COP30 ignora combustíveis fósseis em novo rascunho e especialistas criticam texto


Por: Jadson Lima

21 de novembro de 2025
COP30 ignora combustíveis fósseis em novo rascunho e especialistas criticam texto
A ausência do termo gerou reações de especialistas e organizações da sociedade civil (A ausência do termo gerou reações de especialistas e organizações da sociedade civil (Ralf Vetterle/Pixabay)

MANAUS (AM) – O novo rascunho do chamado Pacote de Belém, divulgado nesta sexta-feira, 21, pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), deixou de incluir, novamente, a referência a um plano explícito de eliminação progressiva do uso de combustíveis fósseis. A ausência do termo gerou reações de especialistas e organizações da sociedade civil, que consideram o documento insuficiente para orientar a transição energética global.

Esses grupos voltaram a defender a necessidade de um plano internacional que estabeleça diretrizes para a redução do consumo de petróleo, gás e carvão. A diretora executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, afirmou que as metas de emissão previstas para 2035 estão aquém do esperado e declarou que o último texto divulgado pela UNFCCC “contribui muito pouco para reduzir a lacuna de ambição de 1,5°C”. Pasquali pediu que as delegações rejeitem a proposta e a encaminhem novamente à presidência da COP30 para revisão.

A diretora executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali (Reprodução/Greenpeace)

“A COP30 demonstrou um apoio crescente a um roteiro para o abandono dos combustíveis fósseis, portanto, o resultado de Belém deve incluí-lo para garantir que acabemos com a queima de petróleo, gás e carvão o mais rápido possível. Havia esperança nas propostas iniciais dos mapas do caminho para acabar com o desmatamento e com os combustíveis fósseis, mas esses mapas desapareceram e estamos novamente perdidos, sem um roteiro concreto para atingir 1,5°C, tateando no escuro enquanto o tempo se esgota”, declarou.

O climatologista Carlos Nobre também comentou o novo texto e alertou para o risco de o planeta ultrapassar 2°C de aquecimento até 2025, caso um plano de enfrentamento ao uso de combustíveis fósseis não seja incluído no documento final da conferência. O especialista afirmou que a ausência dessa medida é inaceitável e defendeu a inclusão de uma referência explícita a uma “superredução dos combustíveis fósseis”.

O climatologista Carlos Nobre (Fred Santana/CENARIUM)

“Sem mencionar combustíveis fósseis, na realidade terrível, é Belém 2.0, ou seja, nós vamos passar de 2°C até 2050. É inaceitável. Tem que ter uma menção muito clara nessa COP para a superredução dos combustíveis fósseis, como a ciência mostra, de zerar o uso dos combustíveis fósseis até 2040, não mais que 2045”, disse o especialista.

O Observatório do Clima informou, por meio de nota, que as minutas apresentados na conferência climática continuam desequilibrados e os documentos não podem ser aceitos como resultado da COP30. Segundo a organização, “[os rascunhos] não atendem à determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o apoio de 82 países, de fornecer um roteiro para implementar a transição para longe dos combustíveis fósseis. Esta expressão, aliás, não aparece em nenhum lugar dos 13 textos publicados”, diz.

Mais de 30 países cobram Brasil 

Além das organizações e de especialistas, mais de 30 países já haviam ameaçado bloquear o texto final da conferência do clima em Belém por considerem as medidas no rascunho anterior insuficientes. Em carta enviada ao Brasil, que sedia a COP30, Colômbia, França, Reino Unido, Alemanha e Bélgica afirmaram estar preocupados com a proposta atual, descrita como “de pegar ou largar”. 

Especialistas consideram o documento insuficiente para orientar a transição energética global (Reprodução/Getty Images via COP30)

O documento também é assinado por países europeus, como Áustria, Bélgica, Finlândia, França, Alemanha, Holanda e Espanha, e por países latino-americanos, como Chile, Colômbia, Costa Rica e México. Os signatários afirmam que podem dificultar qualquer avanço no texto final caso o tema não seja reinserido.

A retirada do compromisso para eliminar o uso de combustíveis fósseis, que vinha sendo mencionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desde o início do evento climático na capital paraense, teria ocorrido em meio a pressões de países produtores de petróleo, como Arábia Saudita e Rússia, e de grandes consumidores de combustíveis fósseis, como a Índia.

Leia mais: Mais de 30 países cobram Brasil e exigem retorno de meta para abandonar combustíveis fósseis

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