Dados indicam que as cidades mais violentas do Norte têm menos de 130 mil habitantes
Por: Yuri Siqueira
02 de fevereiro de 2024
Altamira/Pará (Reprodução/Marcelo Seabra/Ag.Pará)
Yuri Siqueira – Da Revista Cenarium
BELÉM (PA) – Os menores municípios da Região Norte do País são os que mais sofrem com alto índice de violência. Dados fornecidos pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023 apontam que das dez cidades mais violentas do norte, quatro tem menos de 130 mil habitantes. De acordo com o anuário o crime organizado tem crescido nessas áreas e existe deficiência da segurança pública.
O município de Altamira, no Pará, e Macapá, no Amapá, ocupam a sétima e oitava posição respectivamente, no ranking das 10 cidades mais violentas. O anuário mostra que a taxa de mortes violentas intencionais é de 70,5 homicídios por 100 mil habitantes e 70 homicídios por 100 mil habitantes, em Altamira e Macapá.
Segundo a antropóloga, Denise Cardoso, é fundamental observar vários fatores para entender e diminuir os índices de violência nesses municípios. É preciso levar em consideração fatores como pequena população e o vasto território, situações socioambientais como conflito agrário e invasões de terras públicas e indígenas.
“Os conflitos gerados pelas disputas por territórios são um desses fatores, pois há interesses econômicos e políticos em áreas indígenas demarcadas, em territórios quilombolas reconhecidos e regulamentados, e também as áreas de ocupação por movimentos sociais que pleiteiam a reforma agrária. Os chamados grandes projetos instalados na região amazônica impactam nas relações sociais de trabalho e em outros aspectos das populações que vivem nessa região”, disse.
Denise Cardoso, antropóloga (Arquivo pessoal)
Ainda de acordo com a antropóloga, o que se percebe como algo relativamente recente é o avanço do crime organizado nos municípios de menor território e população, e que as facções criminosas estão adentrando em lugares diferentes motivados pelo tráfico de drogas, uso de milícias, e até mesmo por grupos de extermínio voltados para o assassinato de lideranças de movimentos sociais.
Denise diz que para os municípios da região Norte saírem do ranking de alta violência deve-se implementar políticas públicas de saúde, educação e outras que garantam dignidade à população.
“Um planejamento que seja articulado e que abarque diferentes níveis governamentais é algo imperativo nesse momento. O Estado tem que se fazer presente em diversas frentes de ação, fazendo valer as garantias constitucionais e promovendo projetos de combate à extrema desigualdade social, a vulnerabilização e a violência em geral. Por outro lado, deve proporcionar programas que expressem anseios das pessoas por mais renda, lazer, saúde, educação e respeito às diferenças“, afirmou Denise.
João Mendes reside no município de Altamira, no Estado do Pará, há quase 25 anos, ele é coordenador de um projeto social voluntário, que ajuda famílias e crianças em situação de vulnerabilidade. O trabalho consiste na doação de alimentos, roupas, eletrodomésticos, e tem o objetivo de melhorar a triste realidade de pessoas que mais precisam. Em meio as estatísticas de grande violência, o João busca diminuir esses dados por meio do voluntariado.
“O projeto social que faço parte, ajuda as famílias que as vezes não tem renda pra sobreviver de forma digna. Tem mantenedores de famílias que não tem emprego, e para essas pessoas não irem para o lado errado a gente faz o que pode. Aqui em Altamira existem casos de violência que são isolados, mas também tem gangues, rincha entre pessoas, dívidas que são pagas em homicídio, e briga por interesses pessoais, que sempre afeta os mais necessitados. Em suama, a desigualdade social”, comentou.
Ainda segundo João, a população de Altamira está esperançosa com os projetos que estão sendo idealizados para a cidade, e ele acredita que para reverter os dados do anuário é preciso investimento, principalmente na geração de emprego para os jovens.
João Mendes (Reprodução/Arquivo Pessoal)
“Teremos escolas em tempo integral e com toda certeza vai ajudar nossa juventude a sair da ociosidade e ocupar o tempo com os estudos. Também terá um espaço voltado para lazer e profissionalização. Estamos esperando por esses projetos que estão em desenvolvimento para melhoria da nossa população. Precisamos de geração de renda, de investimento em emprego, em projetos de jovem aprendiz, que também sejam criados polos industriais e abrir oportunidades de emprego. É com trabalho e educação que se diminuem a violência. É isso que queremos”, pediu.
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