Comissão aprova presença de senadores em cidades do AM alvos de operação contra garimpo ilegal
Por: Ana Cláudia Leocádio
17 de setembro de 2025
BRASÍLIA (DF) – A Comissão de Direitos Humanos do Senado (CDH) aprovou, nesta quarta-feira, 17, o envio de uma diligência externa aos municípios de Humaitá e Manicoré, no sul do Amazonas, que foram alvos da operação das forças de segurança, na última segunda-feira, 15, contra o garimpo ilegal. O requerimento foi apresentado pelo senador Plínio Valério (PSDB-AM) que, na terça-feira, 16, junto com o senador Omar Aziz (PSD-AM), já havia aprovado o envio de “ofício verbal” ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) com pedido de informações sobre a ação coordenada pela Polícia Federal (PF).
Imagens divulgadas nas redes sociais mostram os agentes federais explodindo dezenas de balsas utilizadas para o garimpo ilegal, no Rio Madeira, tanto em Humaitá quanto em Manicoré, municípios localizados a 590 e 332 e quilômetros de Manaus, respectivamente. A ação policial na região atendeu a uma determinação da Justiça Federal no Amazonas que destruiu 95 dragas que estavam posicionadas nos Estados do Amazonas e de Rondônia.
Nessa terça-feira, 16, membros da bancada do Amazonas no Congresso manifestaram repúdio à ação das forças de segurança contra o garimpo ilegal, porque consideram que agiram com truculência contra os moradores e contra as pessoas que atuam na atividade, chamado por eles de “extrativistas minerais”.

No Senado, Plínio Valério e Omar Aziz pediram informações ao MJSP por meio de um “ofício verbal”, aprovado na Comissão de Infraestrutura. Na Câmara, os deputados Átila Lins (PSD) e Alberto Neto (PL) subiram à tribuna para criticar a operação e cobrar a regularização da atividade de garimpo na região, sem dizer como isso poderia ocorrer.
O requerimento de Plínio na CDH do Senado foi apresentado fora da pauta e recebeu o apoio da presidente do colegiado, senadora Damares Alves (Republicanos-DF). Além de fotos, o senador pelo Amazonas exibiu um vídeo da ação e falou que se tratava de flutuantes, que servem de moradias aos ribeirinhos. Registros mostram dragas usadas em garimpo ilegal sendo destruídas pela PF. Veja:
“Aquelas famílias, aqueles flutuantes estavam na cidade, ou seja, para exibir mesmo, com pirotecnia, produzindo vídeos, eu não tenho dúvida nenhuma de que é para COP 30. E a minha dúvida vai mais além, mas o que aqui não é o caso – aqui nós estamos discutindo direitos humanos”, declarou Valério.
Segundo o senador, “os ataques, além de acarretarem graves prejuízos materiais, configuraram séria violação à dignidade e à segurança da população ribeirinha, bem como aos direitos humanos das pessoas atingidas pela operação. “A ação também provocou danos ambientais significativos”, afirmou o parlamentar.
Valério disse que também recorrerá à Comissão de Ambiente do Senado para investigar os danos ambientais causados com as explosões e afundamento das dragas, que consistem em balsas que fazem a sucção dos sedimentos do rio para depurá-los e encontrar ouro.
Após ver as imagens, Damares Alves disse que ficou claro para ela a PF poderia ter destruído o material longe da orla da cidade e dos moradores. “A gente sabe que o garimpo ilegal tem que ser enfrentado. Mas faltou tato da Polícia Federal, delicadeza e cuidado com as crianças na cidade. Pessoas poderiam ter saído machucadas dali. Então, o objetivo é a gente ir para entender o que aconteceu”, afirmou.

Em Manicoré (AM), a revolta maior foi porque a operação prejudicou as comemorações do dia da padroeira da cidade, Nossa Senhora das Dores, celebrado dia 15 de setembro, que precisou ser cancelado. A Arquidiocese emitiu nota de repúdio contra a operação.
“Está tão claro que as balsas poderiam ter sido conduzidas para outro lugar, mas durante uma festa religiosa […] A liberdade religiosa foi ferida. Então, nós vamos, nessa diligência, senador Plínio, observar todos os direitos violados nessa operação policial, para que isso não aconteça mais”, disse Damares.
Após a aprovação da diligência, Damares informou será organizado com a secretaria da comissão, para que a diligência seja realizada o mais breve possível. “Eu quero ir pessoalmente, eu quero fazer parte da diligência, montar um grupo de parlamentares da Comissão para que a gente vá. Prepare-se, Secretaria. Vamos para mais uma diligência”, concluiu.
O que diz a Polícia Federal
Em nota publicada na página oficial da instituição na internet, nesta terça-feira, 16, a PF informou que equipes integradas por policiais federais, policiais rodoviários federais e agentes da Força Nacional de Segurança Pública cumpriram, na manhã de segunda-feira, 15, ordem judicial expedida pela Justiça Federal do Amazonas para a destruição de dragas utilizadas no garimpo ilegal no Rio Madeira.
“A operação ocorre no leito do rio, entre os municípios de Manicoré e Humaitá/AM. A ação integra os trabalhos desenvolvidos pela Polícia Federal (Amazonas e Rondônia) desde 2023 no combate à mineração ilegal na região. Neste ano, a novidade é a atuação coordenada entre diferentes forças de segurança pública, coordenadas pelo Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia (CCPI Amazônia) e o Poder Judiciário”, informou a PF.
Conforme a nota da instituição, “servidores do Ministério Público do Trabalho (MPT) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) acompanham a operação, adotando providências quanto às condições precárias de trabalho a que são submetidos os trabalhadores encontrados nas balsas”. Ao todo, foram destruídas 95 dragas usadas na extração de minério ilegal, sendo 71 no Amazonas e 24 em Rondônia.