Comunidades tradicionais protestam contra projeto de aterro e Governo do Pará
Por: Fabyo Cruz
25 de setembro de 2025
BELÉM (PA) – Moradores dos municípios paraenses de Acará e Bujaru se mobilizaram nesta quinta-feira, 25, em Belém para protestar contra a instalação de dois aterros sanitários na região. O ato, que reuniu cerca de 400 pessoas, contou com a participação de comunidades quilombolas, ribeirinhas, empresários de balneários e comerciantes locais, e teve como foco o Governo do Pará e as empresas Revita Engenharia S/A, do Grupo Solvi, e Ciclus, responsáveis pelo projeto.
A manifestação ocorreu em frente ao Palácio do Governador e bloqueou parcialmente uma das vias da Avenida Almirante Barroso. Segundo os participantes, a proposta representa riscos ambientais, sociais e econômicos significativos para Acará, Bujaru e para a Região Metropolitana de Belém (RMB). Eles afirmam que o empreendimento configura racismo ambiental, já que será instalado a cerca de 530 metros de territórios quilombolas sem consulta prévia às populações afetadas.
A obra, ainda em análise pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), prevê a destinação de 1,6 mil toneladas diárias de resíduos sólidos provenientes da Região Metropolitana de Belém e do próprio município de Bujaru. O aterro seria instalado em uma área de 200 hectares às margens da PA-483 (Alça Viária). Segundo lideranças quilombolas, a iniciativa ameaça ecossistemas locais, compromete a qualidade da água e coloca em risco modos de vida tradicionais.
Sete representantes das comunidades foram recebidos por integrantes do governo estadual, enquanto os demais permaneceram mobilizados do lado de fora. Durante a manifestação, a Polícia Militar do Pará (PM-PA) dispersou parte do grupo com bombas de gás de pimenta e balas de borracha, atingindo idosos, crianças e gestantes, conforme relatos dos participantes.
Um manifestante, que não quis se identificar, informou à CENARIUM que houve contato com a ouvidoria do governo, representada por Nilma Lima, e que foi marcada uma reunião para a próxima semana com representantes do governo, da Semas e de outros órgãos, para tratar do processo de licenciamento do aterro sanitário. Segundo ele, o protesto ocorreu em razão da possível instalação de um “lixão” na região do Acará e Bujaru, nas proximidades da Alça Viária.
“Falaram com a ouvidoria do governo, Nilma Lima. Encaminharam uma reunião para a próxima semana para tratar do processo de licenciamento do aterro sanitário, com o governo, Semas e outros órgãos. O protesto é contra a possível instalação de um ‘lixão’ na região do Acará e Bujaru, nas mediações da Alça Viária”, disse.
Ainda de acordo com o manifestante, o protesto terminou no fim da tarde, após a ação da Polícia Militar, e os participantes iniciaram o deslocamento de volta para suas comunidades.
A CENARIUM solicitou esclarecimentos ao Governo do Pará, à Semas e à Polícia Militar do Pará sobre a situação. A PM informou, por meio de nota, que “foi acionada para assegurar o direito de ir e vir da população. Equipes especializadas desobstruíram a via, atuando de forma técnica e sem que houvesse confronto”. A corporação ressaltou ainda que “um dos manifestantes arremessou um objeto contra um motociclista e foi levado à delegacia para prestar esclarecimentos”.
Já a Semas, também via nota, informou que “o processo do projeto de aterro sanitário no município do Acará foi indeferido em razão do não atendimento a requisitos mínimos para análise técnica acerca do licenciamento pretendido pelo empreendimento. Já o projeto para o município de Bujaru, aguarda o início das consultas às comunidades tradicionais por parte do órgão interveniente encarregado pelo processo de consulta”.