Crianças e adolescentes são quase 70% das vítimas de abuso sexual em Rondônia
25 de maio de 2021
Em 2020, quase 700 crianças e adolescentes sofreram violência sexual (Reprodução/Prefeitura de Vilhena)
Iury Lima – Da Revista Cenarium
VILHENA (RO) – Um levantamento realizado nesta terça-feira, 25, mostra que crianças e adolescentes de Rondônia são quase 70% das vítimas de abuso sexual no Estado. Só na capital, Porto Velho, as ocorrências registradas por maus-tratos cresceram 119,04% de 1º de janeiro à primeira quinzena de abril deste ano, de acordo com a Delegacia de Proteção à Criança (Depca).
O quadro de violência sexual também é alarmante: de 967 estupros ocorridos em todo o Estado durante o ano passado, 673 tiveram crianças e adolescentes como vítimas, correspondendo a 69% de todos os casos, segundo a Polícia Civil. Apesar de alarmantes, os dados revelam apenas a ponta de um problema maior: a subnotificação dos casos de violência.
82 flores enfeitam canteiros no centro de Vilhena (RO), em referência ao número de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual (Reprodução/Prefeitura de Vilhena)
Dados
Dos quase mil estupros denunciados e investigados em Rondônia no ano passado, 325 foram praticados contra crianças de zero a 11 anos. Já os adolescentes de 12 a 17 anos, foram vítimas de 348 casos. Ao todo, na capital do Estado, foram 448 ocorrências de crimes contra este grupo. Entre elas, estão as práticas de maus-tratos, estupro e lesão corporal. Neste ano, foram 46 casos de maus-tratos, contra 21 registros feitos em 2020. Também, em 2021, 46 crianças e adolescentes sofreram violação sexual, dois casos a mais que no ano passado.
A Depca aponta que o crescimento da violência contra essas faixas etárias foi de 77,77%, comparando os três primeiros meses de 2020 e 2021, atribuindo como fator agravante a quarentena gerada pela pandemia da Covid-19, já que as crianças passam muito mais tempo em casa.
Inimigo conhecido
Por todo País, 70% dos crimes de violência sexual são praticados por alguém da família da vítima, como explica a assistente social especialista em Saúde Mental, Cecília Cunha. “A grande parte das violações dos direitos de crianças e adolescentes ocorre na casa da própria vítima ou do suspeito. Então, com o isolamento, existe a possibilidade de que esses números aumentem. A violência é caracterizada por uma relação de força, uma relação hierárquica assimétrica de dominação, exploração e opressão que desconsidera o ser humano como sujeito e o trata como objeto”, detalha.
Os números aparecem mais expressivos no interior do Estado. Em Vilhena, a 705 quilômetros de Porto Velho, os 75 casos atendidos pelo Serviço de Atendimento Especializado à Criança e ao Adolescente (Saeca), de janeiro a maio deste ano, quase ultrapassam os 82 registros de todo o ano de 2020.
A assistente social especializada em Saúde mental Cecília Jesus da Cunha (Reprodução/Arquivo pessoal)
“O Saeca recebe denúncias, faz o acolhimento das vítimas e também de seus familiares. Temos também a Delegacia da Mulher e o Conselho Tutelar, que podem ser acionados, caso haja algum indício de violência, além do Disque 100, que é um canal de atendimento que recebe denúncias por telefone”, complementa Cecília, que também lembra que denunciar não é tão fácil quanto parece.
A assistente social também avalia o comportamento social de culpabilização da vítima. “A sociedade, muitas vezes, procura um responsável pelo abuso tentando tirar a culpa do abusador, colocando-a sobre a vítima, sobre as roupas utilizadas pela vítima, ou ainda sobre comportamentos erroneamente tendenciados para o lado da erotização de crianças e adolescentes”, completa.
Como reverter o quadro?
A profissional aponta que o diálogo pode ser a melhor maneira de diminuir casos de violência sexual, falando sobre o tema com a criança sem medo de tabus, justamente porque parte das vítimas sofrem sem nem ao menos saber o que estão sofrendo e como podem impedir que o crime aconteça.
“Promover ações de prevenção e visar combater todas as modalidades de violência é uma forma de tentar evitar ou até mesmo diminuir esses números tão altos. Envolver os Sistemas de Ensino e de Saúde, para conscientização dos profissionais que neles atuam e das próprias crianças e adolescentes atendidas, acerca da importância da comunicação dos casos de suspeita ou confirmados de maus-tratos, abuso e exploração sexual. Ensinar a criança sobre educação sexual, ensinar que quem manda em seu corpo é ela própria. Isso impõe limites”, finaliza Cecília.
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