Companhia nortista de teatro é única representante da região no programa Itaú Cultural

Peça do coletivo teatral amazonense mostra as dificuldades em não se conviver com a realidade dos dias atuais (Reprodução/Divulgação)

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Contar a história de uma garça teimosa, que mesmo avisada pela amiga capivara de que o rio está vindo e irá alagar toda a floresta, e a mesma não “Está nem aí…” esse é o pano de fundo da peça “Lá Vem o Rio”, da companhia amazonense Coletivo Experimental de Teatralidades (Ceta) que irá ao ar às 15h do dia 6 de setembro pelo site do Itaú Cultural.

A teimosia da garça pode ser comparada à descrença de quem não aceita a existência da Covid-19 ( Reprodução/Divulgação)

A peça no formato “teatro lambe-lambe” é a única selecionada no Amazonas, pelo programa Festival Arte Como Respiro – Edição Cênica do Itaú Cultural. A iniciativa visa apoiar os artistas de forma emergencial, em um período duro de arrocho econômico por conta da pandemia.

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Para Iris Brasil, diretora e cofundadora da companhia, o momento é de agradecer por “Lá Vem o Rio” estar entre os contemplados.

“Ficamos felizes com a seleção, ainda mais nesse momento difícil de pandemia”, declarou a artista.

Alegoria

Na história entre a garça e a capivara pode-se ver as comparações com os dias atuais. Na alegoria criada pela trupe, a garça é comparada com aqueles que insistem em não acreditar na pandemia.

“Na peça, os dois animais, a capivara e a garça, estão passando pelo período das cheias e a capivara avisa que o rio está vindo, mas, mesmo assim, a ave insiste em não acreditar”, detalhou Iris Brasil.

“Com a invasão das águas, o lixo das grandes cidades chega na floresta e ela fica presa dentro de um saco plástico”, resumiu.

Lambe-lambe é uma manifestação teatral herdada dos antigos fotógrafos no nordeste brasileiro (Reprodução/Internet)

Segundo Iris, isso reflete bem a conjuntura atual. “Esse comportamento da garça pode ser comparado à descrença das pessoas, na letalidade do vírus”, comparou.

Lambe-lambe

Seguimento do teatro, o lambe-lambe é o típico teatro de praça, ou mesmo de rua. Recebeu esse nome em função de uma tradição nordestina.

“O lambe-lambe tem origem no nordeste brasileiro, quando os fotógrafos usavam caixas para fazer os registros fotográficos, com o tempo essas caixas passaram a ser usadas como palco para o teatrinho e isso foi ressignificado em uma nova expressão teatral”, explicou Iris Brasil.

De acordo com ela, em Manaus, essa manifestação tem no Ceta, seu aparente único representante. “Até onde sei, em matéria de teatro lambe-lambe, só conheço o Ceta, nesses últimos cinco anos”, observou.

Formado desde 2019, o Ceta tem como membros a atriz e diretora Iris Brasil, o ator e produtor Victor Lucas Oliver e as atrizes Karine Magalhães e Stephane Bacelar. “Somos amigos, ex-colegas de faculdade e cada um tem sua especificidade na companhia”, destacou.

Entre os trabalhos do Ceta estão uma releitura de Samuel Beckett “Fim de Partida”, “Mocinha” e “O Lado de Dentro” de onde foi extraído “Lá Vem o Rio”.

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