Com poços contaminados, Parintins vai gastar R$ 3,7 milhões em reservatórios de água
Por: Luis Henrique Oliveira - Especial para a Cenarium
25 de outubro de 2025
MANAUS (AM) – A Prefeitura de Parintins (AM) anunciou que pretende destinar cerca de R$ 3,7 milhões para construir reservatórios de águas, também conhecidos como castelos d’água, em áreas urbanas e rurais do município localizado a 369 quilômetros da capital Manaus. A medida levanta questionamentos sobre as prioridades e a efetividade das ações públicas no enfrentamento da crise hídrica da cidade, onde pesquisa da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) apontou que poços artesianos da cidade estão contaminados por esgoto doméstico.
O contrato, publicado no Diário Oficial dos Municípios de segunda-feira, 20, foi firmado com a empresa Amazonconcreto Construções Ltda., vencedora do Pregão Eletrônico nº 43/2025. O documento prevê a construção de reservatórios metálicos com capacidades que variam de cinco mil a 20 mil litros, totalizando R$ 3.731.560,00 em recursos públicos. O documento foi assinado pelo prefeito Mateus Ferreira Assayag.

Inscrita sob o CNPJ nº 07.355.725/0001-41, a empresa Amazonconcreto Construções Ltda. foi aberta em 2005 e fica localizada no bairro Parque 10, Zona Centro-Sul de Manaus. A empresa aparece em nome de Charles de Oliveira Menta e possui capital social de R$ 710 mil.

Segundo dados da Receita Federal, a empresa tem como atividade principal a construção de edifícios, mas também realiza obras de urbanização em ruas e praças, demolição de edifícios, obras de terraplanagem, perfurações e sondagens, serviços de carga e descarga, e outros.
A reportagem questionou a Prefeitura de Parintins sobre mais detalhes da contratação da empresa Amazonconcreto Construções Ltda. para a construção dos castelos d’água, mas, até o momento, não obteve retorno.
Estudo aponta má qualidade da água
Enquanto a prefeitura de Parintins celebra a construção de novos reservatórios como avanço no abastecimento, um estudo da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), divulgado pela CENARIUM, em 2024, expões que poços artesianos da cidade estão contaminados por esgoto doméstico, com altos níveis de alumínio, amônia e nitrato, substâncias nocivas à saúde.
O relatório criticou o investimento milionário em reservatórios sem solucionar a origem do problema: a falta de saneamento e tratamento da água. Especialistas alertaram que ampliar a capacidade de armazenamento sem garantir a potabilidade apenas espalha a contaminação. Para o sociólogo Luiz Carlos Marques, a problemática com relação ao abastecimento de água e sua qualidade em cidades do Amazonas são inaceitáveis.
“Quando uma questão, como a da água, é levantada no Amazonas, estamos falando de um problema que não se admite que ainda exista em pleno século 21. A questão está vindo à tona a partir dos gastos com um reservatório em Parintins, minha terra. Reservar uma água de péssima qualidade não vale a pena. Antes de investir na construção de reservatórios, é fundamental que o município trate o problema em sua origem, garantindo que a água armazenada seja própria para o consumo humano”, pontuou.
O sociólogo ressaltou, ainda, que o município investe alto em estruturas metálicas, mas ignora o básico: água limpa e segura para seus cidadãos. “Investir em infraestrutura sem resolver a causa da má qualidade da água é um erro que compromete tanto a saúde pública quanto os recursos financeiros do município. É importante destacar que, quando se trata de saúde, todo gasto é pouco diante do objetivo maior de garantir o bem-estar da população. No entanto, é necessário que esses recursos sejam aplicados de forma correta e transparente“, completou Marques.