Contaminação por mercúrio e arsênio ameaça comunidades indígenas em Altamira, no Pará
07 de setembro de 2024
A origem dessa contaminação é atribuída principalmente à atividade garimpeira (Composição: Weslley Santos/CENARIUM)
Fabyo Cruz – Da Cenarium
BELÉM (PA) – Um grave problema ambiental tem afetado as comunidades indígenas da região de Altamira (PA), município localizado na região Sudoeste do Pará: a contaminação das águas por mercúrio (Hg) e arsênio (As). A origem dessa contaminação é atribuída principalmente à atividade garimpeira, que utiliza a substância no processo de extração do ouro, liberando grandes quantidades desse metal tóxico no meio ambiente.
Atividade garimpeira na área indígena Kayapó (Reprodução/Ministério Público)
Estudo científico realizado nas bacias dos rios Curuá, Báu e Pitxatxa, na área indígena Kayapó, mediu os teores de mercúrio e arsênio na água de rios e poços, além do fator de bioacumulação desses metais em peixes e tracajás, animais amplamente consumidos pelas comunidades locais.
À CENARIUM, o pesquisador doutor em Química Luciano Silva disse que a pesquisa foi motivada por denúncias feitas ao Ministério Público Federal (MPF) sobre a presença de garimpeiros na região e o possível impacto na qualidade da água e dos alimentos consumidos pelas populações indígenas.
Pesquisador doutor, Luciano Silva, responsável pelos estudos (Reprodução/Redes sociais)
O Ministério Público acionou a professora Simone Pereira, especialista em contaminação ambiental, para liderar a análise das amostras de água e dos peixes consumidos pelos indígenas. A equipe, liderada pela docente do Instituto de Ciências Exatas e Naturais (Icen) da Universidade Federal do Pará (UFPA), coletou amostras de três rios e de três espécies de peixes: pescada-branca, piranha-vermelha e mandubé, todas comuns na dieta das comunidades.
Os resultados revelaram que, embora os níveis de arsênio nas águas estivessem dentro dos limites considerados seguros, o mercúrio apresentou valores próximos ao limite permitido pela Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), de 2005. Nos peixes, especialmente nos mandubés, os níveis de mercúrio ultrapassaram os limites estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“No Rio Curuá, a média de mercúrio nos peixes foi de 1,013 mg/kg, com algumas amostras chegando a alarmantes 4,5 mg/kg, muito acima do limite permitido de 1 mg/kg para peixes predatórios, conforme a RDC 722 de 2022 do Ministério da Saúde”, destaca Luciano.
Consequências
O mercúrio, uma vez presente no ecossistema, se acumula ao longo da cadeia alimentar passando dos peixes menores para os maiores e, por fim, para os humanos que os consomem. “Essa contaminação afeta principalmente o sistema nervoso central e é especialmente perigosa para crianças, cujo sistema imunológico é mais vulnerável”, alerta Silva. Ele cita a doença de Minamata, registrada no Japão nas décadas de 1940 e 1950, como um exemplo extremo das consequências da exposição crônica ao mercúrio.
Com a expansão do garimpo, intensificada durante a pandemia, o monitoramento e o controle da contaminação por metais pesados se tornaram ainda mais desafiadores. “Atualmente, há muito garimpo para pouca fiscalização. Monitorar cerca de cem quilômetros de rio é uma tarefa monumental para as autoridades”, afirma o pesquisador.
Diante desse cenário, a contaminação das águas e dos alimentos consumidos pelas comunidades indígenas de Altamira representa uma ameaça crescente, que exige ações urgentes das autoridades para proteger a saúde e o bem-estar das populações locais, assegura Luciano Silva.
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