Designer nortista prepara coleção sobre 23 povos indígenas para ‘Brasil Eco Fashion Week’

Pela primeira vez, as peças do indígena Siodohi Piratapuya estarão expostas em um dos eventos mais importantes da moda no Brasil e no mundo (Divulgação/@jess.photos.br/Instagram)

Bruno Pacheco – Da Cenarium

MANAUS – O amazonense designer de moda, Sioduhi Piratapuya, de 25 anos, da etnia Piratapuya, está preparando uma nova coleção de roupas sobre resistência milenar dos 23 povos indígenas do Alto Rio Negro, no interior do Estado, para lançar em setembro deste ano. Pela primeira vez, as peças do designer de moda devem ser exibidas no Brasil Eco Fashion Week 2021, um dos eventos mais importantes da moda no Brasil e no mundo, previsto para acontecer no mesmo mês.

Por conta da pandemia, a 5ª edição nacional do BEFW será online e ocorrerá entre os dias 24 a 30 de setembro, com um evento simultâneo na capital europeia da moda, Milão, nos dias 23 e 25/09. Para arrecadar recursos para a nova coleção da marca Piratapuya, chamada “Pamɨri 23”, com roupas e vestuários criados e desenhados pelo indígena, Sioduhi lançou neste sábado, 14, em São Paulo, a campanha de financiamento coletivo “Cápsula da Resistência e Transformação“.

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“A campanha se chama Cápsula da Resistência e Transformação por, justamente, estar interligada com o nome da coleção que é Pam+Ri 23, que fala da resistência dos 23 povos indígenas do Alto Rio Negro [no Amazonas]. E esse financiamento vem com a necessidade de produzir material audiovisual para esta coleção”, contou à CENARIUM o designer de moda fundador e criativo da Piratapuya.

Sioduhi é o fundador e criativo da marca Piratapuya (Divulgação/@diafreixo/Instagram)

O jovem, que mora em São Paulo, onde a sede da loja está localizada, é natural da comunidade indígena de São Francisco de Sales (Mariwá), no Médio Waupés, no Alto Rio Negro, região do município de São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros de Manaus). Desde 2020, em meio à pandemia do novo coronavírus, o indígena vem trabalhando com a agência Piratapuya, cuja primeira coleção, chamada “Dabucurí”, foi lançada em novembro do ano passado.

Neste sábado, 14, o Siudohi Piratapuya destacou à CENARIUM que, diante da dificuldade imposta pela pandemia em captar verba para produção audiovisual e para melhorar a funcionalidade do e-commerce da Piratapuya, a ação busca produzir fotos e vídeos executados com uma equipe formada, exclusivamente, por profissionais indígenas, com o objetivo de impulsionar o lançamento da coleção.

“E queremos contratá-los no valor justo, conforme o mercado. Não adianta a gente pautar a questão de mudança estrutural, contratação de profissionais indígenas, se a gente não remunerá-los da forma correta. Diante disso, houve a necessidade de criação desse financiamento, que vai ajudar a impulsionar imageticamente, visualmente a coleção que está saindo”, comentou Sioduhi.

O financiamento foi lançado neste sábado com o apoio do Coletivo Indígenas Moda BR, com a meta de arrecadar o valor mínimo de R$ 7,5 mil e máximo de R$ 12,5 mil. A campanha se encerrará no dia 20 de setembro deste ano, segundo o designer de moda amazonense. Os apoiadores da coleção receberão recompensas como cartões-postais, máscara e kit de adesivo, moletom e camisa indígena, de acordo com o valor doado.

Significado

Pamɨri significa “transformar, fermentar” e é um recorte do termo “Pamiri Mahasã”, tradução ocidental de “pessoas de transformação”. A língua representa a cultura de todos os povos indígenas do Alto Rio Negro, nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, região conhecida também como “Cabeça do Cachorro”. Segundo Sioduhi Piratapuya, a coleção se inspira nas essências naturais que acompanham as diversas entidades indígenas e a cápsula destaca esse espaço ancestral.

A marca de moda genuinamente indígena Piratapuya vai lançar sua segunda coleção: a Cápsula Pamɨri 23 (Reprodução)

“O Pamɨri 23 refere-se aos 23 povos originários do Alto Rio Negro que fará todo o processo de dessacralização de nomes antropológicos. É uma mensagem importante de forma muito contemporânea. Nós estamos, a princípio, trabalhando com recortes de alfaiataria, sportswear e utilitarismo, onde todas são ‘agêneros’, ou seja, sem gênero, que é um DNA da Piratapuya”, detalhou Sioduhi.

A marca utiliza palhetas de cores que remetem a pinturas originárias do Alto Rio Negro e faz referência a artesanatos também da região, como o jenipapo, o crajiru e o arumã. “Cores que são importantes e que vão estar compondo a coleção”, pontuou o indígena.

Coletivo

O Coletivo Indígenas Moda BR, idealizado pela estilista Day Molina, atua na indústria criativa da moda e é composto por diversos profissionais da área, desde estilistas, fotógrafos, figurinistas, modelos e produtores audiovisuais. Um dos cofundadores do grupo, Sioduhi Piratapuya, salienta que o coletivo surgiu com o intuito de questionar a presença indígena dentro da indústria da moda e potencializar talentos de todos os povos tradicionais.

“Esses profissionais que estão dentro desse coletivo são indígenas de todo o Brasil, de diferentes povos, e é uma plataforma que está completando um ano agora. Iremos ampliar mais ainda o coletivo, pretendemos fazer isso para, justamente, potencializar”, pontuou Sioduhi.

Para o criador da Piratapuya, a indústria da moda se apropriou da cultura dos povos originários e se tornou elitista e eurocentralizada e, com o nascimento do coletivo, a meta é colaborar para mudança estrutural e dar visibilidade para indígenas.

“A indústria da moda já se apropriou bastante. Há muitos não indígenas falando por nós e a gente vê como algo que ‘não está certo’, porque estamos atuando na moda com muita dificuldade e sabemos muito bem que a indústria da moda é elitista e eurocentralizada, e a gente vem com esse questionamento para colaborar com essa mudança estrutural que queremos que aconteça”, finalizou Sioduhi.

Para apoiar o financiamento coletivo e ajudar a presença indígena no mundo da moda, basta acessar o https://benfeitoria.com/capsuladaresistenciaedatransformacao e fazer uma doação.

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