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CPI da Saúde no AM: o grupo de Amazonino e o processo de impeachment de Wilson Lima
Delegado Péricles, Amazonino Mendes e Wilker Barreto: os interesses políticos e eleitorais por trás da CPI da Saúde (Reprodução)
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06 de julho de 2020
Paula Litaiff e Carolina Givoni – Da Revista Cenarium
MANAUS – Criada, inicialmente, para investigar as gestões estaduais da Secretaria de Saúde do Amazonas (Susam) no período de 2011 a 2020, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Estado (ALE/AM) foca no governo de Wilson Lima (PSC) e exclui as administrações do senador Omar Aziz (PSD), do ex-deputado David Almeida (Avante) e a do ex-governador Amazonino Mendes. Amazonino disputou o governo no pleito de 2018 e não conseguiu se reeleger após a reprovação de sua última gestão (2017-2018).
Dos cinco membros da CPI da Saúde na ALE/AM, três são aliados do ex-governador: Wilker Barreto (Podemos), Fausto Júnior (PV) e Delegado Péricles (PSL), presidente da Comissão e amigo pessoal do ex-governador pelo qual nutre “gratidão eterna” por conta de um tratamento diferenciado que recebeu da Susam há três anos. Analistas avaliam que só um amplo acordo com o grupo pode garantir imparcialidade às investigações da CPI.
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Em 8 de outubro de 2017, Péricles foi baleado na mandíbula, durante uma operação, quando estava a serviço da Polícia Civil, no bairro Tarumã, zona Oeste de Manaus. O governo de Amazonino, à época, viabilizou uma cirurgia de reconstrução no Hospital Alemão Oswaldo Cruz em São Paulo.
Depois de obter êxito no tratamento, ele chegou a Manaus no dia 21 do mesmo mês, sendo recebido “com festa” por assessores e secretários de Amazonino, entre eles o vice-governador do Amazonas naquele ano, Bosco Saraiva.
Péricles com Bosco Saraiva
Gratidão a Amazonino
Na condição de presidente da CPI da Saúde, Péricles se contradiz. No dia 11 de maio deste ano, o deputado afirmou que acataria o pedido de ampliação da investigação da Comissão retroativa a 2011, período que abrange operação “Maus Caminhos – Fase 1” até o atual governo, no momento da pandemia do coronavírus.
“Muitos colegas se manifestaram apoiando a CPI, mas condicionando à investigação de outras gestões. Temos fato determinado que viabiliza a investigação de governos anteriores. A atuação de uma organização criminosa no Estado, com condenados, inclusive”, admitiu Péricles, conforme release divulgado pela assessoria de imprensa no site da ALE/AM.
Matéria da ALE/AM
Uma investigação seletiva
A REVISTA CENARIUM apurou junto a Diários Oficiais Eletrônicos do Ministério Público do Amazonas (MP-AM) e do Ministério Público Federal (MPF) que mais de dez procedimentos investigatórios foram instaurados por suspeita de superfaturamento de serviços e produtos, além de outras ilegalidades administrativas na Susam, durante a última gestão do ex-governador Amazonino Mendes, amigo do presidente da CPI da Saúde.
A reportagem enviou cinco perguntas ao deputado Delegado Péricles sobre suas ações seletivas junto à CPI da Saúde e sua relação com Amazonino Mendes, mas até o fechamento da matéria, não obteve respostas, conforme abaixo:
1) No dia 11 de maio deste ano, o senhor informou que acataria o pedido de ampliar a investigação da CPI na Susam a governos anteriores, 2011 a 2020. Quando a CPI pretende alcançar esse período? A investigação será feita em paralelo a do governo atual?
2) No ano de 2016, a Polícia Federal apontou um esquema de desvios na Susam, conhecida como a operação Maus Caminhos. Quando a CPI pretende analisar esse período?
3) O senhor é oposicionista ao governo do Amazonas, acredita que isso pode influenciar seus trabalhos na CPI da Saúde?
4) Qual a sua relação com o ex-governador Amazonino Mendes e por que a gestão dele (2017-2018) ainda não entrou no alvo da CPI da Saúde?
5) O seu partido, PSL, já definiu apoio à Prefeitura de Manaus nas eleições deste ano?
O inquisidor e os interesses
Um dos principais articuladores e inquisidores da CPI da Saúde, o deputado Wilker Barreto, há menos de três meses planejava a candidatura de Amazonino Mendes a prefeito de Manaus. No dia 20 de março, no ápice da pandemia do coronavírus, Barreto filiou o cacique em seu partido, o Podemos.
Amazonino não falou em candidatura a prefeito de Manaus, mas Wilker disse que o ex-governador tem “a experiência necessária para reerguer Manaus e o Amazonas”.
“É uma honra ter um político exponencial, com experiência e habilitado para conduzir uma reconstrução da nossa capital e do nosso Amazonas. É uma parceria em que ganham a boa política e a nossa população”, declarou o deputado na ocasião.
Na manhã desta segunda-feira, 6, Wilker enviou release à imprensa sobre o depoimento da profissional de marketing Carla Pollake à CPI da Saúde, para falar sobre seu envolvimento no governo de Wilson Lima. Pollake foi citada pelo ex-secretário de Saúde do Amazonas, Rodrigo Tobias, como pessoa chave que interferia em ações governamentais, determinando avanço de projetos.
Durante o interrogatório, Wilker disse que Wilson Lima deveria responder por improbidade administrativa por autorizar Pollake a ter um cartão de visitas do governo do Estado.
Estratégia em jogo
Com repercussão nacional da operação Sangria, que investiga superfaturamento de respiradores da Susam no valor de R$ 2,9 milhões, há informações de que Wilker Barreto, Delegado Péricles e o grupo deles acreditam na possibilidade de um amplo apoio do governo do Estado à candidatura de Amazonino a prefeito de Manaus.
Caso o apoio não se concretize, o grupo do ex-governador aposta no impeachment duplo de Wilson Lima e de seu vice, Carlos Almeida (PTB), para a realização de nova eleição com Amazonino no páreo.
Coincidência ou não, uma pesquisa eleitoral do Instituto Pontual foi divulgada nesta segunda-feira, 6, com Amazonino como favorito à Prefeitura de Manaus, um dia antes de o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Josué Neto (PRTB), colocar em pauta novamente a ação de impeachment de Wilson e Carlos, cujo processo foi barrado pelo Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM) por irregularidades na formatação.
O parlamentar também assinou a nomeação da empresária Wilmara Torres Kruke, mulher do curitibano Sérgio Kruke, pré-candidato a vereador pelo mesmo partido de Josué.
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