Deputados do AM ignoram PL que torna pedofilia crime hediondo, mas votam urgência contra pesquisas eleitorais


21 de outubro de 2022
Deputados do AM ignoram PL que torna pedofilia crime hediondo, mas votam urgência contra pesquisas eleitorais
Os deputados federais Silas Câmara (à esq) e Delegado Pablo (Arte: Mateus Moura/Revista Cenarium)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – Os deputados federais do Amazonas Delegado Pablo (União) e Silas Câmara (Republicanos) votaram contrários à apreciação urgente do Projeto de Lei (PL) 1776/15, que classifica a pedofilia como crime hediondo, solicitada pela bancada do PT nessa quarta-feira, 19, durante sessão do Plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília.

O projeto é de autoria de Paulo Freire (antigo PR/SP) e de Clarissa Garotinho (União/RJ), aliados do governo federal, e tramita na Casa Legislativa desde 2015. O PL consta na pauta do Plenário desde maio, mas até o momento não foi apreciado. Na votação, a proposta foi recusada por 224 deputados, enquanto 135 eram favoráveis a priorizar a urgência do projeto.

No Amazonas, os deputados favoráveis à apreciação com urgência do PL 1776/15 foram: deputado Bosco Saraiva (Solidariedade), Capitão Alberto Neto (PL), José Ricardo (PT), Marcelo Ramos (PSD) e o deputado Sidney Leite (PSD).

Após negar a solicitação da deputada Luizianne Lins (PT-CE), os deputados federais aprovaram a Medida Provisória (MP) 1127, que limita o reajuste das taxas de ocupação dos terrenos da União, e o PL 2796/21, que define o marco legal para a indústria de jogos eletrônicos.

“É um absurdo que a gente feche os ouvidos e os olhos para o comportamento do presidente da República. Jair Bolsonaro está com indício de pedofilia na sua prática e a gente precisa dizer isso em alto e bom som”, disse Luizianne, ao pedir urgência na votação do projeto.

Pesquisas

No dia anterior à votação da PL da pedofilia, no dia 18, os mesmos deputados que representam o Amazonas que votaram contra a apreciação do PL votaram a favor da urgência do projeto de lei que visa criminalizar os institutos de pesquisas eleitorais quando os resultados das urnas forem diferentes das projeções realizadas. O PL 96, de 2011, é de autoria do deputado Rubens Bueno, e foi aprovado por 295 votos a 120, com apenas uma abstenção.

Estimulada pelo discurso do presidente Bolsonaro contra os institutos de pesquisa, a maioria governista no AM aprovou a urgência do PL, sendo eles o Capitão Alberto Neto (PL), Delegado Pablo (União) e o deputado Silas Câmara (Republicanos). Os demais foram contrários à urgência do texto.

Na visão do especialista, os deputados desconhecem os ritos que envolvem as pesquisas eleitorais. Cobrar que elas sejam 100% acertadas com o resultado das urnas é uma “quimera“. “É uma coisa impossível, é quimérico, uma coisa é uma utopia, outra coisa é uma quimera. Criminalizar pesquisas eleitorais, por conta dos erros e tendências, é uma coisa que não vai acontecer, por que como que a pessoa vai medir e fiscalizar a materialidade da produção dessas pesquisas? Como ele vai medir o que é correto? Porque se ele souber o que é correto e o que é errado, então eu não preciso de instituto de pesquisa“, ressalta.

Para o especialista, os erros e equívocos que ocorrem nas pesquisas eleitorais são provenientes do seu objeto de pesquisa: a humanidade. “O equívoco, a irracionalidade e os erros fazem parte das características elementais do processo eleitoral. Eu acho que não podem ser afastados esses quesitos. São elementos fundamentais. Eu sou contra e acho que isso não vai prosperar e só vai ocupar o aparato legislativo com algo que não vai surgir efeito“, diz.

Vai só mesmo distrair a população, como fala Noam Chomsky, para distrair a população, eles criam esses meios para enganar e disfarçar situações mais importantes e prioritárias“, avalia o especialista.

Interesses

Desde o último dia 15, um vídeo onde o presidente da República e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), fala que “pintou o clima” com garotas de 14 e 15 anos refugiadas circula pela internet e tem causado repúdio em parlamentares, principalmente de oposição. A bancada do PT, por meio da deputada Luizianne, lembrou no discurso a fala do presidente.

Leia mais: Após Bolsonaro declarar que havia ‘pintado um clima’ com menina de 14 anos, PGR é acionada para investigar caso

Na visão do professor universitário, antropólogo, escritor e jornalista Paulo Queiroz, a hediondez da pedofilia é uma pauta óbvia e de grande relevância para a sociedade, mas que não deve ser usada como aparato para fins eleitoreiros.

“A matéria da pedofilia tem que ser realmente considerada um crime hediondo, concordo plenamente, mas a sua apreciação de urgência não deve acontecer apenas para satisfazer os desejos e ímpetos partidários do PT. Tem que haver ponderação, moderação e sobretudo equilíbrio e racionalidade na votação dessa matéria, que deve sim se encaminhar para a hediondez”, afirma.

O especialista acredita que, independente dos lados, a pedofilia é um tema execrável e deve ser rechaçada. “Um candidato mandatário à reeleição de um país plural, não pode ser tratado dessa maneira, quando o sujeito fala que ‘pintou o clima’, é uma frase absolutamente infeliz, que deveria surtir os efeitos como perda de votos”, diz.

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