Crônicas do Cotidiano: a magia dos números, a estatística e a manipulação
Por: Walmir de Albuquerque Barbosa
19 de novembro de 2025A primeira é fascínio, ilusão passageira; a outra é a ciência das probabilidades ajudando a explicar a frequência dos eventos; e a terceira, sem-vergonhice pura a serviço descarado dos interesses escusos. E me explico: para que todos saibam, tudo isso vem sendo usado para enganar o povo brasileiro, estabelecer cizânia e a falsa ideia de que tudo piora, como diz a manchete de um dos “valorosos veículos de comunicação impressos” e vociferam comentários de um economista imoral, ventríloquo do mercado, que acabo de ouvir ao abrir a televisão: “Está ruim porque o resultado foi bom”; ou, “a direção das medidas econômicas está correta, mas a intensidade não é boa, projeta tempos ruins para o futuro”. Como pode, em bom português, o uso da língua para espalhar hostilidade e “cretinice”, desvirtuando o que se impõe à mídia como esclarecedora da situação? Tudo é combinado para minar a consciência de um público que parece convicto de que vive num país em que nada dá certo, daí ser melhor não gastar miolo para pensar em coisas complexas e o melhor é ligar a TV nos programas de entretenimento ou acionar as redes sociais na bolha preferida. Não vivemos num paraíso, mas a manipulação da informação parece não ter mais limites.
Lembro de minha mãe, quando nos instigava ao entendimento das quantidades e dos percentuais das coisas, e nos contou uma história exemplar: certo homem casou com uma mulher, mãe de duas filhas, que vieram a ser, portanto, suas enteadas; ele, por sua vez, teve uma filha com a nova esposa. Todos os dias, ao voltar do trabalho, passava na feira e comprava duas maçãs. Ao chegar em casa dava uma maçã para cada uma das enteadas e dizia a elas que deveriam dar a metade de sua maçã à irmã mais nova, que era a sua filha. O homem bondoso, ao frigir dos ovos, era um cafajeste, usava as enteadas para dar uma maçã inteira à sua filha. Lembrei dessa estória ao ver a cara cínica do sociólogo/estatístico midiático apresentando o resultado da pesquisa feita para dar forças aos comentaristas políticos maus-caracteres empertigados, de paletó e gravata, ou mesmo com ar blasé (itinerantes das várias emissoras de TV) ou saia de alfaiataria. Ele apresentava o resultado de uma pesquisa de opinião, que ouviu “as mais expressivas vozes do mercado, por amostragem (coisa que nem precisava, porque são tão poucos), sobre a avaliação do desempenho do atual governo”, que comento depois. Por causa desse resultado, teve-se, depois, a notícia de que um telespectador indignado foi acometido por um acesso de cólera e começou a discutir virtualmente com o “comentarista” da tal pesquisa, como se estivessem cara a cara com ele; e teve que ser levado ao pronto socorro para tomar um “sossega-leão” e voltar, conformadamente, à realidade.
A mando do tal mercado, como resultado dessa sondagem de opinião, “as vozes expressivas” cravaram 96% de reprovação ao governo e à sua política econômica. Os jornalistas de plantão, em uníssono com os comentaristas econômicos do mercado convidados a se manifestarem, engrossaram o coro de reprovação ao pacote de ajuste fiscal enviado ao Parlamento, tão logo foi ouvido o “apito de cachorro”, dado com o uso falseado da Estatística. Concomitantemente, o “Presidente Autônomo” do Banco Central, em viagem pelo mundo, difamava o país espalhando o terror sobre o futuro da economia; mais um reforço à “credibilidade”, tanto das pesquisas como dos “comentários abalizados, que fazem o dólar subir. Na contramão, estatísticas oficiais do Estado Brasileiro anunciam os bons números da economia: crescimento do PIB quase três vezes acima do esperado; redução da miséria; crescimento do setor industrial; burras abarrotadas de dólares do agronegócio em alta; aumento recorde do número de empregos com carteira assinada; aumento do consumo das famílias; leve alta da inflação devido ao aumento da passagem aérea e do bacalhau. O futuro “sombrio” pregado pelos apologistas da desgraça contrasta com a realidade: a nata do mundo europeu, reunida com o Mercosul, firma tratado de livre comércio que vinha sendo negociado há mais de 25 anos, graças à ação da diplomacia brasileira; e o Governo honra o pagamento de suas contas, apesar das “Emendas”. Estamos salvos da maldade do mercado e dos Sequestradores do Orçamento? Não! Eles insistem, querem mais cortes contra os pobres!