COP30: relatório calcula ganhos bilionários ao Brasil com recuperação da Amazônia
Por: Fred Santana
26 de outubro de 2025
MANAUS (AM) – Um novo estudo do Climate Policy Initiative (CPI/PUC-Rio), desenvolvido a partir de um mecanismo solicitado pelo presidente da 30ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), embaixador André Corrêa do Lago, propõe transformar a reversão do desmatamento em um dos maiores motores econômicos do Brasil.
Segundo a análise, o Mecanismo de Reversão de Desmatamento (RDM) pode gerar US$ 784 bilhões em 30 anos e capturar até 26 gigatoneladas de CO₂ apenas na Amazônia brasileira, considerando o preço de US$ 50 por tonelada de carbono.

“O RDM trata a regeneração florestal como um ativo econômico de alto valor, capaz de gerar receita e benefícios climáticos simultaneamente”, afirmou Juliano Assunção, diretor executivo do CPI/PUC-Rio e um dos autores do estudo.
“Ao alinhar políticas e recursos financeiros, o mecanismo preenche uma lacuna central no financiamento da restauração em larga escala. Com isso, o Brasil tem a chance de se afirmar como líder climático global, transformando a restauração da Amazônia em vetor de desenvolvimento e valorização de seu maior patrimônio natural: a floresta”, explica.

O mecanismo propõe remunerar toneladas líquidas de carbono recuperadas em áreas já desmatadas. “Na prática, governos subnacionais ou nacionais firmam acordos de venda de créditos de carbono com compradores públicos ou privados, com base em um preço previamente definido por tonelada de CO₂ removida da atmosfera”, explica o documento. O volume de créditos é calculado com base na restauração líquida, descontando eventuais emissões por novos desmatamentos.
Potencial bilionário por Estado
De acordo com o levantamento, o Pará concentra o maior potencial de captura de carbono, 9,6 GtCO₂, o que pode gerar US$ 292 bilhões. Em seguida estão Mato Grosso (7,3 GtCO₂; US$ 221 bilhões) e Rondônia (3,5 GtCO₂; US$ 106 bilhões). Estados com grandes estoques de floresta, como o Amazonas, são estratégicos para mecanismos de conservação, que podem se articular ao RDM. No total, o mecanismo seria capaz de remover 25,8 GtCO₂ da atmosfera, o equivalente a quase 40% do PIB anual brasileiro.
“A COP30 representa uma oportunidade histórica de colocar as florestas no centro da solução climática global”, declarou Beto Veríssimo, Enviado Especial para Florestas da COP30 e coordenador do projeto Amazônia 2030. “O Brasil tem a chance de mostrar ao mundo que é possível conciliar desenvolvimento e conservação, oferecendo, por meio da restauração em larga escala, uma resposta concreta à crise do clima e um novo caminho econômico para a região amazônica.”
Brasil pronto para implementar o RDM
O relatório destaca que o Brasil já possui infraestrutura técnica e institucional capaz de implementar o RDM rapidamente. Sistemas de monitoramento como Deter, Prodes, MapBiomas e SAD/Imazon garantem a rastreabilidade e a integridade dos dados, enquanto o Cadastro Ambiental Rural (CAR) permite vincular propriedades à fiscalização. Além disso, o País tem experiência com pagamentos por resultados, como o Fundo Amazônia e o REDD+.

Segundo o estudo, “a restauração florestal pode coexistir com a produção agropecuária, gerando ganhos econômicos e ambientais simultaneamente”. Grande parte das áreas mais adequadas à agropecuária já foi desmatada, o que abre espaço para restaurar regiões estratégicas sem perda de produtividade. “Em vez de serem atividades excludentes, produção agropecuária e restauração podem coexistir, gerando ganhos econômicos e ambientais simultaneamente”, afirma o documento.
