‘COP das Baixadas’ dá visibilidade a comunidades excluídas da COP30
Por: Fabyo Cruz
21 de agosto de 2025
BELÉM (PA) – A Vila da Barca, uma das maiores comunidades sobre palafitas da América Latina e símbolo da resistência das periferias amazônicas, vai sediar a 3ª edição da “COP das Baixadas“ nos dias 22, 23 e 24 de agosto. Localizada em Belém (PA), a comunidade já denunciou diversas vezes estar à margem dos investimentos em infraestrutura voltados à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que ocorre em novembro deste ano na capital paraense.
Enquanto moradores afirmam que as obras da COP30 se concentram em áreas centrais e de maior valorização imobiliária, a COP das Baixadas transforma a própria Vila da Barca em centro de debate sobre justiça climática. A programação é gratuita, aberta ao público e deve reunir cerca de 800 pessoas, entre lideranças comunitárias, jovens, pesquisadores e coletivos sociais no espaço de formação artística Curro Velho.

Idealizada por jovens da Região Metropolitana, antes mesmo da confirmação de Belém como sede da COP30, a iniciativa consolidou-se desde 2023 como espaço de incidência política e cultural. A proposta é aproximar o debate climático da realidade concreta de territórios periféricos, frequentemente invisibilizados nas grandes negociações internacionais.
“Devemos olhar para a COP das Baixadas porque ela mostra que as soluções não vêm apenas dos grandes fóruns internacionais, mas também das periferias, que historicamente já desenvolvem práticas de resistência e cuidado com os territórios”, afirma Ruth Ferreira, historiadora, ativista socioambiental e uma das co-idealizadoras do evento.
Programação
A abertura será na sexta-feira, 22, às 17h, com credenciamento e mesa sobre “Do Global ao Local: Como a COP30 pode transformar o financiamento climático nas periferias”. Ainda no primeiro dia, acontece o lançamento da revista Vozes da Vila, produzida por adolescentes da comunidade, que nesta edição discute os impactos das obras da COP em Belém.
O sábado, 23, contará com mesas simultâneas sobre mobilidade urbana, cultura, saneamento e juventudes, além de tribunais simbólicos e oficinas sobre justiça climática e espiritualidade. O encerramento, no domingo, 24, terá pedal comunitário, cortejo, oficinas, atividades culturais e apresentação de DJs da comunidade.
O pedal comunitário sairá pela manhã, a partir das 6h30, da Praça do Conjunto Verdejante 4, em Águas Lindas. A iniciativa pretende unir moradores, coletivos e participantes em um movimento simbólico que celebra a força das comunidades no debate climático. Além de marcar a programação de encerramento, o pedal reforça a urgência de repensar os padrões de mobilidade urbana e valorizar a bicicleta como um meio acessível, sustentável e essencial no enfrentamento à crise climática.
Yellow Zones e descentralização
Entre as novidades da conferência estão as Yellow Zones, espaços comunitários que descentralizam o debate climático e funcionam como contraponto às green zones e blue zones das COPs oficiais. Em Belém, já existem quatro espaços em funcionamento, entre eles a Biblioteca Comunitária Barca Literária, na Vila da Barca, e o Gueto Hub, no Guamá. Até o fim de agosto, a expectativa é que sete zonas estejam ativas pela cidade.

A COP das Baixadas surgiu após a experiência de Jean Ferreira, coordenador do Gueto Hub, que participou da COP27, no Egito, em 2022. Ao perceber a ausência de periferias e povos amazônicos nos espaços oficiais, trouxe para Belém a proposta de uma conferência feita pelas próprias comunidades.
A iniciativa conta com apoio de instituições como o Fundo Mundial para a Natureza se WWF-Brasil, Fundação Avina, Oxfam Brasil, Instituto Clima e Sociedade (iCS), Fundação Cultural do Pará (FCP) e Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
SERVIÇO:
3ª edição da COP das Baixadas
Quando: 22, 23 e 24 de agosto de 2025
Onde: Curro Velho, Vila da Barca, Belém (PA)
Entrada: gratuita e aberta ao público.