Conhecido por faltar reuniões na Secretaria da Saúde para treinar, vice-governador do AM tenta se lançar na CPI da Pandemia

Carlos Almeida durante treino em uma academia em Manaus (Reprodução)

Paula Litaiff – Da Revista Cenarium

Alvo de investigações dos ministérios públicos Federal (MPF) e Estadual (MP-AM) na gestão de recursos da Saúde, o vice-governador do Amazonas Carlos Almeida (sem partido) chamou a atenção da mídia nacional ao tentar emplacar o próprio nome como “denunciante” na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso. Carlos virou notícia do Jornal Nacional, no ano passado, após ser filmado saindo com uma mochila de uma reunião com empresários, durante a “primeira onda” da pandemia em Manaus.

A CPI investiga a conduta do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), de governadores e do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), na administração de recursos para conter o avanço do novo coronavírus, vírus causador da Covid-19 que já matou mais de 400 mil pessoas no País. Atualmente, a CPI analisa e vota requerimentos para inserção de testemunhas na investigação.

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No Amazonas, Carlos Almeida foi manchete constante na mídia local em 2019 pela gestão desastrosa à frente da Secretaria de Saúde do Estado (SES-AM), onde ficou apenas três meses. No curto período de administração, ele ganhou a antipatia e a suspeita dos membros do Ministério Público.

Em meio a uma crise herdada de governos anteriores, com o atraso de pagamento de funcionários terceirizados da Saúde no Amazonas, Carlos Almeida, no primeiro ano de mandato como vice-governador e secretário de Estado de Saúde, faltava reuniões com promotores e procuradores de Justiça para treinar na academia.

“Admirou-me muito a iniciativa do vice-governador do Amazonas em querer participar da CPI da Pandemia, sendo que na condição de gestor da Saúde no Amazonas, sempre deixou a desejar e tratou por menos a sua função”, observou um membro do Ministério Público à reportagem.

E continuou: “Era comum ele (Carlos Almeida) deixar representantes do Ministério Público à espera para fazer seus treinos diários durante as manhãs, enquanto funcionários da Saúde esperavam uma solução para atrasos nos salários e a população sofria com atendimento precário nos hospitais”, completou.

Crime organizado

Com a falta de transparência nos atos à frente da Secretaria de Saúde, Carlos Almeida foi alvo dos promotores de Justiça. Os membros do MP-AM chegaram a constituir, em 2019, um Grupo de Trabalho (GT) para acompanhar e monitorar as ações do vice-governador do Amazonas.

O GT foi formado por membros do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) e pelas promotorias especializadas na Defesa dos Direitos Humanos à Saúde Pública e de Proteção do Patrimônio Público. O procedimento foi publicado no Diário Oficial do MP-AM.

Segundo informações do Ministério Público, a Portaria 467/2019/PGJ, que criou Grupo de Trabalho, se deu “para acompanhar as medidas adotadas pelo Poder Público para enfrentamento da crise no sistema de Saúde”, quando Carlos era secretário de Saúde.

Colapso nos hospitais

Neste ano, o Ministério Público do Amazonas instaurou um inquérito civil para investigar pagamentos irregulares do vice-governador, enquanto titular da Secretaria de Saúde. O inquérito possui relação com os contratos de gerenciamento do Hospital Delphina Aziz e a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Campos Sales.

Pelas investigações preliminares, as duas unidades de Saúde entraram em colapso durante a pandemia do novo coronavírus em 2020 por falta de planejamento no ano anterior. Antes de sair do cargo em 2019, Carlos Almeida antecipou pagamentos à instituição que gerencia o Hospital Delphina e a UPA.

Para os promotores, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam) evidenciou, que durante a pandemia de Covid-19, o Hospital Dephina Aziz não operacionalizou em sua totalidade por conta de irregularidades.

“Levando em consideração, ainda, que se faz imperioso averiguar, para efeitos de reparação cível, se houve pagamentos indevidos ao Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano (INDSH), nos anos de 2019 e 2020, com anuência ou omissão dos servidores e gestores da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas, desde a celebração do Contrato de Gestão nº 001/2019-Susam”, diz trecho do inquérito.

Alvo da PF

A reportagem do JN informou que a Polícia Federal suspeita da participação do vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida, no processo de intermediação dos equipamentos. A PF buscava descobrir porque o vice-governador fazia reuniões com integrantes do governo, parlamentares e empresários em um escritório de advocacia, que fica na zona Centro-Sul de Manaus, e não no gabinete dele na sede do Governo do Amazonas.

O desdobramento da segunda fase da Operação Sangria – investigação da Polícia Federal que apura o desvio de recursos públicos na compra de respiradores no Amazonas – rendeu uma reportagem de cinco minutos no Jornal Nacional (JN) da Rede Globo em 2020, com o vazamento de imagens e conversas no aplicativo WhatsApp entre ex-secretários de Estado.

Os agentes da Polícia Federal suspeitam, de acordo com a matéria do JN, que os encontros de Carlos Almeida serviam para o “pagamento de acerto de propina”. A reportagem mostrou ainda imagens obtidas pela investigação gravadas em maio do ano passado.

No vídeo, Carlos Almeida aparece chegando ao Edifício Fórum Business, com assessores. Em seguida, a matéria do Jornal Nacional mostra que o vice-governador é filmado saindo com uma bolsa, mas não dá detalhes. As investigações estão em andamento no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

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