David Almeida dispensou licitação de R$ 5 bilhões no Governo do AM
Por: Paula Litaiff
18 de setembro de 2024
A fachada da Suhab, David Almeida e a logo da empresa contratada (Composição: Paulo Dutra/CENARIUM)
MANAUS (AM) – O prefeito de Manaus e candidato à reeleição, David Almeida (Avante), dispensou licitação de R$ 5 bilhões em um único contrato com a empresa mineira de tecnologia da informação Ezo Soluções Ltda., para a recuperação de valores do Fundo de Compensação de Valores Salariais (FCVS) da Superintendência de Habitação ao Amazonas (Suhab), mediante uma “taxa” de 20%.
A dispensa de licitação ocorreu no período em que Almeida assumiu interinamente o governo do Amazonas, de 9 de maio a 4 de outubro de 2017, após a cassação de seu aliado político, o ex-governador José Melo (Pros). O contrato foi investigado pelo Ministério Público do Amazonas (MP-AM) e posteriormente cancelado pelo Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) após a constatação de irregularidades.
José Melo e David Almeida, em 2015 (Adneison Severiano/G1 AM)
Sem possuir a Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE) de serviços financeiros, a empresa Ezo informou, em 2017, ter recuperado R$ 27,3 bilhões que nunca chegaram aos cofres do Estado e entrou com um requerimento de R$ 5 bilhões, como uma espécie de “comissão”.
Na época, o episódio foi considerado um escândalo pela imprensa e se agravou, porque o contrato da Ezo passou diretamente pelo gabinete de David Almeida e um advogado ligado a ele. José Júlio César Corrêa foi autorizado a sacar R$ 200 milhões como “taxa de sucesso” pelo negócio.
O documento do contrato com a empresa foi assinado pelo então superintendente da Suhab, Nilson Soares Cardoso, que era amigo pessoal de David Almeida.
De acordo com informações do MP-AM, o contrato do gabinete de David Almeida com a empresa Ezo teve a seguinte sequência: em 12 de junho de 2017, David Almeida nomeou José Júlio César Corrêa como diretor habitacional da Suhab.
Dez dias depois, o governador recebeu em seu gabinete uma proposta da Ezo para recuperar valores do FCVS, gerido pela Caixa Econômica Federal. A justificativa era a celebração de um contrato para assessorar o Estado a reaver verbas do fundo, destinadas à habitação.
O Diário Oficial do Estado (DOE) publicou o contrato bilionário, no dia 4 de outubro de 2017, último dia de David Almeida como governador “tampão”, cargo que assumiu com a cassação de José Melo (Pros), de quem foi líder na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam). O aliado de David Almeida foi preso por corrupção no âmbito da Operação Maus Caminhos, que investigou o desvio de R$ 100 milhões da Saúde do Estado.
Sede da Suhab no governo anterior (Divulgação)
Contrato suspenso
Após a saída de David Almeida do Governo do Amazonas e a pedido do sucessor dele, Amazonino Mendes (PDT), o juiz Ronnie Frank Torres Stone, da 1ª Vara da Fazenda Pública Estadual e de Crimes contra a Ordem Tributária, determinou a suspensão do contrato com a Ezo Soluções Interativas.
O magistrado entendeu que o contrato apresentava “inúmeras inconsistências” e concluiu que faltou transparência no processo administrativo. Ronnie Frank Torres Stone também destacou que, conforme documentação oficial da Suhab, a licitação, dispensa e inexigibilidade para a contratação sequer foram formalizadas pelo Governo do Amazonas.
A Procuradoria-Geral do Estado (PGE) apontou diversas irregularidades e fraudes no contrato e pediu a anulação. Ao longo das investigações, as autoridades descobriram que, se o “esquema” tivesse êxito, o advogado José Júlio César Corrêa, que havia sido número 2 da Suhab, também nomeado por David Almeida, ia ganhar o direito de movimentar R$ 200 milhões como “honorário” pelo sucesso do contrato bilionário.
Comissão milionária
A prova da comissão para o advogado de David Almeida foi uma procuração registrada no 2º Serviço Notarial de Betim (MG), assinada pelo dono da Ezo, Paulo Henrique Júlio Ciccarini, que concedia a Júlio César o direito de movimentar o dinheiro que sairia dos cofres públicos.
Com as constatações de irregularidades no contrato da Ezo Soluções, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-AM, com o apoio da Polícia Civil do Estado (PC-AM), realizou a “Operação Bilhete Premiado”.
Matéria do Ministério Público destaca a ‘Operação Bilhete Premiado’ contra ex-secretários de David Almeida (MP-AM)
O promotor de Justiça Reinaldo Nery revelou que a investigação encontrou indícios dos crimes de tráfico de influência, fraude e dispensa indevida de licitação na contratação da empresa.
Os alvos da operação foram os ex-diretores da Suhab na gestão de David Almeida Nilson Cardoso, Leandro Spener e José Júlio César. Segundo o MP-AM, as investigações chegaram à conclusão de eles agiram para a contratação ilícita da Ezo.
A Ezo recorreu da decisão e tentou, em instâncias superiores, restabelecer os termos do contrato para ter direito a ativos de R$ 5 bilhões – que, à época, correspondiam a um terço do orçamento do Estado. O contrato foi julgado totalmente ilegal no fim de 2017.
Veja a repercussão do escândalo envolvendo a empresa Ezo Soluções e David Almeida:
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.