CPMI pauta convocações de ex-presidentes do INSS e de advogado que revelou esquema


Por: Ana Cláudia Leocádio

25 de agosto de 2025
CPMI pauta convocações de ex-presidentes do INSS e de advogado que revelou esquema
Prédio-sede do INSS (rmcarvalhobsb/depositphotos.com)

BRASÍLIA (DF) – A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), instalada no Congresso Nacional, na semana passada, dará início aos trabalhos, nessa terça-feira, 26, para investigar as fraudes nos descontos indevidos dos segurados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), descobertos em abril deste ano. Além da aprovação do plano de trabalho, o relator do colegiado, Alfredo Gaspar (União-AL), colocou em pauta 35 requerimentos de convocações, dos quais dez são de ex-presidentes do INSS e um é para ouvir o advogado Eli Cohen, responsável por revelar o esquema de fraudes bem antes da investigação policial.

Veja lista de requerimentos no LINK.

A lista de convocações do relator abrange ex-presidentes do INSS desde a gestão da ex-presidenta Dilma Rousseff (2011-2016) ao atual Governo Lula, como Lindolfo Neto de Oliveira Sales, que ocupou o cargo entre os anos de 2012 e 2015, e Elisete Berchiol da Silva Iwai, que atuou entre os anos de 2015 e 2016.

Alfredo Gaspar é o relator da CPMI do INSS (Reprodução/União)

O último presidente do INSS, Alessandro Antonio Stefanutto (2023-2025), já na gestão de Lula, também é alvo de pedido de convocação da CPMI. Ele foi afastado do cargo, em abril deste ano, logo após a deflagração da “Operação Sem Desconto”, pela Polícia Federal (PF) e Controladoria-Geral da União (CGU), que desbaratou uma quadrilha de entidades associativas que descontavam mensalidades de aposentados e pensionistas sem autorização. Os prejuízos estimados superam R$ 6 bilhões.

Também constam nos requerimentos, ex-gestores dos governos de Michel Temer (2016–2018) e de Jair Bolsonaro (2019-2022): Leonardo de Melo Gadelha, (entre 2016 e 2017); Francisco Paulo Soares Lopes (entre 2017 e 2018); Edison Antônio Costa Britto Garcia (entre 2018 e 2019); Renato Rodrigues Vieira (entre 2019 e 2020); Leonardo José Rolim Guimarães (entre 2020 e 2021); e Guilherme Gastaldello Pinheiro Serrano (entre 2022 e 2023).

Há também requerimentos de convocação para ex-ministros da Previdência, como Carlos Eduardo Gabas, que ocupou o cargo em 2025; José Carlos Olliveira (entre março de 2022 a janeiro de 2023); e Carlos Roberto Lupi, que ocupou a pasta até maio deste ano, quando pediu demissão, depois do escândalo.

Outros pedidos envolvem solicitação de servidores a órgãos federais para apoio técnico à CPMI, além de informações dos inquéritos sobre as fraudes em trâmite no Supremo Tribunal Federal (STF) e PF e investigações da CGU. Composta por 30 membros entre titulares e suplentes, os requerimentos precisam ser aprovados pela maioria dos presentes na reunião.

Advogado revelou o esquema

O relator Alfredo Gaspar também relacionou entre os primeiros requerimentos um para convocar o advogado Eli Cohen, fonte primária das reportagens do portal Metrópoles, ainda em 2023, que mostrou o modus operandi das fraudes com descontos indevidos de aposentados e pensionistas do INSS. Cohen foi contratado por três associações para investigar por que as demais entidades estavam apresentando crescimento exponencial nas adesões e, consequentemente, no faturamento. Segundo ele, o esquema foi inaugurado em 2008, com o início do crédito consignado a segurados da previdência.

Em entrevista ao canal do portal, no YouTube, no dia 13 de maio deste ano, dias após a operação da PF e CGU contra as entidades, Cohen disse que, ao identificar o tamanho da fraude e como era a operação, ele enviou ofícios aos órgãos de investigação e até ao Congresso Nacional, sem que houvesse qualquer resposta.

Operação da Polícia Federal ocorreu em vários Estados brasileiros contra fraudes no INSS (Reprodução/PF)

Conforme o advogado, o esquema se baseia em dois pilares. O primeiro seria sediado dentro do INSS, com a venda das informações dos segurados aos membros do esquema, que seria liderado por Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, que ficaria com 27,5% do dinheiro desviado. Ele movimentou mais de R$ 12 milhões em apenas quatro meses. Membros da CPMI querem, inclusive, derrubar o sigilo de 100 anos que o Senado decretou sobre o acesso de “Careca” às dependências da Casa.

O segundo pilar do esquema ficaria com os 72,5% gerados pelas fraudes, gerenciados pelo Grupo Total Health (THG), controlado pelo empresário Mauricio Camisotti, citado no relatório da PF na “Operação Sem Desconto”. O grupo THG, frisou Cohen, seria responsável pela oferta do serviço de seguros, que eram vendidos pelas entidades associativas aos aposentados e pensionistas, mas que na realidade sequer conheciam tais benefícios, segundo o advogado.

Cohen disse que as investigações das fraudes impediram um golpe ainda maior do grupo, que estaria planejando formar uma federação com essas entidades, com poder inclusive de indicar nomes para os escalões do INSS. Para o advogado, será muito difícil identificar os reais beneficiários do dinheiro fruto das fraudes porque as entidades, em sua maioria, usam nomes de laranjas na direção, geralmente pessoas muito humildes.

Leia mais: Congresso instala CPMI do INSS para investigar descontos bilionários
Editado por Adrisa De Góes

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