Com quase 500 casos registrados da H3N2, surto de variante da Influenza A preocupa amazonenses

A epidemia tem se alastrado e, ao menos, 11 Estados vivem o surto do vírus neste mês de dezembro(Reprodução/Internet)

Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – Nas últimas semanas, os altos índices de pessoas infectadas com o vírus da gripe, mais especificamente o chamado H3N2, (Variante da Influenza A) tem chamado a atenção dos órgãos de saúde e preocupado a população. A epidemia tem se alastrado e, ao menos, 11 estados vivem o surto do vírus neste mês de dezembro.

Segundo informações publicadas pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Drª Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP) que monitora o aumento de casos de Influenza, no Amazonas, de novembro até 17 de dezembro, o Estado registrou 494 casos da doença, apresentando 8% de positividade entre os exames realizados pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Amazonas (Lacen-AM).

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Ainda de acordo com a FVS – o Amazonas enfrenta um período típico para a ocorrência de vírus respiratórios, entre eles, a Influenza A (H3N2), coincidido com a época chuvosa no Estado, geralmente, entre novembro e maio, anualmente. Na leitura do epidemiologista da Fiocruz Amazônia, Jesem Orellana, o surto pode ter sido desencadeado pela velocidade de contágio do vírus, além do relaxamento das pessoas em relação ao uso da máscara, distanciamento e medidas de proteção.

“Além de uma possível dispersão mais veloz do vírus e/ou baixas coberturas vacinais contra a Influenza, há o decaimento da resposta imune dos vacinados ou, previamente, infectados, já que a maioria dos vacinados na campanha de 2021 tomou o imunizante (trivalente) há mais de 6 meses”, explica Orellana.

Para o médico infectologista Nelson Barbosa, por ter um clima diferenciado, a realidade da Amazônia pode ser mais preocupante. “A situação aqui, em relação a essas epidemias de gripe, pode ser mais grave, até porque só temos verão e inverno, isto é, só sol e chuva, e contribui para esse estado de alerta”, diz o infectologista, que ressalta que um dos grandes problemas foi o foco dado à vacina. “A cobertura vacinal foi baixa, só foi dada importância à vacina contra o novo coronavírus”, afirma o infectologista.

O vírus H3N2 é um dos subtipos do vírus Influenza A (Reprodução/ Internet)

Dados recentes

Conforme o Departamento de Vigilância Epidemiológica da FVS, de 21 a 27 de novembro, foram registrados 53 casos e, no período de 12 a 17 de dezembro, o total de 262. De acordo com informações da Vigilância, a faixa etária mais acometida pelo vírus, totalizando 212 casos, abrange pessoas de 20 a 29 anos. Ainda segundo a direção técnica da FVS “a maioria dos casos são de quadro clínico leve e sem necessidade de internação hospitalar”.

Até o momento, não houve registros de mortes pelo vírus, no Amazonas. Em contrapartida, no Rio de Janeiro, já são mais de 20.000 casos e 5 mortes confirmadas. Na Bahia, também houve um caso de morte registrado recentemente. Uma idosa de 80 anos, que deu entrada no hospital de Salvador, não resistiu após ser infectada pelo vírus. A idosa tinha o ciclo vacinal completo contra a Covid-19, mas não contra a gripe.

A Academia Nacional de Medicina divulgou um relatório, na quarta-feira, 15, onde afirma que uma pandemia de gripe, como a ocorrida em 1918, poderia ser ainda pior do que a da Covid-19. “No entanto, de uma perspectiva epidemiológica, a Covid-19 não representa um cenário de pandemia de ‘pior caso’, como a pandemia de Influenza, de 1918-19, que resultou em, pelo menos, 50 milhões de mortes em todo o mundo”, como consta no documento.

O relatório cita dados da Organização Mundial da Saúde, informando que a gripe mata entre 290.000 e 650.000 pessoas, anualmente. A próxima pandemia de gripe, sem definição de data para acontecer, pode matar 33 milhões de pessoas, números muito acima do que a pandemia de Covid-19 que, até o momento, ceifou 5,1 milhões de vidas em todo o mundo.

Sintomas

A H2N3 (Darwim), se manifesta causando dores de cabeça, dores nas articulações, tosse, inflamação na garganta, febre alta, constipação nasal, cansaço excessivo, moleza, calafrios, vômitos e, em alguns casos, diarreia que, geralmente, é mais comum em crianças.

Miguel Campos, 24 anos, foi um dos que sentiram na pele os sintomas do vírus contagioso. Se recuperando da gripe, Miguel conta que passou, pelo menos, uma semana no embate contra a doença. Focado em garantir as doses imunizantes contra a Covid-19, ele afirma que a vacina contra a gripe não era prioridade, no momento.

“Me pegou de surpresa, a gente anda tão ligado em coronavírus que acaba não se atentando para outros surtos que possam ter. Senti muitas dores, tosse, calafrios, nariz entupido. Fiquei fora de combate. É, de fato, uma gripe muito forte. Durante esse período, acho que uns quatro dias, os sintomas foram muito intensos”, diz o manauara que precisou ir ao pronto-socorro mais próximo de casa em busca de atendimento médico.

No ano de 2020, foram 55,7 milhões de pessoas vacinadas, o que equivale a 82% de cobertura vacinal (Reprodução/Internet)

Vacinas

Segundo o Ministério Público, neste ano, 67,9 milhões de vacinas contra a gripe foram aplicadas em todo o Brasil, representando uma cobertura vacinal de 71,2%, levando em consideração o público-alvo da campanha. No ano de 2020, foram 55,7 milhões de pessoas vacinadas, o que equivale a 82% de cobertura vacinal.

De acordo com previsão do Instituto Butantan, uma nova vacina que atue contra a subespécie do vírus Influenza deve chegar ao Brasil no início de 2022 prontas para a população entre a segunda quinzena de fevereiro e o início de março. Sobre a atual vacina, o epidemiologista Jesem Orellana avalia:

“É possível que ela proteja apenas parcialmente. Isso ainda não está claro, o que sabemos é que as vacinas aplicadas não levam (não tinha como ser diferente) em sua composição variantes novas, como a Darwin. Pórem, vacinas não podem ser vistas como panaceia. Temos é que nos adaptar a esses novos desafios, assim como os vírus têm feito há milhões de anos”, ressalta Jesem.

No Amazonas, foram distribuídos 173 mil kits de tratamento contra a Influenza, com o medicamento antiviral Tamiflu. As orientações da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) é para que a população fique em alerta para sintomas gripais.

Em casos considerados leves: febre, dor leve no corpo e coriza, os pacientes podem procurar atendimento médico em unidade básica de saúde. Caso apresentem sintomas mais graves como falta de ar, cansaço e outros sintomas associados, procurar serviço de pronto atendimento ou uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) mais próximo.

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