Início » Sociedade » Crenças, saberes e a intimidade do ribeirinho com o rio e a floresta amazônica
Crenças, saberes e a intimidade do ribeirinho com o rio e a floresta amazônica
Pacata vila de pescadores, Canumã, preserva antiga tradição religiosa em harmonia com a natureza (Foto: Ricardo Oliveira)
Compartilhe:
30 de agosto de 2020
Náferson Cruz – Da Revista Cenarium
Borba (AM) – Canumã é uma simples vila de pescadores, pacata e bem pequena, daquelas em que todos se cumprimentam e que você cruza com as mesmas pessoas em todos os lugares.
Um excelente refúgio do ritmo frenético e das construções de concreto, e uma oportunidade incrível para conhecer um pouco da cultura e crença religiosa, diante de uma paisagem de tirar o fôlego, possibilitado pelo fulgente pôr do sol e o inefável encontro das águas douradas do Madeira com as negras do Canumã.
PUBLICIDADE
No dia 15 de agosto, a REVISTA CENARIUM foi até esse pedacinho de paraíso, que faz parte do município de Borba, a 322 quilômetros de Manaus. O acesso à vila é feito de voadeira saindo do Porto de Fontenelle, costa de Nova Olinda do Norte. A viagem dura em média 40 minutos num motor 40 hp.
O barranco íngreme margeado pelas belas praias de areias brancas que nascem com a chegada da estiagem é a porta de entrada. A comunidade bastante receptiva, contava as horas para iniciar a pequena e singela demonstração de fé, a Santa Maria de Assunção, padroeira da vila.
Ao entardecer, os sinos badalaram anunciando cânticos e orações ressoantes em tom lírico. Enquanto isso, fogos de artifícios eclodiam no arrebol. Em meio ao fervor devocional, os fiéis seguiram com a imagem da padroeira sobre o andor ricamente ornado em flores, que significam mais do que uma vaidade de promessa, elas envolvem uma linguagem de crença e devoção.
Os fiéis percorreram a modesta rua na orla da vila e, logo, retornaram ao ponto de partida para celebração tricentenária.
Gratidão pela vida
Fé e gratidão são os sentimentos que, há 25 anos, levam o funcionário público Mário Dias, 59 anos, à festa. “Graças a Deus e a Santa Maria, eu consegui me livrar do alcoolismo e resgatar minha família”. Seguindo uma tradição familiar, a assistente social Luciene Sena, 52 anos, não abre mão de participar da celebração. Com o filho Gabriel, 14 anos, Luciene aponta a santa como um exemplo de amor a ser seguido e admirado por todos. “Eles foram pessoas que dedicaram a vida para cuidar de pessoas doentes, se doando aos necessitados”.
Durante a romaria, Maria Bledis Bragança, de 88 anos, orava em com a mão no peito em devoção a Santa Maria de Assunção. Ao final, ela destacou a importância de se manter a tradição religiosa. “Que tudo isso não seja apenas devoção momentânea. É preciso que toda essa fé e crença tenha significado em nossas vidas e que assumamos o compromisso cristão de partilhar a vida em comunidade”, declarou Maria Bledis, natural de Canumã.
Para entender um pouco melhor a crença devocional que norteia o povoado de Canumã, fomos conversar com um dos principais intervenientes da Festa de Santa Maria de Assunção, Alércio Araújo, 51 anos. Foi ele que nos explicou a temática da proposta para este ano vai além da reflexão e busca estimular uma corrente de oração na comunidade.
“Aprendemos desde sempre que Deus cuida de nós por meio de seus apóstolos e santos. Quando somos crianças, já somos inseridos nessa espiritualidade. Mas queremos recordar que Deus coloca junto de nós pessoas reais que são verdadeiros anjos que nos estendem a mão sempre que precisamos e assim é a nossa comunidade – solidária”, comentou o devoto.
Vila de pescadores
Localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), a 215 quilômetros de Manaus, pequena Canumã ainda conserva o ar bucólico e a rusticidade em suas ruas com modestas casas e um comércio simplório. O pacato vilarejo onde habitam 140 famílias sobrevive da pesca, o jaraqui em abundância é o mais apreciado.
O catraiero e pescador Francivaldo Ferreira, 49 anos, conta que há fartura de peixe na região e que costuma trabalhar como guia em razão da alta demanda turística. “O clima de violência no rio Abacaxis, afetou parcialmente à procura pela pesca esportiva e artesanal, mas ainda assim, continuo fazendo o atendimento aos turistas e praticando a pescaria”, diz Francivaldo.
O pescador destaca que as belezas naturais fazem da região um atrativo para os admiradores da natureza. “O pôr do sol é um espetáculo indescritível e ainda temos belas praias e a simplicidade do povo hospitaleiro”, completa
Para a estudante universitária Ezila Laborda, 22 anos, Canumã é sinônimo de tranquilidade e harmonia com a natureza. Ela reside em Manaus, mas na oportunidade que tem, não resiste aos encantos da pequena vila. “Sempre que posso estou aqui para abraçar a minha família e usufruir das belezas naturais”, contou Ezila.
Se quiser conhecer este simpático povoado terá que se precaver. Lá não existem bancos ou caixas eletrônicos. O pequeno comércio não trabalha com cartão de crédito, portanto, é preciso levar dinheiro.
Significado de Canumã
A palavra Canumã é de origem indígena, da língua caribe, e define: rio afluente da margem direita do rio Madeira, com 900 quilômetros de extensão
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.