Com informações do Infoglobo
MANAUS — Uma nova fronteira de destruição da floresta se instalou no Estado do Amazonas, onde foram assassinados o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira. Em maio passado, o Estado foi o que mais desmatou a Floresta Amazônia, com a supressão de 1.476 km² de mata nativa – o equivalente a 38% da destruição ocorrida no último mês e 44% do acumulado este ano. Os dados do Sistema de Alerta de Desmatamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), divulgados nesta sexta-feira, 17, mostram que a Amazônia perdeu em apenas cinco meses, de janeiro a maio, mais de 2 mil campos de futebol por dia de mata nativa.
Foi o pior resultado em 15 anos. A área de floresta derrubada atingiu 3.360 km² em 151 dias, de janeiro a maio, três vezes maior do que a Belém, capital do Pará.
“Temos uma nova fronteira de desmatamento no Amazonas que já se consolidou. Começamos a detectar o problema nesta área do Sul do Amazonas há dois anos e agora ficou claro que não é mais um movimento incipiente”, diz o coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia do Imazon, Carlos Souza Jr.
O Arco do Desmatamento na Amazônia avançou nos anos 2010, numa área de 500 mil km² de floresta que abrange o leste e sul do Pará e avança para o Oeste do Estado, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre. A segunda etapa alcançou o Oeste paraense, na região conhecida como Terra do Meio. Agora, atinge o Amazonas.
“Essa nova região se descola do Arco do Desmatamento. É uma terceira nova fronteira que avança em ritmo acelerado para abrir espaço ao agronegócio”, afirma Souza Jr.
O pesquisador lembra que o Amazonas é um Estado que ainda abriga área significativa de floresta e inúmeros povos indígenas e estoque de biodiversidade. O potencial, afirma, é enorme para se desenvolver a bioeconomia, com instalação de polos de tecnologia da informação, capazes de usar a floresta com inteligência.
Sem que haja um novo plano de desenvolvimento, com o abandono da área a invasores e criminosos, a destruição da floresta avança e deixa rastro de sangue.
“Quando o desmatamento se instala o conflito e a violência já aconteceu. É um movimento invisível para os satélites. É o que está ocorrendo no Vale do Javari, onde a pressão vem do garimpo feito com balsas, no leito dos rios, da pesca e da caça ilegais”, diz ele.
O pesquisador alerta que o desmatamento pode aumentar ainda mais nos próximos meses e bater novos recordes. Além do cenário de desproteção da floresta, segundo ele, a seca e as eleições devem agravar a situação.
Maio foi o primeiro mês do período de seca na região, período em que o desmatamento aumenta ainda mais. O ‘verão amazônico’ termina apenas entre setembro e outubro. Além disso, as eleições devem contribuir para o aumento da devastação, pois as fiscalizações diminuem ainda mais.
A Amazônia legal é composta por nove Estados. Se comparado a maio do ano anterior, o desmatamento no Amazonas mais que dobrou – a alta foi de 109%.
O município de Apuí foi o que mais desmatou no mês passado, com 214 km² de mata nativa destruída, o que representa 39% do total do Estado. Outros três municípios do Amazonas aparecem entre os 10 que mais desmataram em maio: Lábrea, Novo Aripuanã e Manicoré.
Para o pesquisador, é possível ao Brasil não repetir o esquema de destruição e ocupação pelo agronegócio que ocorreu nos Estados do Mato Grosso, Pará e Rondônia.