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Crianças indígenas que ficaram perdidas na floresta amazônica por quase 30 dias deixam hospital
Ao lado da família, os irmãos Gleiçon e Glauco receberam alta hospitalar (Ricardo Oliveira/Cenarium)
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06 de abril de 2022
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
MANAUS – Os irmãos indígenas Gleiçon Carvalho Ferreira, de 9 anos, e Glauco Carvalho Ferreira, de 7 anos, receberam alta hospitalar nesta quarta-feira, 6, do Hospital e Pronto Socorro da Criança, em Manaus. As crianças estavam internadas na unidade hospitalar desde o último 17 de março, após ficarem 27 dias perdidas na floresta, em Manicoré (a 332 quilômetros da capital). Juntos, os meninos irão receber uma homenagem, na próxima segunda-feira, 11, do Centro de Instrução de Guerra na Selva (Cigs).
“É realmente uma emoção muito grande para todos nós, para todos que viveram essa situação”, declarou nesta quarta-feira, 6, o médico e secretário de Saúde do Estado do Amazonas (SES-AM), Anoar Samad, durante coletiva à imprensa. De acordo com ele, as crianças já retornam para Manicoré na terça-feira, 12, mas ainda receberão acompanhamento de uma equipe médica e assistência do Distrito Sanitário Indígena (Dsei).
Mais fortes e vestidos com o uniforme do time do coração, o Clube de Regatas do Flamengo, os irmãos da etnia Mura, naturais da Comunidade Indígena Palmeira, zona rural de Manicoré, saíram do Hospital e Pronto Socorro da Criança ao lado da família. Segundo a equipe médica, Gleiçon havia chegado na unidade hospitalar com 18 kg e retorna para casa com 26kg. Glauco tinha 12 kg quando foi internado em Manaus e hoje tem 18,7 kg.
“Foi uma recuperação espantosa. Apesar de ambos estarem infectados. O menor teve uma infecção mais grave, uma insuficiência renal que reverteu. O tratamento dele foi um pouco mais prolongado do que o do irmão, mas deixamos eles juntos exatamente para que a parte psicológica pudesse ser amenizada”, declarou o médico Eugênio Tavares.
Dieta
Para Tavares, mesmo com os meninos sendo internados no hospital em estado de desnutrição severa, a recuperação deles foi rápida. Segundo o médico, as crianças indígenas receberam uma dieta especial com alimentos semiprocessados, ou seja, quebrados em partes menores para facilitar a absorção.
“O mais novo ficou mais grave por conta do quadro infeccioso e da insuficiência renal. Tivemos que juntar outros especialistas, como infectologistas e nutricionistas, e fomos conciliando a infecção, a insuficiência renal e a alimentação. Eles estão em quadro muito bom. As infecções foram todas debeladas e estão se alimentando bem. Já podem comer a alimentação da família. Lógico, suplementado com algumas vitaminas”, declarou o médico.
O caso
O caso ganhou repercussão na imprensa amazonense no dia 21 de fevereiro, dois dias depois das crianças desaparecerem na floresta. Os irmãos haviam saído sozinhos para caçar pássaros na mata fechada da região da comunidade indígena onde vivem, mas acabaram se perdendo. No mesmo dia em que sumiram, em 18 de fevereiro, as buscas por eles começaram, mobilizando familiares e moradores.
Equipes de busca e resgate em ambiente de selva do Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM) foram mobilizadas para atuar no resgate das crianças. As buscas, contudo, não obtiveram sucesso e, no dia 15 de fevereiro, os meninos foram encontrados nus e em estado de desnutrição por um homem que cortava lenha na floresta.
Após serem localizados, os irmãos foram encaminhados para o Hospital Regional Hamilton Cidade, em Manicoré, onde receberam os primeiros atendimentos médicos e foram internados. Os meninos estavam complemente debilitados, desidratados e sem forças para andar. No dia 17 do mês passado, uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) aérea transferiu Gleiçon e Glauco para Manaus.
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