Crise na Capes: mais 24 pesquisadores renunciam e total chega a 138

A sede do Capes (Divulgação)
Com informações da Folha de S. Paulo

BRASÍLIA – Um novo grupo de pesquisadores renunciou às atividades relacionadas à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ampliando a crise que atinge o órgão do governo Jair Bolsonaro (PL) responsável pela pós-graduação no País.

Vinte e quatro pesquisadores da área de zootecnia/recursos pesqueiros divulgaram carta de renúncia coletiva, na noite de quarta-feira (22). Do total, 3 são coordenadores, e 21, consultores.

Com isso, já são 138 os pesquisadores que se afastaram da Capes, com críticas à presidência do órgão, Claudia Mansani Queda de Toledo. A Capes é ligada ao Ministério da Educação (MEC).

PUBLICIDADE

Questionada, a Capes disse que o gabinete da presidência vê com surpresa a decisão, uma vez que demandas dos pesquisadores foram atendidas.

0
A presidente da Capes, Claudia Queda de Toledo, durante entrevista à Folha, em seu gabinete, em Brasília, neste mês (Pedro Ladeira/ Folhapress)

Essa já é a quinta área de avaliação, de um total de 49, a pedir renúncia. Desde o final de novembro, a Capes perdeu os pesquisadores das áreas de astronomia/física, matemática/probabilidade e estatística e química e uma das engenharias.

Os novos renunciantes reforçaram as críticas já feitas por seus pares. As renúncias vieram acompanhadas de acusações de supostas pressões para acelerar a abertura de novos cursos e aprovar ofertas à distância. Ainda teria havido descaso da presidência da Capes em reverter uma decisão judicial que interrompeu a avaliação da pós — isso tudo é negado pelo órgão.

“Torna-se insustentável a nossa continuidade na Coordenação, neste momento em que é veiculada uma carta aberta demonstrando alinhamento da alta diretoria da Capes, seguida do pedido de exoneração do diretor de Avaliação, Flávio Anastácio de Oliveira Camargo”, diz a carta. “Entendemos que a saída do referido Diretor é mais um capítulo na fragmentação que assola o SNPG (Sistema Nacional de Pós-Graduação) e a nossa querida Agência Capes”.

O pedido de demissão de Camargo foi a primeira baixa a atingir o quadro de funcionários diretos da Capes. Os pesquisadores renunciantes não são servidores da Capes, mas têm importância central no processo de avaliação.

No centro da crise está a Avaliação Quadrienal da pós-graduação (mestrados e doutorados) relativa ao período 2017-2020. As atividades foram interrompidas por decisão judicial, em setembro, e isso foi o estopim para as primeiras renúncias.

No dia 2 deste mês, a Justiça autorizou a retomada. A divulgação dos resultados permanece barrada.

O grupo que renunciou na quarta-feira (22) ainda cita como inaceitável a declaração da presidente, concedida ao jornal O Globo, em que classifica o movimento como deserção. “Insurgentes sim, desertores, jamais”, cita o texto.

O pesquisador Ronaldo Lopes Oliveira, coordenador da área que renunciou, afirma que o clima já se tornou muito desconfortável para continuar os trabalhos.

“A Capes sempre teve espaço de muito diálogo, e nesse momento primeiro a gente recebe acenos, mas depois vem uma coisa dessa, (falando em) ‘insurgentes’ ou ‘desertores’. Adjetivos que não são típicos do ambiente acadêmico”, diz Oliveira, que é professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

O pesquisador diz que comunicou a decisão com antecedência ao gabinete da presidência.

Um desses acenos da Capes foi o atendimento de pedido de renovação dos mandatos de coordenadores responsáveis pela avaliação, até o fim do ano que vem.

Por meio da assessoria de imprensa, a Capes informou que a presidente não quis ofender os pesquisadores com a entrevista, concedida há alguns dias.

A presidência da Capes tem tentado arrefecer os ânimos, no órgão, e garantir demonstrações de apoio. Na última segunda-feira, 20, conseguiu que os membros do Conselho Superior da Capes assinassem uma carta em seu apoio. Essa foi a segunda missiva que seu gabinete articulou em seu apoio.

Após a divulgação, houve desconforto, mesmo entre aqueles pesquisadores que assinaram a carta, segundo relatos colhidos pela reportagem.

“Os termos da carta tratam da necessidade de trabalhar juntos, para resolver os problemas da Capes, para fazer uma avaliação de qualidade. A assinatura de boa parte dos conselheiros seguiu esse caminho”, disse na terça-feira (21) o pesquisador Paulo Jorge Parreira dos Santos, representante do CTC-ES (Conselho Técnico-Científico) no Conselho Superior e que também assina o documento.

Em entrevista à Folha, a presidente da Capes reforçou argumento de que apenas os coordenadores de cada área têm real ligação com o órgão. Segundo ela, a oposição à sua gestão tem relação com misoginia.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.