De esgoto a água limpa: tratamento sanitário devolve vida a igarapé em Manaus
Por: Marcela Leiros
30 de outubro de 2025
MANAUS (AM) – Em Manaus, cidade considerada a maior metrópole da Amazônia, o que um dia foi esgoto doméstico, hoje pode voltar à natureza quase tão limpo quanto a água dos igarapés e rios. É assim em 132 Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) da Águas de Manaus na capital amazonense, e uma delas já contribui para a recuperação de um leito d’água: a ETE Timbiras, na Zona Norte da capital amazonense, cujo esgoto tratado é lançado no Igarapé do Goiabinha, um braço do Igarapé do Mindu.
A ETE Timbiras é considerada uma das maiores estações da cidade. E unidade recebe, diariamente, 50 litros de esgoto por segundo das redes coletoras da região do bairro da Cidade Nova e de bairros vizinhos, apesar de ter capacidade para receber 230 litros por segundo. São cerca de 60 mil pessoas beneficiadas atualmente, mas a estrutura tem capacidade para atender até 100 mil moradores, caso todas as ligações domiciliares sejam efetivadas.

A coordenadora de Tratamento de Esgoto da Águas de Manaus, Tannia Mattos, explica que apesar de nem todos os moradores se conectarem à rede de esgoto, o sucesso para a universalização do sistema de tratamento de esgoto precisa do trabalho em conjunto entre a população e a concessionária.
“Nem todo mundo se conecta à rede de esgoto. A concessionária faz a sua parte, que é a implantação da rede. Fazemos o trabalho de comunicação social, da importância da conexão. Mas, a gente entende que isso é um trabalho em conjunto. As pessoas precisam entender da importância de se conectar [à rede de esgoto]”, afirma.
O tratamento tem início na coleta do pelas tubulações levando o material ao pré-tratamento, onde são retirados os primeiros resíduos. Em seguida, o esgoto é bombeado por uma elevatória até a entrada principal da estação, onde passa novamente por uma triagem e retirada de lixo como preservativos, lenços umedecidos e fio dental.

Após isso, o esgoto segue para as Plantas Preliminares de Tratamento (PTPs), responsáveis por retirar sólidos mais finos, como areia. O próximo passo é o envio para as lagoas de tratamento, sendo seis no total: quatro de aeração, onde ocorre o processo biológico realizado por micro-organismos que degradam a matéria orgânica, e duas de decantação, onde os sólidos mais pesados se depositam no fundo, deixando o efluente mais limpo na superfície.
Por fim, o esgoto tratado passa pelo processo de desinfecção, com hipoclorito de sódio (12%) ou tricloro, antes de ser lançado no Igarapé do Goiabinha, em condições 90% adequadas para o meio ambiente. “E, daqui, a gente lança isso para o nosso igarapé, que é o igarapé do Goiabinha, onde a gente consegue, através das análises, comprovar que o meu tratamento, que a gente faz hoje aqui, consegue melhorar o corpo hídrico“, explica Tannia Mattos.
O esgoto demora, em média, 24h para passar por todo processo de tratamento e ser devolvido para a natureza, em padrões estabelecidos pelo Resolução 430/2011 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que fornece regras para o lançamento de efluentes em corpos d’água receptores.

Destino final: Igarapé do Goiabinha
O Igarapé do Goiabinha é um afluente do Igarapé do Mindu, principal tributário pertencente à Bacia do São Raimundo. O corpo hídrico, hoje poluído, integra a bacia que leva o mesmo nome, situada nas zonas administrativas Norte e Centro-Sul. A bacia compreende 48 conjuntos, localizados nos bairros Cidade Nova, Novo Aleixo, Flores e Parque 10 de Novembro, ocupando uma área de 1.324,59 hectares.

Com essa extensão, o Igarapé do Goiabinha sofre com a pressão pelas atividades no seu entorno, como ocupações irregulares com a construção de moradias, que resulta na retirada das árvores e a “limpeza” de terreno, agravando problemas de alagamento; presença de muito lixo às margens do rio; e despejo irregular de esgoto no corpo hídrico.
O assunto motivou ação civil pública, movida pelo Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM), que trata do plano de reurbanização do Igarapé do Goiabinha. Segundo o órgão fiscalizador, no último dia 23 de outubro, o MP obteve decisão favorável, da Vara Especializada do Meio Ambiente (Vema), determinando que Estado do Amazonas apresente, no prazo de 30 dias, um diagnóstico socioambiental completo e detalhado da área de intervenção.
Após a entrega do estudo, os autos deverão retornar à Justiça para a análise de um pedido de audiência pública.
Universalização do tratamento de esgoto
Dados relacionados ao saneamento básico na capital amazonense, divulgados em julho deste ano — relacionados a 2023 —, apontam que a capital amazonense figurou entre os 20 piores municípios do País, ocupando a 87ª posição entre 100. A coleta de esgoto ficou em 28,46% e o tratamento atinge 22,31% da das residências. As perdas de água por ligação chegaram a 704,92 litros por dia, valor quase três vezes superior à meta considerada aceitável.
Diante desse cenário, a concessionária busca reverter os baixos índices de cobertura e melhorar a qualidade do saneamento na capital. Para isso, desenvolve projetos e investimentos voltados à ampliação da rede e ao incentivo à conexão dos moradores. O objetivo é garantir que um número cada vez maior de residências tenha acesso ao sistema de esgoto e contribuam para a melhoria das condições de saúde e meio ambiente em Manaus.
“Hoje, a gente já vem trabalhando para fazer a universalização do saneamento da cidade, principalmente do esgoto, temos uma meta de cobertura. Atualmente, estamos com 34% de cobertura, mas a nossa meta, até 2033, é de 90%. O nosso projeto, que é o Trata Bem, ele visa exatamente isso. O trabalho de, realmente, universalizar a cidade de Manaus para que a gente consiga chegar até 2033 com 90%“, explica Tannia Mattos.
A ampliação no número de ETEs para aumentar cada vez mais a capacidade de coleta e tratamento de esgoto pela Água de Manaus faz parte desse projeto. Em outubro deste ano, foi inaugurada a primeira etapa da ETE Raiz, na Zona Sul de Manaus.

No primeiro módulo, a estação terá capacidade para tratar mais de 230 milhões de litros de esgoto por mês, beneficiando diretamente mais de 50 mil pessoas e contribuindo para a recuperação ambiental do Igarapé do 40, um dos principais corpos hídricos da cidade. Com uma área total de 9,6 mil m², a ETE Raiz será uma das maiores estações de tratamento de esgoto da região Norte, ao lado das ETEs Educandos e Timbiras.
Na capital amazonense, a ETE Educandos, na Zona Sul, é a maior da cidade. A estação atende aos bairros da Zona Sul de Manaus, beneficiando mais de 192 mil pessoas, com capacidade para tratar 300 litros de esgoto por segundo. A estação beneficia mais de 192 mil pessoas, operando, atualmente, com 60% da capacidade. São quatro tanques de aeração e dois tanques de decantação. O esgoto tratado é lançado no Rio Negro.

Por fim, Tannia Mattos destacou a importância da conscientização da população para que o saneamento básico avance de forma efetiva na capital. Segundo ela, o tema envolve quatro pilares — drenagem, resíduos sólidos, água e esgoto —, sendo que apenas os dois últimos são de responsabilidade direta da concessionária.
Mattos reforçou que o descarte inadequado de lixo é um dos principais problemas que afetam os igarapés e o sistema de drenagem da cidade, e que somente com o engajamento coletivo será possível reduzir o acúmulo de resíduos e melhorar as condições ambientais.
“A concessionária é responsável pelas duas, água e esgoto. Mas, o resíduo sólido precisa também ser um ponto importante para a conscientização. Então, se as pessoas entenderem que o certo de jogar o lixo é no lixo e não na rua, nos igarapés, que assim como a gente vê, como você está vendo aqui, chega aqui todo quanto é tipo de resíduo que eu sei que pessoas que jogam nos igarapés ou ali mesmo na calçada que quando chove acaba carregando e vem para cá. Então, é um trabalho realmente em conjunto“, concluiu.