Deputada do Pará diz que sofria com insultos e ameaças de Wladimir Costa há seis meses
19 de abril de 2024
Renilce Nicodemos denunciou Wladimir Costa à Polícia Federal (Composição: Weslley Santos/Revista Cenarium)
Raisa de Araújo – Da Revista Cenarium
BELÉM (PA) – A deputada federal Renilce Nicodemos (MDB-PA) se manifestou, nessa quinta-feira, 18, sobre a prisão de Wladimir Costa, conhecido como Wlad, por violência política de gênero contra ela. Em nota, a parlamentar afirmou que é vítima de vários crimes cometidos pelo ex-deputado federal há meses.
“Há seis meses, venho sendo vítima de toda sorte de crimes por parte do cidadão acima mencionado, motivo pelo qual decidimos defender na Justiça o direito a minha honra, intimidade, condição de mulher e deputada federal do Pará, eleita com 162.208 votos“, declarou.
A deputada denunciou o caso à Justiça Eleitoral, o que resultou na instauração de inquérito pela Polícia Federal e na prisão de Wladimir Costa. Por fim, na nota, agradeceu pela solidariedade e disse acreditar na justiça.
“Aproveito o ensejo para agradecer o trabalho, em que sempre confiei, da Justiça Eleitoral e da Polícia Federal, assim como a todos que foram sempre sensíveis com a nossa causa e nos prestaram total apoio e solidariedade. Seja por meio de mensagens ou pessoalmente, durante minhas andanças por todo o Pará“, concluiu.
Wladimir Costa foi preso pela Polícia Federal na manhã dessa quinta-feira, no Aeroporto Internacional de Belém, no Pará, acusado de crimes eleitorais. Ele foi abordado ao desembarcar na capital paraense e encaminhado ao sistema prisional do Estado.
Wladimir Costa foi preso pela Polícia Federal em avião (Reprodução)
De acordo com a polícia, a prisão ocorreu devido a acusações de proferir insultos e ameaças contra a deputada federal Renilce Nicodemos, incluindo a divulgação de músicas e faixas ofensivas, além de incitar seus seguidores a agredi-la, caracterizando violência política contra a mulher.
O Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE-PA) também determinou a exclusão das postagens em redes sociais, que motivaram o mandado de prisão. As postagens frequentes e ofensivas de Wladimir nas redes sociais resultaram no deferimento, por parte do juiz, do pedido de bloqueio dos perfis e exclusão das publicações.
A empresa Meta, responsável pelas plataformas Instagram e Facebook, foi obrigada a remover os perfis de Wladimir e todas as suas publicações, conforme estabelecido na ordem judicial.
A violência política de gênero é tipificada por pela Lei Federal 14.192, de 2021. Esse tipo de violência abrange assédio, constrangimento, humilhação, perseguição e ameaças contra candidatos a cargos eletivos ou mulheres com mandatos.
De acordo com a cientista política Karol Cavalcante, embora a violência política aumente durante as eleições, não se limita a esse período. Muitas vezes, é manifestada de forma sutil, no cotidiano político.
“O caso envolvendo a deputada é um caso de violência de gênero que era praticada repetidas vezes. É importante a gente ressaltar que debates políticos fazem parte do jogo democrático, mas, a partir do momento que você usa a vida íntima de uma parlamentar para constrangê-la, para humilhá-la, isso é caracterizado como um crime, um crime de violência política de gênero, que precisa ser combatido“, explica.
Para a cientista política, esse tipo de violência política de gênero é uma das causas que afastam as mulheres da política e por isso precisa ser recorrentemente combatida. “Este evento representa um marco na luta contra a violência política de gênero, destacando a intolerância à misoginia e ao machismo que inibem as mulheres parlamentares“, complementa.
Perda de mandato
O ex-deputado Wladimir Costa ficou conhecido por fazer uma tatuagem falsa em homenagem ao ex-presidente Michel Temer no ombro. Acima do nome do presidente, aparecia uma bandeira do Brasil.
Costa também se destacou durante as sessões de votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara, quando estourou um rojão de confetes durante seu discurso alegando que o governo do PT dava “um tiro de morte” no coração do povo brasileiro.
O deputado Wladimir Costa e sua tatuagem (Divulgação)
Ele foi condenado em dezembro de 2017, por unanimidade, no Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE-PA) por abuso de poder econômico e gastos ilícitos na campanha eleitoral de 2014. A decisão determinou a cassação do mandato, além de torná-lo inelegível por oito anos.
Em uma dessas abordagens sobre a tatuagem com o nome de Temer, Wlad foi acusado de assédio após uma repórter perguntar se era definitiva, e ele responder que para ela, só mostrava se fosse “o corpo inteiro“. O caso foi levado ao Conselho de Ética da Câmara, acusado de falta de decoro, mas acabou arquivado.
Em outro episódio, durante as articulações para barrar o avanço das investigações sobre a denúncia que pesava contra o ex-deputado por corrupção passiva, e que havia chegado à Câmara dos Deputados, Wladimir Costa foi flagrado, dentro do plenário e durante a votação, trocando mensagens com uma mulher em que pedia para ela “mostrar a bunda“, com a justificativa de que “não são suas profissões que a destacam como mulher“.
O ex-deputado ainda foi condenado por ofensas contra os artistas Wagner Moura, Letícia Sabatella, Sônia Braga, Glóra Pires e o marido dela, Orlando de Morais, em janeiro de 2023, por ofensas ocorreram em julho de 2017.
Na época, Wlad disse que os artistas eram “vagabundos” pelo uso dos fundos da Lei Rouanet. No discurso, falou que Wagner Moura era um “ladrão” e trocou o nome de Letícia Sabatella por “Letícia Mortadela”. Em uma rede social, Wlad se manifestou sobre a condenação: “Não retiro nenhuma vírgula do que falei“.
Editado por Marcela Leiros Revisado por Gustavo Gilona
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