CoronaVac mostra efetividade contra a variante P.1, aponta estudo

(Joel Silva/Fotoarena)

Com informações do O Globo

SÃO PAULO – A vacina CoronaVac se mostrou efetiva contra a variante P1 durante o estudo de vacinação em massa que o Instituto Butantan realizou na cidade de Serrana, no interior de São Paulo, para averiguar os resultados da imunização contra a Covid-19 usando esse produto. A conclusão está nos dados apresentados pelos cientistas nesta segunda-feira, 31.

Os pesquisadores do Projeto S, como se chama a iniciativa pioneira no mundo, notaram que no momento da aplicação da primeira dose de CoronaVac nos moradores da cidade a variante P1 do vírus Sars-CoV-2, que foi identificada primeiro no Amazonas, já circulava na região, mas ainda não era protagonista. Até ali, em fevereiro, a linhagem era responsável por cerca de 30% dos episódios.

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Em março, na hora em que os participantes do estudo receberam a segunda dose, porém, a P1 já dominava, em cerca de 80% dos casos. No mês seguinte, ela quase não deixou espaço para nenhuma outra variante e, em maio, respondeu por 100% das infecções mapeadas na pesquisa.

Isso demonstra ainda que, felizmente, o uso amplo da vacina no município não provocou uma pressão de seleção genética do vírus, o que poderia contribuir para o surgimento de novas cepas, e era um ponto de preocupação dos cientistas, destacou Ricardo Palacios, diretor médico de pesquisa clínica do Butantan.

“Todos os resultados que estamos mostrando a vocês são na vigência de uma epidemia predominantemente pela variante P1, então essa é a uma confirmação de algo que já sabíamos: que essa vacina é efetiva diante da variante P1”, disse. “E nós não vimos o surgimento de novas variantes. Esse era um dos receios, de que ao introduzir um programa de vacinação poderíamos fazer uma pressão genética de seleção de vírus, que poderiam virar resistentes, mas nós não vimos essa situação e podemos falar tranquilamente que até o momento não foi a vacinação que gerou a mudança e a emergência de uma nova variante”, ressaltou.

Mortes caem 95%

Nesse cenário de domínio da P1 em que a CoronaVac foi posta à prova em Serrana, os resultados encontrados foram capazes de controlar a epidemia na cidade, conforme divulgado na noite de domingo, 30, no programa “Fantástico” (Globo) e em entrevista coletiva nesta segunda-feira. Segundo o Instituto Butantan, depois do fim da vacinação, o índice de mortes por Covid-19 caiu 95% no município.

Além disso, o número de casos sintomáticos da doença teve redução de 80% em Serrana, e as hospitalizações caíram 86%. Em contraste, as cidades vizinhas tiveram um aumento nos índices.

“Os resultados demonstram de forma categórica o que poderia estar acontecendo no Brasil inteiro, não fosse o atraso na vacinação. Demonstra também que só existe um caminho para controlar a pandemia: vacina, vacina e vacina para todos os brasileiros”, afirmou João Doria (PSDB), governador do Estado.

Esses números animadores, disse ainda Dimas Covas, diretor do Butantan, significam que não é necessário um reforço da vacina neste momento, uma discussão levantada nas últimas semanas no Brasil. Para ele, o estudo recente de um grupo de cientistas de fora do instituto que “causou alarme”, apontando uma efetividade de 28% da CoronaVac nos idosos de mais de 80 anos, não dá dados suficientes para sustentar a necessidade de mais doses nessa faixa etária.

Efeito indireto

A cidade, que tem cerca de 45 mil habitantes, vacinou no projeto a sua população com mais de 18 anos. Esse público-alvo era de 28 mil pessoas. Desses, 27.160 (95,7%) aderiram à ação e tomaram as duas doses da CoronaVac.

Foi observado, no entanto, que o controle da epidemia de Covid-19 em Serrana veio mesmo antes de se completar a segunda dose em todos os subgrupos (o projeto foi feito com um escalonamento dos habitantes conforme a região de moradia, dividos em quatro clusters). Ao atingir cerca de 75% do público-alvo vacinado com duas doses, já foi vista uma reversão do quadro. Em termos gerais da população do município, essa virada aconteceu, portanto, com 40% dos habitantes de Serrana completamente imunizados.

Isso não significa que apenas a primeira dose baste para imunização, pelo contrário, destacam os cientistas, mas é uma evidência de que quando a maior parte das pessoas do público-alvo já está com o calendário vacinal completo, com as duas doses tomadas, mesmo as pessoas que ainda não completaram o seu esquema passam a se beneficiar de um cenário com menor circulação do vírus.

Esse efeito indireto da vacinação também apareceu como um benefício para os grupos que não foram vacinados, como crianças, adolescentes e adultos que não puderam participar do estudo por alguma razão (como gestantes e pessoas com comorbidades fora do controle no período do projeto, por exemplo).

“Vemos que não será necessário vacinar as crianças para retomar as atividades escolares”, pontuou Palacios.

Apesar das conclusões, a cidade de Serrana não passará por uma reabertura antecipada. O município continuará seguindo as regras do Plano São Paulo, que determina o grau de abertura da economia conforme a situação da Covid-19 no Estado.

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