Contra invasões, garimpo ilegal e desmatamento, veja como Txai Suruí usa a internet na defesa dos povos indígenas

No programa Roda Viva, da TV Cultura, a jovem ativista reafirmou a importância da tecnologia como arma. (Catarine Hak/Cenarium)

Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – Única brasileira a discursar na abertura da 26ª Conferência do Clima, várias vezes registrada junto a ativistas de renome, como a sueca Greta Thumberg, alvo preferido para entrevistas da imprensa internacional, a jovem Txai Suruí, de 24 anos, tem usado a força das redes sociais para divulgar a sua bandeira de luta. Nascida na reserva indígena 7 de Setembro, em Rondônia, a ativista brasileira mostra, pela internet, as mazelas que os povos originários da floresta enfrentam em suas comunidades distantes da Amazônia.

Não foi diferente quando, acompanhada do pai, o também ativista Almir Suruí, participou da última edição do programa Roda Viva, da TV Cultura. No programa, a jovem ativista reafirmou a importância da utilização da tecnologia como ferramenta.

Tapete de devastação

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A imagem abaixo é uma comparação entre os anos de 1984 e 2016, período em que o desmatamento avançou ao redor do território indígena que tem quase 250 mil hectares, lar dos Paiter Suruí, povo com mais de 6 mil anos de história e tradições, que se subdividem entre 28 aldeias. A denúncia é de Txai Suruí, que escancarou o tapete de destruição em um vídeo publicado por meio de uma rede social, reunindo imagens de satélite ao longo de 32 anos.

Imagens de satélite que mostram a evolução do desmatamento no entorno da terra indígena onde moram os Paiter Suruí. (Imagem: reprodução de satélite)

“É por isso que eu digo que nós, povos indígenas, estamos na linha de frente da luta contra as mudanças climáticas. O satélite mostra, ano a ano, o avanço do desmatamento em Rondônia, mas uma área resiste: meu lar, a Terra Indígena Sete de Setembro. É muito clara a diferença da floresta dentro e fora do território”, escreveu a jovem.

Em julho deste ano, quatro pessoas foram presas em flagrante pela Polícia Federal por desmatarem dentro da Unidade de Conservação.

Gado em cemitério indígena

Em outra postagem, a jovem liderança denuncia a invasão e a queimada promovidas por criadores de gado no território da etnia Uru-Eu-Wau-Wau, também de Rondônia. Os invasores abriram pasto em um antigo cemitério indígena, local sagrado para os habitantes das comunidades. Segundo Txai, a descoberta se deu após o satélite da Nasa apontar um grande incêndio na reserva. 

“Apesar de distante das aldeias, o fogo foi tão grande que a fumaça chamou a atenção dos indígenas. Poucos dias depois, fui averiguar o local junto com a Equipe de Monitoramento da Associação Jupaú (entidade de defesa etnoambiental dos Uru-Eu-Wau-Wau) e o que encontramos foi um absurdo: invasores queimaram a floresta para colocar milhares de cabeça de gado em cima de um antigo cemitério indígena”, revelou com indignação.

Txai Suruí realiza denúncias por meio das redes sociais. (Reprodução/Twitter)

A terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau está localizada na região central do Estado de Rondônia, habitada por outros oito povos:  os Amondawa, Isolados Bananeira, Isolados do Cautário, Isolados no Igarapé Oriente, Isolados no Igarapé Tiradentes, Juma, Kawahiva Isolados do Rio Muqui e Oro Win.

Só no mês de setembro, o desmatamento aumentou 538% em comparação com agosto deste ano, o equivalente a 83 hectares de terra. O território tem ainda 805 imóveis e propriedades irregulares com cadastros em sobreposição à área da Terra Indígena (TI), segundo o Ministério Público Federal (MPF) e, por isso, é a segunda TI com o maior índice da categoria.

Tecnologia como ‘arma’

Durante a edição da última segunda-feira, 29, do programa Roda Viva, da TV Cultura, da qual a CENARIUM participou, Txai Suruí reafirmou o uso da tecnologia como arma para os povos indígenas. O argumento rebateu a ideia preconceituosa de que os povos tradicionais “não podem prosperar e utilizar a modernização da comunicação a seu favor”.

“Os povos indígenas se utilizam da tecnologia como arma, exatamente para estar levando as nossas vozes a cada vez mais espaços (…) A gente ainda não é escutado da mesma forma. E eu acho que a gente só muda esses espaços descolonizando eles”, respondeu a ativista.

Hoje, a ativista investe na divulgação das ideias que defende em perfis do Instagram, Twitter, mas o nome dela é citado em todas as redes sociais, bastando uma pesquisa rápida em programas de busca para achar referências.

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