Com pedido de cassação aprovado, Glauber inicia greve de fome e ataca Lira


Por: Ana Cláudia Leocádio

09 de abril de 2025
Com pedido de cassação aprovado, Glauber inicia greve de fome e ataca Lira
A maioria do Conselho de Ética aprovou o relatório que pede a cassação do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) (Lula Marques/Agência Brasil)

BRASÍLIA (DF) – Após oito horas de sessão e muitos protestos, a Comissão de Ética da Câmara dos Deputados aprovou, na noite desta quarta-feira, 9, por 13 votos a 5, o pedido de cassação contra o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), por quebra de decoro parlamentar. Como resposta, o parlamentar deu início a uma greve de fome e disse que permanecerá nas dependências da Casa, até que sua situação seja resolvida em definitivo. Braga atacou o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a quem credita a estratégia para cassá-lo por vingança, após ele ter sido denunciado por corrupção no uso das verbas do orçamento secreto.

Na última terça-feira, 8, a maioria do Conselho de Ética aprovou o relatório do deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), que concluiu pela cassação do mandato do deputado, atendendo à denúncia formalizada pelo Partido Novo, feita em abril de 2024, após Glauber ter sido filmado expulsando das dependências da Câmara, com empurrões e chutes, o integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) Gabriel Costenaro.

Durante todo o dia, colegas de bancada de Glauber tentaram usar várias estratégias regimentais para levar a sessão até a hora que começasse a ordem do dia, em plenário, que geralmente começa às 16h, e suspende qualquer trabalho nas comissões. A sessão com a ordem do dia só começou depois que os parlamentares aprovaram o pedido de cassação, que agora está pronto para ser colocado em votação no plenário, dependendo somente da decisão do presidente Hugo Motta (Republicanos-PB), de encaminhar o parecer.

Líder do PSOL, deputada Talíria Petrone (RJ), manifestou-se em defesa de Glauber Braga (Divulgação/Câmara)

A líder do PSOL, deputada Talíria Petrone (RJ), disse que a bancada tentará todas as estratégias possíveis para evitar que o colega seja cassado em plenário, quanto votam todos os 513 deputados, mas acusou algumas lideranças de estarem em complô para cassar o deputado Glauber Braga para atender à vontade do ex-presidente da Casa Arthur Lira (PP-AL), que tem nessa punição uma forma de se vingar do psolista por ter denunciado a corrupção nas verbas do chamado orçamento secreto.

Glauber declarou que vai até as últimas consequências nessa disputa, inclusive com a possibilidade de judicialização do caso. “No plenário da Câmara, nós vamos utilizar todos os instrumentos que tiverem à nossa disposição, todos os recursos que forem cabíveis para fazer essa disputa política até o limite, e quando eu digo até o limite é até o limite mesmo. Eu não proporia o que eu propus aqui no dia hoje se eu não tivesse com a disposição de levar essa decisão às últimas consequências” disse o parlamentar.

O deputado também acredita que o presidente Hugo Motta tenha contribuído para a estratégia de finalizar nesta quarta-feira, a votação do parecer pela cassação. “Aquilo que eu vinha dizendo, desde o início dessa história se confirmou no dia de hoje. Tinha um script pré-estabelecido para que a cassação se operasse. Eles estavam esperando o melhor momento para fazê-lo e, evidentemente, hoje ficou mais do que explícito a decisão de não convocar a ordem do dia, por parte do presidente (Motta), o envolve também nessa articulação de cassação do mandato, operada pelo ex-presidente da Câmara, Arthur Lira”, atacou.

Questionado pela Cenarium se ele se arrependia das agressões ao membro do MBL, que agora podem deixá-lo sem mandato e inelegível por oito anos, o parlamentar respondeu com outra pergunta.

“Se qualquer pessoa que está nos assistindo tivesse um sujeito pago, que fizesse por sete vezes provocações e, nesse episódio em específico, xingasse e fizesse de tudo para atacar a honra da sua mãe, que estava com Alzheimer avançado, e que veio a falecer alguns dias depois; se de fato esse seria o ponto fundamental que precisava ser objeto de reflexão à essa altura do campeonato?”, questionou.

Para o parlamentar, o ato foi utilizado como “a desculpa para calar o mandato nas suas denúncias”. “Eu subi à tribuna da Câmara para falar sobre o orçamento secreto por 21 vezes, fazendo inclusive a conexão direta com o que é o orçamento secreto e a lavanderia que se estabeleceu em um dos municípios brasileiros, mais especificamente o município de Rio Largo, em Alagoas. Está lá, para quem quiser ver. Em pouquíssimo espaço de tempo, do orçamento secreto para aquele município foram R$ 90 milhões. O ex-prefeito já foi preso não sei quantas vezes”, justifica, anunciando que não há possibilidade de renunciar ao mandato, medid que o livraria da inelegibilidade.

Os parlamentares que defendiam Braga alegaram que a pena de cassação era desproporcional ao ato cometido por ele, e que aprovar o relatório com essa punição favoreceria atos de pessoas pagas, que usam como estratégia atacar e constranger os parlamentares para expô-los na internet. “Não podemos autorizar gente que anda atrás de lacração”, disse a deputada Dandara (PT-MG).

Denúncia contra deputado do Pará
Comissão de Ética da Câmara dos Deputados preenchida por parlamentares de base e oposição (Divulgação/Câmara)

A deputada Natália Bonavides (PT-RN) questionou o relator Paulo Magalhães sobre que critérios adotou para indicar a pena máxima de cassação de Glauber Braga, e anunciou que o seu partido irá apresentar uma série de denúncias contra parlamentares que cometeram agressões, como o deputado federal Delegado Éder Mauro (PL-PA).

Em junho de 2024, bancário Bruno Silva levou dois tapas no rosto, após bate-boca, durante sessão da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. A confusão ocorreu depois que o bancário gritou “presonaro na Papuda”, numa referência às investigações da Polícia Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ambos se enfrentaram e Mauro saiu para cima de Silva, que levou um tapa de um assessor do parlamentar, segundo informações da época.

Bonavides não informou quando se dará a apresentação da denúncia. O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) informou que será feito um pacote de representações, com todos os parlamentares que já cometeram atos passíveis de quebra de decoro parlamentar, para ver se o Conselho de Ética terá a mesma posição que está agora adotando com Glauber Braga.

“Tem que entrar com uma sequência do Conselho de Ética, só que eles barram na mesa (diretora da Câmara). A Carla Zambelli está na mesa até hoje. Eles não põem a extrema-direita no banco dos réus. Os processos deles são arquivados peremptoriamente pelo relator, ou não saem da mesa. É isso que o Lira comandava lá”, disse.

Nicolas Ferreira defende relatório

A bancada da direita, que votou em peso pela cassação de Glauber, só chegou à sessão do Conselho de Ética para pedir o encerramento das discussões e encaminhar a votação do relatório, que ocorreu com protestos das pessoas e dos parlamentares presentes na sessão.

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) falou por dez minutos, acusando a bancada que defende Glauber Braga de comunistas, que adoram Lenin e Stálin (líderes da revolução russa de 1917), e que já apoiaram a cassação de parlamentares por causa de opiniões. Segundo ele, se fosse um parlamentar da direita sendo cassado, estariam todos comemorando.

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Editado por Izaías Godinho

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