Demanda bilionária de vacina contra Covid-19 pode gerar desequilíbrio para imunização global

O Canadá, por exemplo, encomendou nove vezes o número de vacina por cada habitante (Reprodução/ Internet)

Caroline Viegas – Da Revista Cenarium*

PAÍSES BAIXOS – Países ricos como Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido encomendaram 3,9 bilhões de vacinas contra Covid-19, o que significa muito mais do que o necessário para sua própria população. O ocorrido gerou muitas críticas visto que o recurso pode ser escasso para países em desenvolvimento. “As vacinas devem ser distribuídas de forma justa e não ser motivo para mais desigualdade no mundo”, disse o chefe da Organização Mundial de Saúde (OMS), Adhanom Ghebreyesus.

Conforme o órgão, que tem demonstrado grande insatisfação com a notícia, já era esperado que haveria uma barreira em relação aos países ainda em desenvolvimento. Portanto, em abril deste ano, foi criada a Covax, uma organização que quer acesso igualitário às vacinas para todo o mundo. Ainda assim, teve país que encomendou nove doses de vacinas por habitante, quando é necessário apenas duas para a proteção.

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“A ideia era que todos os países comprariam vacinas por meio da Covax, mas rapidamente ficou claro que os países ricos não planejavam fazer isso e fariam seus próprios negócios”, afirmou a médica e pesquisadora do University Medical Center em Groningen, Ellen ‘T Hoen. No entanto, para a profissional, os investimentos do Ocidente também foram essencias pois certamente contribuiu para a velocidade com que as primeiras vacinas estão agora no mercado.

Arrecadação e vacinação

A OMS arrecadou quase dois bilhões de euros até agora para a imunização, dos quais 500 milhões de euros veio da União Europeia. Até então, dois bilhões de doses de vacinas foram compradas para países não ocidentais, conforme afirmado pela organização na última sexta-feira, 18. Os habitantes mais vulneráveis ​​desses países devem ser vacinados em seis meses e 20% de toda a população até o final do ano.

Já nos países mais ricos, a situação é diferente. A União Europeia, por exemplo, já encomendou 1,5 bilhões de vacinas para 500 milhões de habitantes. O Canadá está no topo com cerca de 360 ​​milhões de doses para pouco menos de 38 milhões de habitantes, o que significa nove doses por pessoa. Veja o número de doses de vacinas pedidas por habitante em cada país:

O Canadá solicitou sete vezes mais doses de vacinas que o necessário para a proteção contra o Covid-19 (Reprodução/ Internet)

Entre a cruz e a espada

Os contratos que a União Europeia celebrou com as empresas farmacêuticas estabelecem que os países também podem doar as vacinas adquiridas. Ainda assim, críticos avaliam ser quase improvável que isso aconteça com as primeiras cargas, sendo mais possível quando houver vacinas restantes no final do ano.

Os chamados países de renda média estão agora caindo entre a cruz e a espada. A África do Sul, por exemplo, não é elegível para receber vacinas subsidiadas, mas também não tem recursos para fazer negócios em grande escala com as próprias empresas farmacêuticas.

Solução

Segundo ‘T Hoen, que também é conselheira de organizações internacionais e governos no campo da legislação e política médica, a solução está nas empresas farmacêuticas, que devem compartilhar conhecimentos sobre o desenvolvimento de vacinas. “Assim, elas podem ser produzidas em maior escala e no mercado a preços baixos”, afirmou a médica.

Por este motivo, foi criado o COVID-19 Technology Access Pool (C-TAP), que assumiu o compromisso de compartilhar voluntariamente conhecimento, propriedade intelectual e dados relacionados à tecnologia de saúde COVID-19. No entanto, ainda não há nenhuma empresa farmacêutica participante.

Para ‘T Hoen, os governos ocidentais deveriam desempenhar um papel nisso. “Precisamente porque os produtos farmacêuticos são financiados com dinheiro público, os governos podem exigir que eles compartilhem sua propriedade intelectual”, finalizou.

(*) Com informações do Nederlandse Omroep Stichting

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