De forma inédita, Censo 2022 vai coletar dados sobre comunidades quilombolas no Brasil

O Censo 2022 será realizado de agosto a outubro (Edilson Dantas/Agência O Globo)

Priscilla Peixoto — Da Revista Cenarium

MANAUS — A partir deste ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai incluir nas estatísticas do Censo informações sobre a realidade das comunidades quilombolas. É a primeira vez que o recenseamento, normalmente feito de dez em dez anos, trará um recorte exclusivo referente à população tradicional considerando dados como questões econômicas, pertencimento étnico baseados em dados como autodeclarações, além de características demográficas, sociais e populacionais, conforme material divulgado pelo Portal Alma Preta. Vale ressaltar que o Censo contribui como ferramenta, disponibilizando dados para o governo federal distribuir os recursos dos Fundos de Participação de Estados e Municípios.

De acordo com a responsável técnica pelo projeto de povos e comunidades tradicionais do IBGE, Marta Antunes, o desafio é poder chegar em territórios para que o Censo seja realizado sem deixar ninguém para trás. Além disso, todo o processo de avaliação e aprimoramento tem sido realizado com a participação de representantes quilombolas.

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“No momento atual de planejamento do Censo demográfico 2022 nas localidades quilombolas, o desafio é sensibilizar essas lideranças de todo o País sobre a importância do Censo, para elas ajudarem o IBGE a chegar em seus territórios e realizar o Censo demográfico sem deixar ninguém para trás. Para isso, apresentar a todas as lideranças a metodologia do Censo e criar uma rede de troca permanente entre as equipes estaduais do IBGE e as lideranças quilombolas de cada Estado é essencial para o sucesso do Censo”, declarou Marta em entrevista ao Alma Preta.

Reunião entre integrantes das comunidades quilombolas e profissionais do IBGE (Reprodução/ Conaq)

Avanço

Para a professora e moradora da comunidade do Quilombo Urbano do Barranco de São Benedito, Rafaela Silva, localizado no bairro Praça 14, zona Sul de Manaus, a iniciativa pode ser considerada um avanço, pois o levantamento auxilia as comunidades a saírem da invisibilidade além de servirem como respaldo para os quilombolas em relação às terras habitadas por eles.

“Isso serve até mesmo de respaldo para a maioria das comunidades, porque até então as terras dos quilombolas não existem nem para Fundação Cultural Palmares, tanto que há muita reivindicação engavetada em ralação às terras dos quilombos rurais e de alguns urbanos”, atenta Rafaela, que chama atenção para as políticas públicas e chamada cartografia social, que são importantes para o levantamento de dados no País.

“Não esqueçamos da cartografia social que, inclusive, há um trabalho feito e coordenado pelo professor Alfredo Wagner da Universidade Estadual do Amazonas, que também trabalha esse levantamento de dados dentro das comunidades existentes do Amazonas e até outros Estados do Brasil como o Maranhão. Então, a partir do momento que há essas iniciativas, a gente pode ter certeza do avanço, uma vez que temos tantas terras nossas invadidas por grileiros e pessoas que de alguma forma querem nos tirar a terra”, pontua Rafaela.

Alinhamento

Conforme informações da Fundação Palmares, atualmente há uma média de 3 mil comunidades quilombolas no País, em contrapartida, o IBGE aliado a Conaq, acreditam que a soma chega a quase 6 mil comunidades. Ainda segundo informações do Portal Alma Preta, na leitura do coordenador executivo da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq) Antônio João Mendes, a inclusão dos povos nos estudos, ajuda a combater o racismo estrutural e alinha as informações desencontradas quanto ao número real das comunidades existentes.

“Enfrentamos muitas dificuldades, pois o racismo estruturado nas instituições governamentais não deixava o diálogo fluir. Sabemos que a invisibilidade dessa população cumpre um papel importante na marginalidade do nosso povo ao acesso ao direito a viver de forma digna nos nossos territórios (…) Nunca houve uma preocupação institucional em qualificar as informações sobre a população quilombola. A discrepância nas informações demonstra que não aconteceu uma política pública que atendesse toda essa população”, afirma Mendes, que acredita na possibilidade de novas políticas públicas desenvolvidas a partir das informações qualificadas colhidas pelo Censo.

Método

O Censo 2022 será realizado de agosto a outubro, os recenseadores irão cobrir as áreas de povos e comunidades tradicionais passarão por treinamento para atender e compreender melhor os conceitos existentes.

Em cumprimento das normas sanitárias estabelecidas pelos órgãos de saúde, os agentes do IBGE atuarão com distanciamento de 1,5 metro dos entrevistados e os questionamentos serão feitos fora das residências para proteger os quilombolas de possíveis contaminações causadas pela Covid-19 entre outras doenças.

Ao todo, serão 5.972 localidades quilombolas do Brasil incluindo Territórios Quilombolas oficialmente delimitados, agrupamentos quilombolas e outros lugares que devem ser mapeados.

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