Covid-19: corpos sem identificação e falta de atendimento em Manaus

No HPS 28 de Agosto, familiar teve contato com vários corpos para identificar o de sua mãe - Foto: Divulgação

Folhapress

Na tarde de sexta-feira, 17, João foi ao Hospital e Pronto Socorro (HPS) 28 de Agosto, na zona centro-sul da cidade, para retirar o corpo de sua mãe, que morreu aos 69 anos após contrair o novo coronavírus (Covid-19).​ Porém, ao chegar ao local com os documentos solicitados por telefone, não encontravam o corpo de sua mãe.

Ana (nomes fictícios estão sendo usados a pedido da família) deu entrada no hospital no último dia 5 de abril, ficou dois dias na enfermaria e, com o quadro de pneumonia intensificado, foi levada à UTI. O teste para Covid-19 realizado no local deu positivo. Ela morreu na sexta-feira.

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João disse que, após ser informado de que o corpo de sua mãe não estava sendo encontrado, teve de esperar cerca de 30 minutos. Quando já estava perdendo o horário do enterro, um funcionário do hospital pediu que ele entrasse na câmara fria onde ficam os corpos de mortos para localizar o de sua mãe.

Segundo João, foi dada a ele apenas uma máscara para que entrasse no local, e o primeiro corpo sem identificação a que teve acesso era o de sua mãe. Ele diz estar indignado com a situação.

João disse, ainda, que os pertences de sua mãe não foram localizados pela equipe do hospital desde que ela entrou na UTI.

A Secretaria de Saúde do Amazonas disse que vai apurar as circunstâncias em que o corpo foi liberado. Em nota, afirmou que os corpos são levados ao necrotério após a identificação, que geralmente é realizada ainda na UTI ou o local do óbito.

A secretaria disse ainda que, para evitar contaminações, não é permitida a entrada de acompanhantes no acolhimento dos pacientes e os pertences devem ser entregues aos familiares no momento da admissão nos hospitais.

Vídeos mostram a falta de atendimento

Neste sábado, 18, circularam pela internet ao menos três vídeos gravados por moradores de Manaus em que pacientes estão em pronto-socorros e não há médicos ou enfermeiros para atendê-los.

Os vídeos foram gravados nos pronto-atendimentos São Raimundo, na zona oeste da capital amazonense, e Alvorada, na zona norte.

Em um deles, uma família chega com um paciente com falta de ar e ninguém aparece à área de atendimento da emergência. As pessoas passam então a gritar e a bater nas portas. Uma funcionária aparece, mas logo em seguida volta para trás da porta.

Em outro vídeo, gravado na área de desembarque de carros de um pronto-socorro, diversas pessoas gritam e reclamam da falta de médicos. Uma das pessoas ali fala de pacientes que chegaram, não tiveram atendimento e morreram.

Num terceiro vídeo, um homem está em uma maca e a pessoa que filma, que diz ser seu filho, percorre os corredores ao redor sem encontrar nenhum funcionário. A legenda do vídeo diz que o pai morreu sem atendimento.

Na manhã deste sábado, 18, um médico, ao sair do Serviço de Pronto Atendimento (SPA) Alvorada, ainda usando máscara, falou à imprensa. Sem se identificar, ela diz não haver material o suficiente para atender os pacientes e narra falta de profissionais para trocar cilindros de oxigênio usado pelos casos mais graves.

Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas (Susam) disse que o avanço da pandemia no Estado e o aumento rápido do número de casos sobrecarregou os serviços de saúde. Disse, ainda, que a capacidade de atendimento dos serviços de urgência e emergência está sendo afetada pelo afastamento de profissionais de saúde. Segundo a secretaria, são 983 os profissionais afastados.

O governo diz estar convocando 517 profissionais de saúde aprovados no concurso do Corpo de Bombeiros e que abriu processo seletivo para contratar 704 técnicos de enfermagem, além de pedir ajuda ao Governo Federal.​

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