Considerada primeira universidade do Brasil, Ufam completa 113 anos; professores pedem valorização

Reitora em exercício, Terezinha Fraxe, e reitor licenciado Sylvio Puga (Ricardo Oliveira/ Cenarium)

Nauzila Campos – Da Revista Cenarium

MANAUS — O Centro Acadêmico de Direito da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) se chama ’17 de janeiro’. Não é à toa: foi nesta data, em 1909, que o curso inaugurou a primeira instituição de Ensino Superior de todo o País (segundo a maioria dos teóricos). À época, o local se chamava ‘Escola Universitária Livre de Manaós’. A capital — nomeada Manaós, por isso o nome da Faculdade de Direito — vivia o período áureo da borracha e a República havia sido recém-proclamada em 1889. Em 17 de janeiro de 2022, a história completa da instituição comemora 113 anos.

O prédio que inaugurou a Ufam, ainda localizado na Praça dos Remédios, possui a arquitetura europeia — assim como todo o Centro Histórico de Manaus — por viver as idealizações contemporâneas ao governador Eduardo Ribeiro, que implementou a temática Belle Époque na cidade, justificando uma visão progressista. Como referência visual, podemos citar o Teatro Amazonas e seus arredores, que lembram, em detalhes, França, Itália, Portugal…

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Primeiro prédio da Faculdade de Direito do Amazonas. O local continua à beira da Praça dos Remédios, no Centro da Cidade, e é, por Decreto, Monumento Histórico do Estado (Acervo Durango Duarte)

Em um século de história e funcionamento, a instituição também chegou a se chamar Fundação Universidade do Amazonas, a conhecida ‘UA’. Por ser mantida pelo governo federal, em 2002, a Universidade recebeu a denominação de Universidade Federal do Amazonas, por meio da Lei nº. 10.468, de 2002. Somente em 2004, a Faculdade de Direito se mudou para o atual Campus Universitário localizado no bairro Coroado, zona Leste de Manaus.

Por meio de desapropriação em favor da União, o campus foi construído sobre um sítio denominado ‘Liberdade’, nome considerado simbólico pela historiadora e pós-doutora Patrícia Melo Sampaio, que chegou à Ufam como aluna aos 16 anos de idade e afirma categoricamente: “Tudo que sou como intelectual e cidadã eu devo à Ufam. Sou profundamente grata”.

Fachada do Campus Universitário (Reprodução/ Internet)

Vínculos de várias vidas

Professores de décadas, que já foram alunos, reforçam a necessidade de sempre celebrar a existência da universidade e a contribuição dela para todo o País. É o caso de Sérgio Freire, doutor em Linguística e professor da Faculdade de Letras há 30 anos. “A Ufam faz parte da história do desenvolvimento do Estado, sendo a responsável por formar a maioria dos profissionais por décadas antes do surgimento de outras instituições de nível Superior no Estado”, conta.

Ele respira Ufam desde 1986, quando começou a graduação em Letras. A história continuou um ano após a formatura, quando em 1991 o professor Sérgio passou a ser professor concursado. A mesma Ufam continuou desenhando a carreira do linguista. “Nela fiz mestrado e ela me proporcionou fazer o doutorado na Unicamp. Fui chefe de departamento, diretor do ICHL. Ajudei a fundar a Faculdade de Letras, o Programa de Pós-graduação em Letras, coordenei o Centro de Línguas e, hoje, dirijo a Editora. Portanto, vivi e vivo ensino, pesquisa, extensão e pós-graduação”, reforça Sérgio, lembrando do slogan da instituição.

E o vínculo de Sérgio com a Ufam é tão forte que sequer começou nele. “Minha mãe já era professora da Faculdade de Educação quando comecei a estudar na Ufam. Em 2014, resolvi fazer o Enem e fiz Psicologia também. Como se vê, costumo dizer que eu estou na Ufam e ela está em mim há 36 anos. Assim como está entrelaçada com minha vida, também está com a vida de tantos amazonenses”, conclui.

Ufam comemora 113 anos como a primeira universidade do Brasil. Na foto o atual reitor Sylvio Puga, licenciado; ao seu lado, a reitora em exercício Therezinha Fraxe (Ricardo Oliveira/ Cenarium)

Valorização e defesa da educação

Em uma gestão presidencial na qual o orçamento para a educação não é prioridade, em uma data como esta, representantes da Ufam pedem atenção ao que chamam de “descaso com a ciência e a pesquisa”.

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“Nesse aniversário, vamos lembrar mais uma vez de defender a Ufam e não só ela, mas todas as universidades públicas federais, que sofrem descaso de um governo que ignora a ciência e a pesquisa”, conclui Sérgio.

Para a professora Patrícia, a Ufam cumpre o papel peculiar “de pensar na Região Amazônica e produzir ciência” como dever institucional, por isso a defesa da instituição é tão importante. “É um cenário muito conturbado de negacionismo e ataques à instituição, às universidades. A continuidade da Ufam é a garantia de combate aos agressores e de produção de conhecimento”.

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