COP30: Entenda como áreas úmidas da Amazônia são vitais ao futuro climático
Por: Fred Santana
05 de setembro de 2025
MANAUS (AM) – Com menos de 5% da área continental do planeta, a Amazônia concentra vastas áreas úmidas que regulam o clima e mantêm a maior reserva de água doce do mundo. Esses ecossistemas, junto aos chamados “rios voadores”, estarão no centro das discussões da Conferência das Partes pelo Clima da ONU (COP30), que acontecerá entre os dias 10 e 21 de novembro, em Belém (PA).
As paisagens úmidas amazônicas representam entre 15% e 20% de todas as áreas úmidas do planeta, segundo levantamentos reunidos pelo Grupo de Pesquisa em Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (GP-MAUA), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), em parceria com instituições nacionais e internacionais. Esse conjunto inclui várzeas, igapós de águas claras e escuras, buritizais e campinaranas, ecossistemas que reforçam a dimensão global da Amazônia e prestam serviços ecossistêmicos fundamentais, como armazenar e purificar a água, mitigar cheias e secas, recarregar aquíferos e manter os ciclos biogeoquímicos.

“Cerca de 30% da área da bacia amazônica correspondem a áreas úmidas (AUs) de diferentes categorias. Esses ambientes são verdadeiros reservatórios de água, tendo um papel de “esponja” na paisagem. Elas amortecem eventos extremos de cheias e secas, abrigam e geram biodiversidade, entre outras funções. A água que passa por esses ambientes abastece o rio Amazonas, que lança ao mar quase 20% de toda a água doce do planeta”, explica Maria Teresa Fernandez Piedade, Pesquisadora do INPA, especialista em ecologia de Áreas Úmidas.
“Essa água alimenta também os aquíferos e o lençol freático, sendo utilizada pelas plantas, que a eliminam em sua evapo-transpiração – formam-se assim os “rios voadores”, que abastecem o agronegócio do Sudeste e de outras regiões. As AUs são ambientes vitais e devem ser preservados e considerados em políticas públicas”, ressalta a pesquisadora.
Refúgios de biodiversidade
Às vésperas da COP30, que será realizada em novembro em Belém (PA), a Amazônia se apresenta como peça-chave para as negociações climáticas globais. A conservação de suas áreas úmidas e a manutenção dos rios voadores serão destaques na pauta, dado o papel que exercem tanto no equilíbrio regional quanto no clima de outros continentes.
Esses ambientes são também refúgios de biodiversidade e guardam vínculos históricos com a ocupação humana na Amazônia. Muitos sítios arqueológicos de populações indígenas foram encontrados em regiões de transição entre áreas alagáveis e terra firme, enquanto comunidades ribeirinhas desenvolveram sistemas de pesca, agricultura e manejo de recursos florestais ajustados ao ciclo previsível das cheias e vazantes.
O coordenador do Projeto Ecológico de Longa Duração (Peld-Maua), o pesquisador Jochen Schöngart, chama atenção para a importância das áreas úmidas não apenas como ecossistemas de riqueza natural, cultural e econômica para toda a região, mas também por outros benefícios que prestam à sociedade. “Paisagens úmidas fornecem serviços ecossistêmicos vitais para a sociedade e diversos setores públicos e privados, como armazenar e purificar a água, tamponar a descarga dos rios mitigando cheias e secas severas, recarregar as águas subterrâneas, além de reter sedimentos e manter os ciclos biogeoquímicos”, explicou.

Schöngart defende que as estratégias de conservação devem levar em conta a variedade de espécies de fauna e flora, suas interações biológicas e funções nos ecossistemas, os serviços que esses ambientes oferecem e também os aspectos sociais, econômicos e ambientais.
Na perspectiva do cientista, a abordagem multi- e interdisciplinar é fundamental para garantir o uso sustentável desses ambientes críticos, que representam grandes desafios para a ciência, para os povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais (PIQCTs), além da formulação de políticas públicas em diferentes níveis. “Somente assim seria possível orientar ações nacionais e internacionais voltadas ao uso racional das paisagens úmidas e à adaptação desses ecossistemas à mudança do clima em curso”, salienta.
Dia da Amazônia
Maior bioma brasileiro, berço da maior biodiversidade dentre as florestas tropicais do mundo, a Amazônia é celebrada neste 5 de setembro, data que marca a criação da Província do Amazonas pelo imperador D. Pedro II, em 1850. Com aproximadamente 5 milhões de km² de floresta, a Amazônia se estende ao longo de nove países da América do Sul, sendo 60% da área desse bioma no Brasil. Presente nos sete Estados da Região Norte, além do Maranhão e Mato Grosso, a Amazônia é tão extensa que, se fosse um país, seria o sétimo maior do mundo.
A maior bacia hidrográfica do mundo é a Amazônica, que detém 20% da água doce do mundo e aproximadamente 80% das águas superficiais do Brasil. Cerca de 80% da área do bioma é terra firme, mas também há regiões alagadas onde diferentes espécies prosperam. Na Amazônia, também há floresta de várzea inundada; florestas de igapó, superfícies alagadas onde vivem as vitórias régias; e os manguezais próximos ao mar, onde a água é salobra, tornando-se o lar ideal para vários tipos de crustáceos. A Amazônia abriga 85% das espécies de peixe da América do Sul; possui mais de 400 espécies de anfíbios; 1.300 e aves e mais de 400 mamíferos.
