Com UTIs lotadas, Sorocaba tem alta de 1.300% em mortes de pacientes por Covid-19

Ala de atendimento para pacientes com suspeita ou diagnóstico de Covid-19 na zona leste de Sorocaba. (Reprodução/TV TEM)

Com informações do G1

SÃO PAULO – Sorocaba (SP) registrou, nos 20 primeiros dias de março, 42 mortes de pacientes com Covid em unidades de urgência e emergência. O número é 1.300% maior do que o registrado em janeiro, de acordo com dados compilados pelo G1 que constam nos boletins que a prefeitura divulga diariamente.

No primeiro mês deste ano foram três mortes confirmadas pela prefeitura. Duas dessas mortes aconteceram em dezembro de 2020.

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O número aumentou para oito confirmações em fevereiro e saltou para 42 nos primeiros 20 dias de março. Neste número podem estar incluídas, segundo a prefeitura, as mortes que aconteceram nos 15 leitos de UTI da Unidade Pré-Hospitalar da Zona Leste, que são administrados pela Santa Casa.

Segundo a prefeitura, mortes ocorridas nestes leitos também são divulgados nos boletins como sendo em “unidade de urgência e emergência”. Unidades de urgência e emergência, ou seja, as unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Pré-Hospitalares (UPHs) atendem todos os tipos de casos e estágios da Covid-19, segundo a prefeitura.

Nestas unidades ficam pacientes que podem estar na fila de um leito hospitalar – que já chegou a 111 pessoas na cidade, entre enfermaria e UTI.

A prefeitura não informa, no entanto, se alguma dessas 53 pessoas cujas mortes foram registradas neste ano aguardavam um leito hospitalar, se limitando a repetir que todos os pacientes com Covid em Sorocaba “são integralmente assistidos, de acordo com suas necessidades”.

Um levantamento do G1, da TV Globo e da GloboNews mostra que mais de 130 pessoas com Covid-19 morreram à espera de leito de UTI no estado até a última sexta-feira (19).

Atendimento diferente

Segundo a médica e infectologista Naihma Salum Fontana, o tipo de atendimento que o paciente com Covid recebe em uma unidade de emergência é bem diferente do encontrado em um leito de UTI.

“Totalmente diferente. Uma UTI é algo muito mais complexo. Para você ter uma ideia, é algo tão complexo que poucos médicos são intensivistas. É uma ciência muito difícil, muito complexa, muito multifatorial. O intensivista é o clínico na sua essência. É o topo do clínico, realmente. Porque nós temos que saber de todos os sistemas, de todos os órgãos, a todo o momento tomar decisões muito rápidas e precisas. E só o treinamento extenso, complexo e duradouro pode oferecer. Então, com certeza o paciente intubado em uma UTI está muito melhor assistido que um paciente entubado na rede de emergência, no pronto-socorro ou no PA”, explica.

“Considera-se que o paciente está melhor ali [em uma unidade de emergência] do que na casa dele, no suporte que se dá. Mas, com certeza, a grande maioria desses pacientes que foram a óbito não teve assistência adequada. Não de forma intencional, mas por esgotamento dos recursos, tanto humanos quanto estruturais”, afirma.

Ela acredita que a letalidade vai aumentar ainda mais por conta do colapso no sistema de saúde.

“Nós já estamos no colapso, já estamos com recursos limitados. Sedativos acabaram, a gente está tendo que se virar com o que tem, tentando fazer alguma alquimia entre um e outro para poder sedar melhor os pacientes. Já existe uma mortalidade alta relacionada ao Covid. E sim, a assistência vai piorar. Não de forma proposital, de forma alguma. Mas porque, justamente, leitos de contingência estão sendo criados em setores e locais onde não há o costume de cuidar de um paciente crítico.”

Sorocaba registrou, até este domingo (21), 39.653 casos de Covid desde o início da pandemia, com 905 mortes.

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