Comoção em Parintins: capital nacional do folclore se despede do ídolo Paulinho Faria

Aos poucos uma geração que ajudou a construir o festival de Parintins está saindo de cena (Reprodução/Paulo Sicsu)

Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS- Na manhã desta terça-feira, 23, Parintins se despediu do ícone do festival, o ‘menino de ouro’ Paulinho Faria, que morreu em decorrência da Covid-19. O velório foi realizado na Cidade Garantido e aberto ao público. Não só a nação vermelha e branca, mas todos os moradores da cidade lamentaram a repentina perda da amada figura que era Paulinho Faria. Tomados pela tristeza do adeus, os moradores da ilha acompanharam o cortejo do ex-apresentador do boi da Baixa rumo a sua última morada.

União. Os Faria são uma das bases da rivalidade vermelha. Hoje abraçaram o ‘contrário’ Caprichoso em agradecimento pela homenagem a Paulinho Faria (Reprodução/Paulo Sicsu)

Durante a despedida, a rivalidade dos bois Caprichoso e Garantido foi deixada de lado para que as merecidas homenagens fossem prestadas. Os bumbás acompanharam o cortejo e o boi da francesa também se despediu de Paulinho. Artistas e itens do lado azul prestaram os últimos tributos em frente ao curral da francesa.  Nas redes sociais, a assessoria se pronunciou lamentando a grande perda do artista com o seguinte post:

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“O Boi Caprichoso manifesta profundo pesar pelo falecimento do ex-apresentador do Boi Garantido, que perdeu a vida para a Covid-19, aos 61 anos, nessa segunda-feira, 22 de fevereiro. Agora, as cores dos bumbás de Parintins se vestem de luto para a despedida de uma pessoa que marcou história no festival e ascendeu a chama da rivalidade entre os bois. A dor da perda de um ente querido transcende a disputa na arena do Bumbódromo, onde Paulinho Faria travou grandes embates e contribuiu com engrandecimento da festa dos bois”, postou o boi azul e branco.

Velório de Paulinho Faria na Cidade Garantido, em Parintins (Reprodução/Paulo Sicsu)

Emoção

Muito emocionado, o amigo de Paulinho e compositor do Boi Garantido Enéas Dias, que também foi vítima da Covid-19 recentemente, acompanhou o funeral até o último momento. “Ele foi e será sempre meu primeiro ídolo musical, referência desde criança e tinha maestria em conduzir o festival. Paulinho era ótimo artista e ótima pessoa, foi um vitorioso na vida e será sempre mestre de todos nós”, disse Enéas.

Paulinho Faria foi sepultado junto à mãe, dona Maria Ângela Faria, falecida em 2014, aos 91 anos.  A mãe de Paulinho era madrinha do Boi Garantido e figura muito conhecida na ilha tupinambarana, apaixonada pelo Garantido, sua casa foi durante muitos anos ponto turístico da ilha por ser toda na temática vermelha e branca em homenagem ao boi da Baixa. Agora, mãe e filho estarão nos corações e na memórias dos que ficaram com muita história para contar.

O velho mestre Jair Mendes foi se despedir do ex-apresentador Paulinho Faria, na Cidade Garantido (Reprodução/Paulo Sicsu)

Trajetória

Paulinho Faria nasceu no ano de 1960 em Belém do Pará e com poucos meses sua família retornou a Parintins. Jovem, ainda na década de 1970, assumiu como apresentador do Boi Garantido no então desconhecido Festival Folclórico de Parintins. Filho de comerciantes, Paulinho Faria era reservado, até por força de uma timidez que ele fazia questão de esconder, era no palco do curralzinho da Baixa que ele crescia como artista.

Comunicador de voz elegante, Paulinho fazia sucesso nos programas de rádio. Era um ícone da comunicação e um apresentador imbatível na arena. Cargo que ele dizia orgulhosamente ter recebido de Lindolfo Monte Verde, criador do Garantido. Foram 26 anos apresentando o boi. Um recorde de vitórias com apenas duas derrotas. É dele a contagem de “1,2,3 e já…”, que abre tradicionalmente as apresentações do Garantido na arena.

Carreata no cortejo do ídolo vermelho e branco em Parintins (Reprodução/Paulo Sicsu)

Torcedor do Flamengo do Rio de Janeiro e do Sul-América de Parintins, Paulinho presidiu o clube de futebol azulino da ilha. Era o único momento em que vestia azul. Marqueteiro sem nunca ter estudado a técnica, criou as maiores marcas do Garantido: “O Boi do Povão” e o indefectível “Mas Quem é Garantido Levante o Braço”, bordão até hoje decantado na arena de Parintins. Por tanta contribuição, Paulinho Faria está no panteão das lendas do Boi Garantido.

No início da década de 1990, dois grandes ídolos se encontram em uma festa no Ilha Verde Show Clube. Arlindo Jr do Caprichoso e Paulinho Faria do Garantido (Reprodução/Arquivo Paulo Faria)
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