Com recorde de desemprego no Brasil, cresce número de trabalhadores que atuam por conta própria

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do IBGE (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – No trimestre encerrado em fevereiro, o Brasil atingiu a estimativa de 14,4 milhões de desempregados, segundo dados divulgados nesta sexta-feira, 30, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O quantitativo é o maior número desde 2012, quando foi iniciada série histórica. Apenas a categoria de trabalhadores que atuam por conta própria cresceu no País.

Segundo o instituto, foram 400 mil pessoas a mais desempregadas, uma alta de 2,9%, frente ao trimestre anterior (setembro a novembro de 2020), na qual a desocupação foi estimada em 140 milhões de pessoas. A taxa de desocupação, por tanto, ficou estável em 14,4% em relação ao trimestre anterior (14,1%). Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad).

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“O trimestre volta a repetir a preponderância do trabalho informal, reforçando movimentos que já vimos em outras divulgações – a importância do trabalhador por conta própria para a manutenção da ocupação”, comenta a analista da pesquisa, Adriana Beringuy.

Taxa de desemprego de 14,4% é a segunda maior da série histórica da pesquisa, atrás apenas da registrada no trimestre encerrado em setembro de 2020 (Gráfico: Bruno Pacheco/Revista Cenarium)

Segundo o IBGE, em um ano de pandemia, houve redução de 7,8 milhões de postos de trabalho. Apenas a categoria de trabalhadores que atuam por conta própria, que reúne 23,7 milhões de pessoas, registrou aumento (3,1%) na comparação com o trimestre encerrado em novembro. Esse crescimento representa a inclusão de crescimento (3,1%) mais 716 mil de pessoas nesse índice.

Para o instituto, o registro evidencia a precarização e dificuldade de recuperação do mercado de trabalho. O sociólogo e advogado Carlos Santiago explica que esse aumento do trabalho informal e a queda da taxa de desemprego é o resultado de uma década perdida (2011 a 2020) no País.

“Com o impacto da pandemia, essa situação pode se agravar ainda mais, com reflexo na perda de direitos trabalhistas de milhões [de pessoas] e na queda da arrecadação no caixa da previdência social. Para recuperar a década perdida e os impactos econômicos e sociais da pandemia serão necessários, no mínimo, uma década de crescimento sustentável da economia. Horizonte ainda construído pelos atuais governantes do País”, ponderou.

Alternativa

A confeiteira Evanice Lira de Menezes, proprietária da loja Maria Doces, trabalha há oito anos por conta própria com o segmento. À REVISTA CENARIUM, ela conta que era assistente financeira, mas que decidiu empreender no ramo de confeitaria para ficar mais tempo com a família e cuidar da filha, que na época tinha apenas 2 anos de idade.

“Me incomodava muito em ter que ficar de 8 a 10 horas fora de casa e terceirizar a sua educação e os cuidados. Foi quando iniciei a venda de doces no meu trabalho como teste. Deu certo. Pedi demissão e abri com foco em festa infantil e buffet”, lembrou.

Evanice Lira de Menezes trabalha há oito anos por conta própria (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Atualmente, Evanice trabalha com doces e salgados e os alimentos também são vendidos para quem tem restrição alimentar. “Fazemos encomendas com entrega ou retirada. Somos em três pessoas, por vezes contrato diaristas e também, se necessário, peço a ajuda da família. Com a graça de Deus jamais voltarei ao mercado. Somente terei minha loja”, finalizou.

Pnad

A Pnad Contínua é a pesquisa que monitora a força de trabalho no País feita por trimestre. A amostra do estudo corresponde a 211 mil domicílios pesquisados. Em função da pandemia da Covid-19, os dados são coletados por telefone desde março de 2020.

A analista Adriana Beringuy salienta que quase todos indicadores se mantiveram estáveis frente ao trimestre imediatamente anterior, mas na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, houve redução na maior parte deles, seja de posição no mercado de trabalho ou de grupamentos de atividades, refletindo os efeitos da pandemia.

Segundo o IBGE, a estabilidade do contingente de pessoas ocupadas é decorrente da informalidade, com o crescimento dos trabalhadores por conta própria. “O trimestre encerrado em fevereiro de 2020 ainda era um cenário pré-pandemia e qualquer comparação com este período vai mostrar quedas anuais muito acentuadas. Isso explica o porquê da estabilidade no trimestre e alta no confronto anual”, esclarece Adriana.

Em meio às incertezas do mercado de trabalho, atuar por conta própria foi a melhor opção para Marcleice Veloso, de 38 anos. À REVISTA CENARIUM, ela conta que há três anos e meio, junto com a sócia Carla Daniela, de 34 anos, passou a ser autônoma no ramo alimentício e abriu o Espetinho das Patroas. “Sempre trabalhava empregada, e após trabalhar 12 anos em um cartório, resolvi abrir meu próprio negócio, principalmente pelo aumento de desemprego que o País vem sofrendo ultimamente e o sonho de ter meu próprio negócio”, frisou.

À direita, Marcleice Veloso, e à esquerda, Carla Daniela (Arquivo Pessoal/Reprodução)

“Há três anos e meio atrás comecei somente com minha sócia. Fazíamos tudo (preparação, atendimento, despache, entrega, compras) absolutamente tudo. Hoje eu e minha sócia empregamos 5 pessoas que trabalham conosco, pessoas da família e de fora também. Estou muito satisfeita com nosso crescimento em plena pandemia

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