Covid-19 deixa rastro de mortes nas aldeias Mawé, após retirada de barreiras sanitárias

Náferson Cruz – Da Revista Cenarium

MANAUS – A morte por Covid-19 do tuxaua-chefe, Plácido Dias de Oliveira, de 80 anos, um dos líderes Sateré-Mawé da aldeia Boa Vista, no rio Andirá, reascendeu alerta entre os povos indígenas que habitam a região dos rios Andirá, Marau e Uaicurapá, pertencentes aos municípios de Barreirinha, Maués e Parintins, respectivamente, no Baixo Amazonas.

Plácido foi mais um a entrar para a extensa lista de indígenas mortos pela Covid-19. Até esta quarta-feira, 14, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) contabilizava 844 óbitos e 36.082 casos confirmados em todo o país.

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Para Josias Sateré-Mawé, presidente da Associação dos Kapi e das Lideranças Tradicionais do Povo Sateré-Mawé, um dos agravantes para repentina disseminação da Covid-19 nas reservas indígenas do Baixo Amazonas foi a retirada das barreiras sanitárias.

Membros da tribo indígena Saterê Mawé usando máscaras durante atendimento médico via celular com médico em São Paulo (Ricardo Oliveira/ AFP)

Em agosto, o último boletim da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) registrava 79 casos. Em pouco tempo já são 174 casos confirmados em 115 comunidades indígenas no Andirá, Marau e Uaicurapá e, pelo menos sete óbitos entre os Sateré-Mawé.

“Estamos de mãos atadas desde que as barreiras foram retiradas sem o nosso consentimento, isso fez com que aumentasse o fluxo de pessoas e, consequentemente, o aumento brusco de casos confirmados da Covid-19. Estamos à espera do posicionamento da Funai e da Sesai, pois cabe a estes órgãos o atendimento as comunidades na reserva indígena, mas até agora não estamos vendo nenhuma iniciativa das intituições. Entretanto, estamos atuando em áreas externas com a conscientização por meio de palestras e ações preventivas a doença”, disse Josias Sateré-Mawé.

Casos da Covid-19 cresceram 120% nas aldeias

De setembro até o início de outubro, somente em Parintins, o número de casos confirmados de doença do novo coronavírus (Covid-19) entre indígenas atendidos pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) aumentou em 120%. Boa parte desse aumento foi puxado pelo aumento de casos entre o povo Sateré-Mawé da Terra Indígena Andirá-Marau, em Maués.

Segundo Josias Sateré, em algumas localidades como a do rio Andirá, onde há 56 comunidades indígenas, “as barreiras de contenção ao fluxo de pessoas foram mantidas, mas apenas para a fiscalização e combate a exploração de madeira a ao tráfico de drogas. Quanto a barreira sanitária, posta para fazer o controle do fluxo de pessoas na região, essa foi desabilitada”.

Demora na aprovação de plano

Os servidores da Funai que atuavam nas barreiras no Andirá e no Marau enviaram um novo plano de trabalho, mas reclamam da demora para aprovação interna no órgão.

Josias Sateré enfatiza que a grande maioria dos casos confirmados da Covid-19 nas comunidades do Andirá e do Marau, estão sendo tratados nas próprias aldeias. Ele relata que tanto os indígenas, como servidores da Funai, temem o agravamento dos casos, uma vez que, as aldeias e municípios próximos não há estrutura suficiente para lidar com casos mais graves.

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