Fechar um cinema pode prejudicar o andamento dos shoppings como atração para esses empreendimentos, por outro lado, tem o impacto no mercado de trabalho. Os cinemas terão que demitir um certo tipo de profissão, o que pode dificultar a recolocação dessas pessoas no mercado de trabalho”, afirma.

Além do evidente impacto econômico causado pela evasão de possíveis clientes que poderiam ir ao cinema e consumir em outras lojas do shopping, esse fechamento também causa impactos sociais, diminuindo as opções de lazer na cidade. 

Alternativas

De acordo com Inaldo, uma das alternativas para impedir esse fechamento seria incentivos federais ou dos governos locais de proteção. “Assim como foi feito com outras empresas, teria sido interessante um plano de ajuda para esse ramo cultural específico, para ajudar esses empresários em um momento difícil. Porque quando falamos de cinema, vai além do efeito econômico, temos um impacto cultural”, comenta. “Eu sinto uma ausência de políticas para esses tipos de empreendimentos que fazem bem para sociedade.”

Opções escassas

A jornalista e crítica de cinema Camila Henriques fala com sentimento de perda sobre o assunto. “Desde o ano passado, 18 salas de cinema deixaram de existir na cidade, todas em shoppings de Manaus, sendo que um deles era um local que eu frequentava. As opções ficam cada vez mais escassas e, sem a perspectiva de vinda de outras redes para substituir aqueles que foram fechados, a situação é preocupante.”

Camila conta que apesar de amar ir ao cinema, os altos custos, tanto nos ingressos como nas bombonieres podem ser os vilões da situação. “Infelizmente, o fechamento de outras praças pode ser uma possibilidade. Os preços elevados de tudo o que envolve uma ida ao cinema (ingresso, transporte, alimentação) tornaram esse um entretenimento caro. Somam-se a isso os prejuízos causados pela pandemia e a falta de incentivo a títulos que fujam dos blockbusters de grandes estúdios americanos.”

E falando em blockbusters, ou seja, esses filmes que ainda conseguem levar multidões ao cinema, Camilla explicou que apesar de serem enxergados como salvadores, na verdade, grande parte dos lucros ficam com as empresas de origem, o que resta às empresas de cinema apenas o lucro dos combos nas lojas de conveniência. “Muitos alardeiam o ‘Homem-Aranha’ mais recente, que fez uma “baita” bilheteria mundo afora, como “salvador do cinema”, mas, colocando na ponta do lápis, os lucros do filme não representam lucros para as salas”, finaliza.

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