‘Crises são contornadas; mortes, não’, dizem artistas do AM sobre entrevista de Regina Duarte

Luís Henrique Oliveira – Da Revista Cenarium

MANAUS – Como medida de tentar controlar a aglomeração de pessoas em espaços fechados e, consequentemente, o número de infectados pelo novo Coronavírus, países de todo o mundo aderiram ao lockdown. Embora o fechamento total do Amazonas ainda seja uma incógnita, casas de shows e eventos seguem fechadas em cumprimento ao recente decreto do governo do Estado.

Por mais que dezenas de artistas de Manaus estejam sendo prejudicados com a pandemia, muitos concordam com o isolamento e cobram medidas para driblar essa crise no setor.

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Para o artista e publicitário Omã Freire, providências imediatas, porém cautelosas precisam ser tomadas. “Eu tenho uma profissão primária de publicitário, mas que também está super prejudicada. Agora a parte artística como DJ, como drag, como ator está de stand by e eu continuo trabalhando como freelancer, mas é inevitável e obviamente esse extra faz falta. No entanto é importante lembrar que o isolamento social é muito importante. Sou a favor do lockdown. A pessoas têm de ter consciência de que crises são contornadas e mortes não. As pessoas precisam ser menos burras e ignorantes”, disse.

Nesta manhã, a classe artística reagiu com muitas críticas à entrevista em que a secretária especial da Cultura, Regina Duarte, minimizou a ditadura militar brasileira, a tortura praticada no período e as mortes de nomes como o do cantor e compositor Moraes Moreira, do escritor Rubem Fonseca, do compositor Aldir Blanc e do ator Flávio Migliaccio.

Confira parte da entrevista. (Reprodução/ CNN Brasil)

Sobre a entrevista da secretária da Cultura, Omã disse que “gostaria de estar surpreso com o discurso dela, mas eu já vinha acompanhando ela há bastante tempo. Mas quando uma pessoa se posiciona dessa forma, me vem como uma fala contraditória de minimizar grandes problemas e como secretária de Cultura, ela deveria ter mais consciência humana e menos política”, completou o artista.

Cobrança de soluções irritou secretária

Durante a entrevista concedida ao canal CNN, Regina Duarte ficou irritada quando a emissora mostrou um vídeo enviado pela atriz Maitê Proença pedindo que a secretária apresente soluções para a classe artística em meio à pandemia do novo coronavírus. “O que você ganha com isso? Quem é você que está desenterrando uma fala da Maitê [Proença] de dois meses atrás? Eu não quero ouvir, ela tem o meu telefone. Eu tinha tanta coisa para falar, vocês estão desenterrando mortos”, disse Regina, colocando fim à entrevista.

Após o episódio, o autor de novelas Walcyr Carrasco afirmou que dói ver as declarações atuais de Regina, de quem já foi amigo e teve ajuda no início da carreira. “Fiquei chocado quando na entrevista você simplesmente achou normal as mortes e chancelou a tortura. Dói mais e mais vê-la assim. Que aconteceu com você, Regina?”, questionou.

Márcia Siqueira lançou a hashtag #forçaatodos para pedir união entre os profissionais da Cultura. (Reprodução/ Internet)

Ainda em cenário local, a cantora de Música Popular Brasileira (MPB), Márcia Siqueira, conhecida por embalar as noites da capital amazonense, disse que a classe artística foi a primeira a parar.

“E seremos os últimos a recomeçar, isso é um fato. Estamos sobrevivendo de maneira colaborativa e nos moldando a essa realidade que é o mundo virtual. Sobre a fala da secretária de cultura, não me surpreendi. Desde quando ela assumiu o cargo sempre deu a entender o que pretendia fazer ou não fazer. É lamentável ver uma artista, atriz da magnitude que foi Regina Duarte, ter enterrado todo um legado profissional desse jeito. Desejo ânimo pra resistir ao meio desse desamparo e caos em que estamos vivendo! #forçaatodos”, disse Márcia Siqueira.

O foco de Márcia Novo para minimizar a crise é a participação em editais de auxílio e maior interação nas redes sociais. (Divulgação)

Já a cantora Márcia Novo disse que está focando em editais online de apoio que estão aparecendo como do Banco Itaú ou da Secretaria de Cultura (SEC-AM).

“Além disto, estou fortificando minhas redes sociais para atrair parceiros e patrocinadores. Estou me virando dessa forma. Também sou a favor do isolamento porque é a melhor maneira. Agora é triste ver a secretária [Regina Duarte] na linha de frente, completamente despreparada. Tudo que ela vem fazendo, até hoje, comprova sua prepotência, que é a pior parte, pois muitos artistas estão em uma situação muito delicada e a gente não vê planos sendo criados. Ela não representa a nossa classe”, declarou.

No campo do teatro, a palhaça e produtora cultural Ana Oliveira, classificou a fala de Regina Duarte como deprimente. “Alguém que seria nosso par, com tanta falta de empatia e desrespeito com os artistas, nossa história e as vidas que estamos perdendo. Além do total despreparo e diria que ignorância do papel de gestora pública, em que o mínimo que deveria fazer era ouvir e atender às demandas da classe que representa. Mas nem a isso ela se presta”, finalizou.

Ana Oliveira realiza dezenas de trabalhos artísticos e culturais no Estado do Amazonas. (Divulgação/ Arquivo pessoal)

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