‘COP do povo do mundo inteiro’, afirma Lula ao se despedir de conferência em Belém


Por: Ana Cláudia Leocádio

19 de novembro de 2025
‘COP do povo do mundo inteiro’, afirma Lula ao se despedir de conferência em Belém
Lula está em Belém e fez um balanço sobre a COP30 nesta quarta-feira, 19, enquanto as negociações estão na fase final (Ricardo Stuckert/PR)

BELÉM (PA) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se despediu da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém (PA), nesta quarta-feira, 19, afirmando que o evento realizado na Amazônia foi a “COP do povo do mundo inteiro”, com a maior participação indígena da história e onde todos puderam se manifestar. Lula chegou à capital paraense pela manhã e manteve reuniões durante todo o dia com negociadores dos países emergentes, ministros do grupo negociador da União Europeia e dos grupos da África e Pequenos Estados Insulares, representantes dos povos indígenas e da sociedade civil, além de cientistas, do setor produtivo e de entidades subnacionais.

Havia a promessa de que o Pacote de Belém, onde consta a principal proposta do presidente de estabelecer um mapa do caminho para longe dos combustíveis fósseis, fosse votado nesta quarta-feira, o que não aconteceu diante das dificuldades nas negociações com os 194 integrantes da Convenção Clima. Lula não deu qualquer indicação de que conseguirá o consenso para aprovar a medida no documento final da COP de Belém e não deixou que os jornalistas fizessem questionamentos.

O mapa do caminho é um documento com a definição de todas as estratégias que os países devem adotar, com prazos definidos, para fazer a transição gradativa dos combustíveis fósseis, responsáveis pelo aquecimento do planeta. Além do financiamento da agenda de adaptação, conseguir inserir essa proposta nos documentos finais da COP30 seria um legado a ser deixado pela COP na Amazônia.

Presidente Lula conversou com a imprensa nesta quarta-feira, 19, no Parque da Cidade em Belém (Ricardo Stuckert/PR)

Sem garantia de acordo, Lula preferiu fazer um balanço do que foi a conferência em Belém e elogiar o esforço de realizá-la na Amazônia, o que levou pessoas do mundo inteiro e de outros Estados brasileiros a conhecer a realidade, as pessoas e as complexidades da região. Ao citar como são esse tipo de evento em outros países, com rigoroso esquema de segurança e manifestações populares repelidas, Lula disse que, no Brasil, foi diferente.

“Por isso que a COP não é uma COP do André [Corrêa do Lago], que é presidente [da COP30], ou do Guterres, que é o secretário-geral da ONU, ou uma COP do Lula, que é o presidente da República. Esta aqui pode ser chamada a primeira COP do povo do mundo inteiro, porque aqui teve gente do mundo inteiro fazendo suas manifestações”, afirmou.

Lula foi pressionado por duas manifestações dos povos indígenas na primeira semana de realização da COP30, entre os dias 10 e 15. Uma delas foi realizada por indígenas do Baixo Tapajós, que cobram do presidente a revogação do decreto que abre para concessão as hidrovias dos rios Madeira, Tapajós e Tocantins, entre outras reivindicações. A segunda foi liderada pelos indígenas Munduruku, que cobram maior proteção aos seus territórios e demarcação de terras.

O presidente se disse muito feliz pelo que a COP em Belém entregou, como a Marcha Global pelo Clima, que levou 70 mil pessoas às ruas de Belém, no último sábado, 15, feriado do Dia da Proclamação da República, que ele chamou de ordeira, bonita e que entregaram documentos para a presidência da conferência.

Belém (PA), 14/11/2025 – Marcha Global pelo Clima, evento paralelo à COP30. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil)

Estou muito feliz porque, pela primeira vez na História das COPs, 3.500 indígenas participaram. Porque as mulheres não são objeto nessa COP. As mulheres têm que ser tratadas como a questão de gênero, merecem ser tratadas com respeito na participação plena, porque as mulheres não são cidadãos de segunda classe. E é preciso fazer com que nós, dirigentes, aprendamos isso”, ressaltou Lula, que estava acompanhado da primeira-dama, Janja da Silva, e a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.

Na avaliação de Lula, a maior conferência sobre o clima realizada no Brasil, que termina na sexta-feira, 21, tem um resultado simbólico e já superou as demais realizadas anteriormente. “Essa COP foi um pouco isso, por isso que ela foi feita em Belém, uma cidade que, segundo muita gente no Brasil, não estava preparada para fazer a COP. Isso aqui fez uma COP melhor do que a COP de Copenhague, do que a COP de Dubai, do que a COP de Paris, do que a COP de Londres, do que a COP de qualquer lugar, porque aqui o povo foi mais povo, o povo participou mais”, declarou.

De Belém, Lula seguiu para Brasília na noite desta quarta-feira. Segundo ele, após a COP30, deverá participar da abertura do Salão do Automóvel, em São Paulo, evento que não ocorre há sete anos e inicia na sexta-feira, 21. Em seguida, o presidente embarca para a próxima Cúpula de Líderes do G20, em Joanesburgo, na África do Sul, no sábado, 22, e domingo, 23.

“Eu estou tão feliz que saio daqui para ir para Brasília, certo de que os meus negociadores irão fazer o melhor resultado que uma COP pode oferecer ao planeta Terra”, reiterou. Os negociadores do Brasil na COP30 são o presidente da conferência, embaixador André Corrêa do Lago; a diretora-executiva, Ana Toni; e o secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores e chefe da delegação negociadora brasileira, Maurício Lyrio.

Corrêa do Lago destacou os avanços das negociações do dia, sem afirmar categoricamente se será possível chegar ao consenso sobre a proposta brasileira do mapa do caminho para os combustíveis fósseis. O diplomata ressaltou que a COP30, tanto na Zona Azul quanto na Zona Verde, apresentou centenas de iniciativas de implementação já disponíveis e alinhadas ao enfrentamento das mudanças climáticas.

O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, ao lado do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (Ueslei Marcelino/COP30)
Negociações seguem até dia 21

O 10º dia da COP30 foi marcado pelas manifestações de ministros do Meio Ambiente de países da América Latina – como Chile, Peru, Guatemala, Uruguai e Costa Rica – que pedem que a agenda de adaptação seja decidida ainda em Belém. Essa agenda inclui uma lista de indicadores e o financiamento, por parte dos países desenvolvidos, de projetos climáticos em nações em desenvolvimento.

O ministro do Meio Ambiente da Guatemala, Edwin Josué Castellanos López, afirmou que há um esforço de coordenação entre ministros e vice-ministros ambientais da região, representados pelo grupo Ailac, que busca uma posição unificada diante de vulnerabilidades e dificuldades financeiras comuns, apesar de diferenças políticas sobre os caminhos para as soluções.

“O que acontece é que falta que se assumam as responsabilidades que os países que têm poluído precisam assumir. Eles têm que reconhecer que o problema foi causado por eles e que o problema vem principalmente dos combustíveis fósseis. Então são esses dois pontos: apoiar financeiramente porque eles causaram o problema e começar realmente a buscar uma alternativa que não dependa do petróleo, começar a nos mover para além do petróleo”, afirmou.

Negociações entre partes que integram a COP30 seguem até sexta-feira, 21 (Rafa Neddermeyer/COP30)

A diretora-executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, avaliou que a presença de Lula e do secretário-geral da ONU, António Guterres, em Belém, é um sinal claro de que há compromisso para que a COP30 apresente dois mapas do caminho: um para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e outro para o fim do desmatamento global até 2030.

“As apostas são altas, mas Lula e Guterres parecem ter uma agenda clara para impulsionar uma ambição climática muito maior e garantir que esta COP alcance um resultado histórico. Ambos precisam ter sucesso e, se necessário, convocar chefes de Estado para desbloquear resultados cruciais em financiamento, adaptação, transição justa e florestas”, disse Pasquali. As negociações seguem agora até sexta-feira.

Editado por Adrisa De Góes e Jadson Lima

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