Declarações de Ratinho sobre COP30 reacendem debate fundiário no Acre
Por: Fabyo Cruz
17 de junho de 2025
BELÉM (PA) – As declarações do apresentador Carlos Roberto Massa, o Ratinho, sobre a realização da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA), reacenderam polêmicas envolvendo seu nome. Nas redes sociais, internautas resgataram trechos de um dossiê publicado em 2023 pelo observatório De Olho nos Ruralistas que aponta a sobreposição de duas fazendas ligadas ao comunicador em terras indígenas no Acre.
Os imóveis, segundo o relatório, estão registrados em nome da Agropecuária RGM, uma sociedade entre Ratinho e seus filhos, e se sobrepõem à Terra Indígena Kaxinawá da Praia do Carapanã, regularizada desde 2001.

O documento intitulado “Os Invasores: parlamentares e seus financiadores possuem fazendas sobrepostas a Terras Indígenas” foi elaborado a partir do cruzamento de dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O relatório cita dezenas de políticos e financiadores com propriedades incidentes em áreas oficialmente reconhecidas como territórios originários. No caso de Ratinho, o dossiê detalha que as fazendas no município de Tarauacá foram adquiridas em 2002 junto à Companhia Paranaense de Colonização Agropecuária e Industrial do Acre (Paranacre), empresa citada como promotora de grilagem fundiária na região.

A sobreposição atinge 13,82 hectares da TI Kaxinawá da Praia do Carapanã. Além da invasão territorial, o observatório relata um histórico de conflitos entre o apresentador e comunidades indígenas vizinhas, como os povos Yawanawá, que resistem a tentativas de implementação de projetos de exploração de madeira na região.

Ratinho Júnior
O dossiê do De Olho nos Ruralistas também menciona a atuação de Ratinho Júnior (PSD), atual governador do Paraná, em temas ligados ao agronegócio e à regularização fundiária. Entre os episódios citados estão ações de despejo em assentamentos rurais promovidas durante seu primeiro mandato e o uso de sistemas públicos para o envio de mensagens eleitorais em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o que resultou em notícia-crime.

O relatório ainda aponta ligações da família com outros atores políticos e empresários envolvidos em disputas fundiárias. Um dos citados é o sojeiro Celso Frare, preso ao lado do ex-governador Beto Richa (PSDB), que possui propriedades sobrepostas a terras indígenas no Mato Grosso do Sul. Outro nome mencionado é o ex-deputado José Carlos Martinez, fundador da emissora CNT, onde Ratinho iniciou sua carreira na TV.
Críticas à COP30
As declarações de Ratinho à COP30, feitas durante seu programa na Rádio Massa FM, geraram forte reação de ativistas, lideranças da Amazônia e comunicadores locais. No programa, ele questionou os investimentos públicos voltados à conferência climática, afirmando que os recursos seriam mais bem aplicados em infraestrutura e ações sociais. “Qual a necessidade de nós fazermos essa COP30, gastarmos bilhões em Belém do Pará, num lugar onde falta comida para a população?”, declarou o apresentador.
Diante da repercussão negativa, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), respondeu às declarações de Ratinho com um convite para que o comunicador conheça de perto a cidade de Belém e a realidade da Amazônia.
A reação ocorreu após o governador ser questionado pela CENARIUM, em 5 de junho, sobre as falas do apresentador. A resposta de Ratinho veio em vídeo publicado nas redes sociais no dia 13 de junho. Apesar do tom mais conciliador, ele reiterou as declarações, defendendo menos gastos com “festa” e mais investimentos em moradia e saneamento.
