Comunidade Acadêmica lamenta morte de professora aposentada da Ufam: ‘patrimônio da universidade’
10 de fevereiro de 2022

Malu Dacio e Marcela Leiros – Da Revista Cenarium
MANAUS — A partida da professora aposentada da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Conceição Derzi, aos 72 anos, confirmada na manhã desta quinta-feira, 10, causou profunda tristeza, tanto à comunidade acadêmica da área de Comunicação Social quanto a egressos, em especial do curso de Jornalismo.
A docente atuou diretamente na formação de profissionais de comunicação por mais de 30 anos no Amazonas. A morte por complicações causadas pela Covid-19 foi confirmada pelo diretor da Faculdade de Comunicação e Informação (FIC) da Universidade Federal do Amazonas, Allan Rodrigues.
“A professora Conceição Derzi contribuiu com a Ufam por mais de 30 anos e sempre militou em defesa do ensino público de qualidade, em defesa das minorias, das mulheres, ajudou a formar várias gerações de comunicadores. Ela tem todo nosso reconhecimento. Sua contribuição foi inestimável para nossa instituição”, ressaltou o diretor da FIC.

O Centro Acadêmico de Jornalismo da Ufam (Cajor) lembrou que ainda enquanto estudante de Jornalismo, Maria Conceição de Lima Derzi lutou pelos direitos em uma época de muita repressão, que a representação estudantil clamava por ser ouvida.
“Hoje, seguimos nossos próprios caminhos, mas os objetivos daquela fervorosa ativista estudantil perduram conosco. Sem dúvidas, sua presença foi marcante para muitos jornalistas e demais profissionais de Comunicação que passaram por sua sala de aula. Hoje, nos despedimos da Profª Derzi, mas sua memória permanecerá com todos que a conheceram”, disse a nota conjunta com o Centro Acadêmico de Relações Públicas (Carp).
Uma das últimas presidentes do extinto Cucos, a jornalista Maysa Leão, que se formou na Ufam, em 2018, foi saudosa ao lembrar da professora que tanto inspirou.
“O centro acadêmico é o primeiro espaço político da vida dos estudantes, é fundamental para o exercício da cidadania. Derzi nos instigava a participar dos movimentos sociais, nos convidou a pensar no cidadão jornalista, comprometido com os interesses coletivos”, contou Maysa.
“Com ela, percebi que a função social do jornalismo era indissociável da defesa dos direitos humanos”, lembrou a jornalista.
A professora foi responsável pela criação, no dia 30 de agosto de 1978, no Instituto de Ciências Humanas e Letras da Universidade do Amazonas (UA) do Centro Cultural de Comunicação Social (Cucos), que abrangeu por décadas os cursos de Jornalismo e Relações Públicas.
“Sem renunciar à polêmica e ao amor”
A professora do curso de Jornalismo Ivânia Vieira afirmou que a passagem de Conceição Derzi na terra tem marca forte. “Polêmica, viveu entre o amor e o desamor, os conflitos e pontes de apaziguamento difíceis de serem percebidas em primeiro plano. Leitora assídua e portadora de discurso próprio, posicionamentos firmes, travou inúmeros embates”, destacou.
Ao Cajor, Ivânia disse que ‘Ceiça’ – como chamava Conceição carinhosamente – “era fogo e ardia nas artes”. “Na quebra das normalidades das coisas, do sistema. Fez da polêmica um dos instrumentos de vida e polemizou em todos os espaços, sem deixar de amar impertinentemente”, definiu Ivânia.
Ivânia lembra que na militância pela organização de mulheres, de estudantes e mulher lésbica, Derzi não contemporizou. “Brigou pelas ideias que defendia e, assim, fez o seu caminhar, o seu existir”, disse a professora.
“Como militante de várias causas, dos estudantes, dos professores, das mulheres trabalhadoras, pelo fim da violência contra as mulheres, na defesa dos direitos do que hoje é o Movimento LGBTQIA+. Faz o regresso para a casa definitiva sem renunciar a polêmica e ao amor”, lembrou.
Ex-colega e ex-professor, Antônio Valle da Costa, o ‘Tomzé’, disse que Derzi inquietava as pessoas por seus posicionamentos fortes, críticos e, às vezes, agressivos, mas sempre verdadeiros.
“A partir do momento em que passamos a ser colegas docentes, nossa relação se intensificou e partilhamos – não sem vivermos momentos de embates – vários movimentos políticos em Manaus e dentro da Ufam, na busca de uma educação livre, libertadora e democrática, no melhor espírito de Paulo Freire”, relembrou Tomzé.
O professor Luiz Antonio Nascimento, do Departamento de Ciências Sociais, lamentou profundamente o falecimento de Derzi. “Desde que a conheci foi firme em suas convicções, inclusive conhecida por se assumir como homossexual, e discutia com firmeza as questões relativas à orientação sexual. Nos deixará saudades”, afirmou o docente.
Comoção nas redes
No Twitter, alunos, ex-alunos e professores lamentaram a perda da professora. Veja algumas publicações:
Instituições lamentam
Em nota, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) se solidarizou aos familiares e amigos pelo falecimento, aos 72 anos, ocasionado por complicações da Covid-19. A Associação dos docentes da Ufam (Adua) manifestou pesar pelo falecimento em decorrência da Covid-19.
“Docente atuou por mais de 30 anos no Curso de Comunicação Social/Jornalismo da instituição. Com forte atuação na militância desde a juventude, Derzi atuou contra a Ditadura Militar e em movimentos como o feminista e da LGBTQIA+”, diz trecho da nota.