Crônicas do Cotidiano: Viva Luana Piovani!

“O mar quando quebra na praia,/ é bonito, é bonito!”. Ah, Dorival Caymmi, você nem imagina como as coisas estão por aqui! Pois não é que uma “gangue” está conspirando para roubar um direito que o bom Deus nos deu e, se isso passar da forma que está, adeus à rede atada entre dois coqueiros, à brisa, à zoada das ondas quebrando na praia, às jangadas saindo e chegando, e ao horizonte bem longe, longe da formação de corais! Como seres humanos podem apoderar-se do que não é seu de uma forma tão descarada, tão vil e, por cima de tudo, ainda dar um ar de legalidade à usurpação desonrando o voto recebido e o Parlamento? E, ainda, macular a Constituição, onde está expresso o nosso inviolável “direito de ir e vir”, seja nas praias, nos rios ou nas ruas. Vilania e sordidez são os qualificativos para a ação desses atores vorazes por lucro, vorazes por tudo. Definitivamente, agem como canalhas e na contramão dos interesses coletivos nacionais e universais.

Mas tudo aconteceu à sorrelfa, como toda safadeza que encontra um bom caminho para prosperar. Passou caladinha na Câmara e seguiu seu caminho. Foi numa semana plácida, com feriadão e tudo que emergiu no Senado. Todos estavam muito cansados da luta da semana anterior, quando houve um esforço concentrado da nossa “valorosa imprensa” para tocar o terror sobre o futuro da economia. Os grandes jornais e os conglomerados de telecomunicação abriram as suas comportas para os “bocudos do mercado” fazerem as suas sombrias “previsões”. O Presidente do Banco Central inaugurou o discurso de fracasso das metas do governo e o fez da forma mais imprópria possível, em fóruns internacionais. Um batalhão de economistas a serviço da elite financeira encarregou-se por todos os meios de desmoralizar as ações da equipe econômica, tudo porque têm dois objetivos bem claros: impedir que o governo, fortalecido por bons resultados, indique um nome que desagrade ao mercado para dirigir o Banco Central, com o fim do mandato do atual gestor; de mais imediato, precisam criar as condições de desconfiança junto aos investidores para que a Selic, que indica a taxa dos juros, permaneça alta atendendo aos banqueiros que se locupletam com os juros na rolagem da dívida pública. A catástrofe climática no Rio Grande do Sul e a politização dos seus efeitos; as derrotas da base governista no Congresso Nacional na derrubada de vetos; e pesquisas de opinião com perguntas ardilosamente fabricadas para confirmar verdades desejadas e propaladas ad nauseam na mídia, formavam um cenário perfeito para o cheque mate. Falava-se até numa desejável mudança ministerial para aproximar o governo do mercado. Tudo parecia perfeito, mas os resultados dos órgãos de estado foram saindo e desmentindo os falaciosos áulicos do mercado: os empregos com carteira assinada aumentaram, a inflação não rompeu os níveis da meta e o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu! E agora? Correndo atrás do prejuízo, meteram a viola no saco e foram programar nova investida. Enquanto isso….os meninos do mal, quase na surdina, conseguiram pautar a votação, no Senado, da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que pode abrir caminho à “privatização” das áreas de marinha, que abrangem toda a costa marítima, que hoje pertencem à união, e atribuídas à Marinha Brasileira para guarda, proteção e gestão, passando-as para os municípios e Estados, que darão a destinação que lhes aprouver.

Coube à atriz Luana Piovani denunciar nas redes sociais os agentes por trás das artimanhas para a “privatização” das praias brasileiras e as negociatas das Arábias e outros fundos soberanos, empreiteiros nacionais, banqueiros, políticos e a máquina da jogatina, que espera ansiosa para tirar os panos que cobrem as roletas dos cassinos, ainda não permitidos no Brasil. Brava Piovani! Mesmo ameaçada de ter a “boca fechada com um sapato”, alertou o povo brasileiro para o golpe iminente. E, de quebra, mostrou a face cruel de seus detratores: machistas, misóginos, pessoas sem nenhum sentimento pelo país que dizem defender.  A notícia correu toda a costa do Brasil, o beiradão dos grandes rios internacionais e dizem que até em Minas Gerais, onde não há praias, a indignação ganhou força e o “bagulho”, na forma de PEC,  virou um problema para os pais da ideia, que tem cara, voz e origem bem conhecidas!

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(*)Jornalista Profissional, graduado pela Universidade do Amazonas; Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo; Professor Emérito da Universidade Federal do Amazonas.

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