Com saúde colapsada, cidade do interior do AM entra em lockdown e espera hospital de campanha

Indígenas de São Gabriel da Cachoeira são os mais afetados, nas quase 750 comunidades de 23 etnias (Divulgação/ DSEI-ARN)

Nícolas Marreco – Da Revista Cenarium

Com o sistema de saúde colapsado de São Gabriel da Cachoeira (a 862 quilômetros de Manaus), a população está à mercê da transferência de pacientes à capital. Sem Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o único hospital do município, que é do Exército, enviou ofício ao Ministério Público Federal (MPF) sinalizando que deve improvisar cinco leitos de cuidados intensivos.

Na última sexta, 8, a prefeitura restringiu a circulação de pessoas das 6h às 15h, no decreto de lockdown. Terceiro lugar no ranking estadual de mortalidade infantil, segundo o IBGE, a parcela que fica mais vulnerável são os nativos, pelo histórico genético. São Gabriel é considerado o município “mais indígena do Brasil”, com quase 750 comunidades de 23 etnias diferentes.

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Até esta sexta, quatro indígenas foram mortos e 41 contaminados por Covid-19. Nesta segunda, 11, a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) divulgou que 97 pessoas estão infectadas e dez foram mortos. A taxa de subnotificação de índios, por negligência no cadastro do sistema, já foi alertada.

Em gravação na semana passada, o secretário municipal de Saúde, Fábio Sampaio, relatou que não há mais mão de obra para o hospital. “Nosso hospital já entrou em colapso. O [governo do] Estado está me pedindo para mandar profissionais para o hospital, mas nossos profissionais estão todos sobrecarregados. A diretora [do hospital] está desesperada, a situação está difícil. Tô vendo se alguma instituição tem algum técnico”, relatou.

A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e organizações não governamentais estão na força-tarefa junto à prefeitura para conseguir mais insumos, incluindo medicamentos, e recursos humanos. O Hospital de Guarnição de São Gabriel normalmente já funciona sobrecarregado com casos grandes de malária e dengue.

A diretora da unidade, tenente-coronel Anaditália Araújo, afirmou em ofício ao MPF que “qualquer planejamento foi vencido”, descrevendo um quadro “limítrofe”. “Todo e qualquer apoio será bem-vindo, como unidade de saúde”, completou em documento enviado ao procurador da República m Manaus, Fernando Soave.

A diretora também alertou a necessidade de “emprego de bloqueadores neuromusculares”, para os pacientes sob respiração médica, e “antibióticos no tratamento de casos suspeitos ou confirmados”. Até a última quarta, 6, o hospital disponibilizava de apenas seis respiradores. De Manaus ao município são quase duas horas de avião de porte pequeno. Em lancha rápida, o trajeto é estimado em 24h.

Uma das lideranças da Foirn, Marivelton Baré, detalhou que duas mortes em comunidades indígenas foram confirmadas. As famílias mais afastadas, com horas de barcos da sede municipal, saem das residências em busca de comida, que também é escassa no isolamento.

“Tem tido casos de óbitos na própria residência. O HGU tem apenas sete respiradores, superlotada. Aqui está faltando principalmente um hospital de campanha e toda a estrutura para enfrentar esse alto índice. Não há teste para todo mundo, não temos profissionais de saúde”, lamentou.

As lideranças têm se mobilizado na entrega de máscaras e nos informes via rádio para os nativos não saírem de casa. O governo do estado disse, por meio de nota, que enviou no fim de semana 80 cilindros de oxigênio para o hospital militar. Antes disso, enviou cinco remessas de testes rápidos contendo 790 itens e mais 49,7 mil Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).

“O município recebeu R$ 515,4 mil do Fundo de Fomento ao Turismo, Infraestrutura, Serviços e Interiorização do Desenvolvimento do Amazonas (FTI) para serem usados durante a pandemia”, finalizou. A reportagem enviou perguntas à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e ao Comando Militar da Amazônia (CMA), mas não obteve respostas até o momento.

*Com informações do UOL

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