Com informações do InfoGlobo
RIO — O desemprego voltou a cair no País, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta terça-feira, 28. A taxa recuou para 12,1% no trimestre encerrado em outubro, mas ainda há 12,9 milhões de pessoas em busca de trabalho. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad).
O resultado veio melhor que o projetado pelo mercado, que era de 12,3%, segundo a Bloomberg. Com isso, a XP espera uma taxa de desocupação em 11,8% no final do ano, e a Genial estima uma variação levemente mais positiva, de 11,7%. No trimestre encerrado em julho, que serve de comparação, o índice era de 13,7%. E, em setembro, a taxa era de 12,6%.
Segundo o IBGE, a queda está relacionada ao crescimento da ocupação. No entanto, as vagas que vêm sendo preenchidas são de baixos salários, o que levou à queda generalizada da renda. O chamado rendimento real habitual caiu 4,6% e chegou a R$ 2.449 em outubro, ante o trimestre imediatamente anterior. Na comparação com o mesmo trimestre de 2020, a queda foi de 11,1%.
“Embora o trabalho com carteira esteja aumentando, também está com rendimento menor, seja no trimestre ou no ano. A recuperação é quantitativa, mas não qualitativa”, explica a coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy.
Ela alerta também para a questão inflacionária: em termos nominais, a massa de rendimento tem até crescimento no trimestre e no ano, mas quando atualizamos para massa real tem queda. Podemos dizer que parte da perda do rendimento está associada à inflação.
Níveis pré-pandemia
O aumento no número de ocupados ocorreu em seis dos dez grupos de atividades, como comércio, indústria e serviços de alojamento e alimentação, segundo o IBGE. Desta vez, houve avanço do trabalho com carteira assinada com mais força.
Nos setores de Agricultura, Construção e Informação, a população ocupada já ultrapassa os níveis pré-pandemia. Para Adriana Beringuy, o resultado demonstra a continuidade de um processo de recuperação do mercado de trabalho, que vem ocorrendo desde julho.
“Do aumento de 3,3 milhões de pessoas na ocupação, 40% são trabalhadores com carteira assinada no setor privado. Embora o emprego com carteira no setor privado ainda esteja em um nível abaixo do que era antes da pandemia, vem traçando uma trajetória de crescimento”, explica.
Ela ressalta como fatores para a recuperação da população ocupa o processo da vacinação, que permitiu tanto a movimentação da economia, principalmente o comércio, quanto melhores condições para que os trabalhadores por conta própria voltassem a exercer suas atividades.
“Em 2021, a redução da desocupação veio muito sustentada pelo trabalho por conta própria, mas nos últimos meses a gente também observa uma expansão do emprego de carteira assinada”, aponta.
Nível de ocupação aumenta
Com esse crescimento, o nível de ocupação, que é o percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar, subiu para 54,6%, o maior desde o trimestre encerrado em abril do ano passado, início da pandemia.
Mesmo com o crescimento do trabalho formal, a informalidade também avança e puxa a renda do trabalhador para baixo. Já a massa de rendimento foi de R$ 225 bilhões e permaneceu estável frente aos dois trimestres.
“Isso acontece porque o rendimento do trabalhador tem sido cada vez menor, seja porque a expansão do trabalho ocorre em ocupações de menor rendimento, seja pelo avanço da inflação nos últimos meses” diz a coordenadora.
Os resultados da pesquisa levam em conta a reponderação realizada na Pnad Contínua. O IBGE adotou novo método de ponderação para a pesquisa, revisando toda a série histórica, iniciada em 2012.
O objetivo foi mitigar os impactos da coleta por telefone, no ano passado, por conta da pandemia de Covid-19. A Pnad passa a considerar os totais populacionais por sexo e grupo etário com projeções populacionais baseadas em dados do Censo 2010.
Ano que vem preocupa
Apesar do mercado projetar um desempenho melhor para o mercado de trabalho neste ano, as expectativas para 2022 não são tão otimistas. Estrategista-chefe do Modalmais, Felipe Sichel explica que, em geral, a taxa de desocupação acompanha o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que representa a geração de riqueza do País.
Para 2021, o mercado espera um PIB de 4,51%, de acordo com o Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira. No entanto, para o ano que vem, é esperado um crescimento de apenas 0,42%, próximo da estabilidade, o que pode ter reflexos na criação de vagas.
“Em amplos termos, ter um PIB menor significa ter menos renda efetivamente, e uma taxa de desemprego maior. Se você produz mais, a economia está mais rica, e isso significa que os recursos serão mais distribuídos”, aponta Sichel.