Contemplado no edital Natura Musical, Festival Kariwa Bacana quer ‘descolonizar ouvidos’

A música kuximawara, símbolo de resistência cultural na região do Alto Rio Negro, dividirá o palco com outras produções independentes de artistas da Amazônia. Foto: Agenor Vasconcelos.

Malu Dacio – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – Com a proposta de promover pluralidade, a produção do Festival de música “Kariwa Bacana” foi contemplada no edital Natura Musical. O evento promoverá um encontro entre a música indígena contemporânea, cena musical da Amazônia urbana, e ainda não tem data definida.

O Festival de Música “Kariwa Bacana” é um dos 33 projetos selecionados no edital Natura Musical 2021, que recebeu 3.720 inscrições de todas as regiões do País.

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O festival é produzido pela jornalista Patrícia Borges e o músico Agenor Vasconcelos, em parceria com João Paulo Barreto, coordenador do Centro de Medicina Indígena Bahserikowi. A inspiração para o Festival é a música kuximawara, símbolo de resistência cultural no município de São Gabriel da Cachoeira (AM).

Com dois dias de programação, os produtores planejam montar um palco em frente ao Bahserikowi (Rua Bernardo Ramos, 97, Centro). “A ideia é realizar um festival para descolonizar ouvidos, romper hegemonias sonoras e compartilhar acordes ancestrais. Um festival para exaltar as vozes e a produção musical na Amazônia”, explica a produtora e jornalista Patrícia Borges. 

A produção pretende contar com apresentações de músicos da região do Alto Rio Negro e de outras cenas de música independente da região Norte. O evento será gratuito e seguirá todas as recomendações sanitárias vigentes.

Inspiração

O festival é inspirado em uma música homônima do artista Jack da Guitarra, de São Gabriel da Cachoeira, composta em 2016 durante trabalho de campo realizado pelo pesquisador Agenor Vasconcelos no doutorado em Antropologia Social pela Ufam.

“Desde a primeira vez que ouvi essa música e conheci um pouco do kuximawara e do trabalho do Jack, Ary Até Ykuema e Negão dos Teclados pensei em um festival que homenageasse essa manifestação cultural riquíssima e cheia de simbologia”, disse Patrícia.

A jornalista defendeu também que o festival é uma oportunidade de evidenciar a música contemporânea dos povos indígenas. “Lembrando que São Gabriel da Cachoeira é a cidade mais indígena do País, com 23 povos diferentes, tendo o nheengatu, o tukano e o baniwa como línguas oficiais ao lado da língua portuguesa”, afirmou.

Além do “Kariwa Bacana”, Elisa Maia e o LabVerde, ambos do Amazonas, e Marcela Bonfim, de Rondônia, também foram contemplados no Natura Musical 2021 pela região Norte. A maior conquista é perceber que a música e a cultura da nossa região estão recebendo reconhecimento nacional, afinal, a propagação e a divulgação da produção cultural do Amazonas e da região Norte é minha maior militância”, afirmou a produtora.

“Que seja um passo importante para transformar esse complexo de ‘vira-lata’ ainda presente nos amazonenses que negam a nossa cultura, valorizam os artistas de fora e acham as nossas próprias produções inferiores”, finalizou.

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