Crise climática faz ONU se preparar para deslocamento de países inteiros
Por: Cenarium*
19 de novembro de 2025
BELÉM (PA) – A Organização Internacional para as Migrações (OIM), agência de migração da Organização das Nações Unidas (ONU), já estuda como gerenciar a soberania, identidade e cultura de países que precisarão abandonar os próprios territórios devido à mudança climática, afirma a vice-diretora-geral da agência, Ugochi Daniels. “Será uma nova experiência para o mundo: um país inteiro ter que se mudar para outro país“, diz ela à Folha.
Em 2024, por exemplo, a nação insular de Tuvalu, na Polinésia, assinou um acordo com a Austrália, que permite que os seus 11 mil habitantes tenham direito à residência permanente no novo país. Especialistas temem que o arquipélago possa ficar completamente submerso em cem anos.
“Estamos vendo lugares se tornando desertos, o que chamamos de desertificação, bem como o aumento do nível do mar. No norte da Nigéria, temos o Lago Chade, que fornece sustento para milhões de pessoas, e já perdeu 90% de seu tamanho“, afirma a vice-coordenadora da OIM.
Isso significa que a crise climática tem moldado como acontece a migração no mundo, diz Daniels. Segundo ela, até agora, a forma mais comum de deslocamento devido aos efeitos climáticos ocorre dentro dos próprios países.
Apenas no último ano, segundo a agência, quase 46 milhões de pessoas foram deslocadas por desastres —o maior número já registrado. O número considera tanto mudanças internas, quanto externas. É o que acontece quando eventos climáticos extremos pegam os países de surpresa, como o tornado que atingiu o estado do Paraná no início deste mês e destruiu a cidade de Rio Bonito do Iguaçu.
Apesar disso, afirma Daniels, a maioria dos governos destina menos de 1% de seus orçamentos à prevenção de desastres.
A agência pleiteia na COP30 por financiamento climático direto a comunidades mais vulneráveis, incluindo migrantes, e a inclusão de mobilidade urbana na agenda de adaptação.
ONU pede por adaptação a crise climática
“As pessoas que mais precisam de adaptação, que são mais vulneráveis, têm o menor acesso ao financiamento e à capacidade de adaptação. É por isso que queremos focar nelas“, diz a vice-coordenadora da OIM.
Segundo ela, a ONU está focada na adaptação. “Há cerca de 1 bilhão de pessoas em risco devido ao aumento do nível do mar. Sabemos que está chegando. Então, como estamos ajudando-as a se adaptar agora? Porque se não o fizermos, estaremos apenas reagindo, respondendo, e não queremos fazer isso“, diz Daniels.
A agência está esperando que os negociadores da COP30 cheguem a um acordo sobre o objetivo de US$ 1,3 trilhão para o financiamento climático, mas pedem para que haja descrições claras de como países mais vulneráveis poderão acessá-lo.
“Para nós, o que é importante não é apenas o financiamento, mas como ele é tornado acessível às pessoas que mais precisam. É ótimo ter o financiamento, mas se o Afeganistão, a Somália, a Etiópia, o Chade, todos esses países que são tão impactados não conseguirem acessá-lo, isso não nos ajuda“, diz.
Ela cita ainda que as mulheres são as mais afetadas pelo deslocamento devido à crise climática. Quando as mulheres se mudam, diz, vão para empregos de remuneração mais baixa, geralmente de trabalho doméstico. Quando optam por ficar, frequentemente são afetadas negativamente por precisar cuidar das famílias.
“O que defendemos com a OIM é que, em todas essas discussões, é necessário focar nos mais expostos ao impacto do clima, e em muitas comunidades isso significa o apoio às mulheres“, afirma a vice-coordenadora.