Crise de segurança no Equador inclui rebeliões em presídios e 90 agentes reféns
24 de julho de 2023
Policiais do Equador fazem monitoramento para combater violência no País (Reprodução/@FFAAEcuador)
Da Revista Cenarium*
SÃO PAULO – Uma série de episódios de violência nos últimos dias, que inclui rebeliões em presídios e o assassinato de um prefeito, agravou a crise de segurança no Equador, palco de um pujante tráfico de drogas e de confrontos cada vez mais frequentes entre facções criminosas.
O Snai, órgão responsável pela administração de presídios do País, informou nesta segunda-feira, 24, que cerca de 90 agentes penitenciários eram mantidos reféns em cinco prisões na região de Guayaquil, uma das mais populosas do País. As rebeliões explodiram após a morte de seis detentos em um confronto entre gangues ocorrido na véspera — outras 11 pessoas ficaram feridas.
A crise não se restringe a Guayaquil. Presos de 13 cadeias fazem greve de fome em dez províncias espalhadas pelo País. Eles reclamam da falta de atenção do governo e da insegurança nos presídios.
Mais de 420 detentos foram assassinados no Equador desde fevereiro de 2021. Os confrontos entre as facções que disputam o controle das cadeias e de territórios para a venda de drogas resultam em crimes chocantes, com o saldo de dezenas de corpos carbonizados, desmembrados e decapitados.
Um comitê de pacificação criado pela equipe do presidente Guillermo Lasso classificou, no ano passado, as prisões como “armazéns de seres humanos e centros de tortura”. O relatório ainda chama a atenção para o crescimento do tráfico de drogas e da violência no Equador. A taxa de homicídios saltou de 14 para 25, por 100 mil habitantes, de 2021 para 2022, segundo o governo.
Numa tentativa de conter a crise, o presidente Guillermo Lasso declarou estado de emergência e toque de recolher noturno nas províncias de Manabi e Los Rios e na cidade de Duran, perto de Guayaquil. A medida é válida por 60 dias, e poderá ser prorrogada, segundo o governo.
“Não podemos negar que o crime organizado permeou o Estado, as organizações políticas e a própria sociedade. É um problema que vem fermentando há mais de uma década”, disse Lasso após uma reunião do gabinete de segurança. Segundo o Snai, as autoridades dialogam com os porta-vozes dos centros de detenção para conhecer as razões da greve de fome e evitar outras mortes.
Militares montam guarda do lado de fora de prisão em Guayaquil, no Equador (Marcos Pin/AFP)
Um jornalista da agência de notícias AFP relatou, no domingo, ter ouvido disparos na unidade prisional de Guayaquil onde ocorreu o confronto entre as facções. Imagens divulgadas pelo Ministério Público mostram áreas destruídas e um buraco no chão do presídio, além de policiais fortemente armados. Numa tentativa de conter a violência, as autoridades reforçaram a segurança em todas as prisões do País.
O ministro do Interior, Juan Zapata, escreveu nas redes sociais que estão em operação “os protocolos para monitorar e executar estratégias de controle, ordem e segurança das pessoas privadas de liberdade”.
No ano passado, uma delegação das Nações Unidas afirmou que a violência nas prisões do Equador foi causada por anos de negligência do Estado com o sistema penitenciário. O presidente Guillermo Lasso, um ex-banqueiro conservador que enfrentou audiências de impeachment por acusações de corrupção — as quais ele nega —, tem se esforçado para lidar com a crescente violência no Equador, um País usado como ponto de trânsito para a cocaína que se desloca para a Europa e os Estados Unidos.
O Equador tornou-se, em poucos anos, o País da “corrida ao ouro” do narcotráfico. Grandes cartéis de lugares tão distantes quanto México e Albânia estão unindo forças com quadrilhas dos presídios e das ruas, desencadeando uma onda de violência diferente de qualquer outra vista na história recente do País. Em 2021, as autoridades apreenderam 210 toneladas de entorpecentes, o recorde anual do País.
Em outro caso de violência ocorrido no fim de semana, o prefeito de Manta, Agustin Intriago, 38, foi assassinado a tiros neste domingo. A polícia disse que o político, reeleito em fevereiro, estava inspecionando obras públicas no momento do ataque.
Edwin Noguera, comandante da polícia regional, disse a repórteres que um homem armado saiu de um caminhão roubado e abriu fogo contra Intriago, atingindo ele e uma mulher que passava pelo local. Ambos morreram devido aos ferimentos.
Agentes de segurança do prefeito reagiram ao ataque e feriram o motorista do veículo que, agora, está sob custódia da polícia enquanto recebe atendimento médico no hospital. Noguera disse que o suspeito é um cidadão venezuelano sem antecedentes criminais. Já o suposto atirador fugiu, segundo Noguera.
As autoridades disseram que os policiais encontraram uma granada no caminhão e uma arma que, provavelmente, foi usada no ataque. Não se sabe o motivo do ataque contra o prefeito, embora a polícia tenha dito que ele relatou ter recebido ameaças de mortes, sem fornecer mais detalhes.
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